Os sete pecados das capitais [Medo] VII

15.7.13 Cabotino 0 Comentarios



Medo

                Estava no 4shared fuçando alguns arquivos pornográficos para download, até que encontrou uma pasta zipada que lhe intrigou, intitulada: Angélica18.rar. Fez o download do arquivo, depois a “dizipou” e encontrou algumas fotografias de uma linda jovem loira, cabelos longos, nariz aquilino que descia harmoniosamente de sua geométrica testa, olhos castanhos claros (just like honey), pele branca com algumas sardas no rosto e em sua espádua, seios rijos e circunferências como uns mamões Hawai. As fotos em várias poses – com biquínis e óculos escuros na praia; pedalando em grandes cisnes de plásticos em uma bela lagoa; comendo batata frita com Coca-Cola em uma praça de alimentação; poses defronte ao espelho com seu smartphone na mão etc.
                As fotografias o surpreenderam, ao longo dos seus dezenove anos repletos de hormônios e demônios, nunca tinha visto uma menina tão linda. Foi amor à primeira vista e revista. Seu corpo crivado de bytes e testosterona foi chacoalhado por aquela beldade em código binário e corpo em silício.
                Não teve dúvidas, resolveu entrar em um relacionamento sério com Ela no Facebook, criou um perfil para Ela chamado: Bárbara Amélia. Gostou do som da pronúncia dos dois nomes próprios. Criou também álbuns de fotografia para Ela, intercalando, claro, algumas fotos suas. Deu nome as preferências Dela, livros, estilos musicais, filmes, programas de TV, seriados etc. Postava links de vídeos do Youtube, memes de Fan Pages humorísticas. Enfim, deu vida a sua garota.
                Para aumentar o grau afetivo do seu relacionamento, abria a conta de sua namorada através do computador de sua irmã e também fazia o login da sua conta através do seu PC. Com as duas contas abertas simultaneamente, estabelecia conversas de toda a sorte, diálogos sobre os links postados, curtidas em fotografias dele e Dela, declarações de amor com coraçõezinhos e “s2”.
                Tudo ia neste ritmo amável de recém-enamorados – as delícias lúdicas dos corações entrecruzados via Wi-Fi –. O relacionamento tomou outra proporção quando ele começou a adicionar outras pessoas ao perfil de Bárbara Amélia. Começou a travar contato com outros caras que viviam “cutucando”, elogiando as fotos com os seus: “linda!... Show de bola!... Perfeita!...” sem contar as infinidades de curtidas para cada post seu, qualquer um que fosse. De repente, se deparou com uma atenção que nunca havia recebido antes, em canto nenhum.
                Já não mais logava-se com a sua conta, agora só tinha tempo e interesse a de Amélia. Em uma madruga, adicionou um carinha moreno, cabelos dreadlocks, um típico reggae style soteropolitano com uma conversa que misturava astrologia com jargões de literatura de Auto Ajuda, intercalado com tiradas descoladas de filmes de comédia Blockbuster e telenovelas. Começou a se corresponder com ele todas as noites, poemas vão, cantadas vem, piadas e declarações de amor também. Decidiu no dia seguinte, após uma conversa reveladora que atravessou a madrugada com o seu “regueiro”, modificar o seu perfil para: solteira.
                 
                

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