Me livre!
Neide, ou simplesmente, Cineide Marques de Santana desconheceu os
privilégios daqueles que tem posses. Quis o destino que fosse hoje, dia
primeiro de maio, a morte dessa trabalhadora. Nunca mais vai queimar as suas mãos com o óleo da cozinha abafada
do bar onde trabalhava.
O canto é triste. Há pesar e muita dor no peito de Santos, dos
filhos de Santos e principalmente no peito dos filhos de Neide e Roberto, meus
irmãos: Paulinha e Thiago.
Andava meio cansada...
Pensava vez por outra em alugar ou mesmo vender seu bar, por que, quem sabe, havia chegado a hora de descansar um pouco e ver os netos
crescerem?! (Tenho certeza que depois desse papo ela acenderia um Derby suave
só para aliviar as tensões da vida carregada de poucos suspiros profundos,
poucas noites bem dormidas, poucas regalias mas, de muito amigos e
admiradores, inclusive quem escreve.)
Seu forte era como bem dizia, “fazer uma letra”.
Tive o prazer de dançar várias vezes com ela.
deslizava no chão.
chegava a voar!
deslizava no chão.
chegava a voar!
Fluía feito água ela;
escorrendo pelo salão!
Sei lá, "eu num sei narrar essas coisas direito",
Enfim...
“Para de olhar para os pés e deixa a dança fluir”, “mái bibiu!”
Talvez ela dissesse isso ao ouvir essa minha choradeira em tom de
homenagem e emendaria com um “passa o pano!”, chamaria-me desse jeito para contar a mais nova fofoca do céu, e num tom jocoso diria: “aqui no
céu é legal, falta só um pouco mais de alegria... cheguei aqui faz hoje 15 dias
e só botaram Roberto Carlos pra tocar”.
“ME LIVRE!”.
“ME LIVRE!”.
Por: Ricardo Santana.
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