Crônica de despedida
Chegamos
aos lugares tentando nos abrir para experiências novas; partimos dos lugares
aceitando que a mudança é necessária. De tudo isso nós já sabemos, de tanto ser
dito virou clichê. Porém, entre ouvir falar em tudo isso e sentir esse processo
em detalhes há um espaço e tanto.
Há pouco
mais de três anos fui lecionar para turmas de ensino médio numa pequena cidade.
Cheguei mal humorado, agressivo, intolerante; fui, como a maioria dos nossos
mestres, rancoroso por causa da forma como nós professores somos tratados pela
sociedade. É com o correr do tempo que sentimos os detalhes do que nos cerca. O
correr do tempo é mais que o simplesmente olhar pra trás e contar os dias; é necessário sentir cada pequeno instante acontecendo, percebendo o que ele tem de
bom ou ruim para nos oferecer. E com esse processo constante e incansável vamos
moldando-nos, moldando os outros, moldando os ambientes e permitindo a
recíproca, num processo tão detalhado quanto quase que totalmente
imperceptível; o invisível que move, move, move... Aprende-se assim a amar e odiar as mesmas pessoas e situações e assim saímos dessa dicotomia para uma
etapa bem além: compreender o outro; quando o outro percebe isso tenta lhe dar
o mesmo em troca. Assim, olhamos mais para os olhos e menos para os
estereótipos.
Saí ontem
da escola em que estava. Tenho agora uma tristeza que não vai me matar, mas que
incomoda um bocado. Estou triste por ter visto aqueles rostos chorando e
aquelas vozes dizendo que sentirão saudades. Eu também sentirei saudades. Eu já
sinto saudades. Aqui entra minha surpresa: como posso ser o mesmo que há pouco
mais de três anos chegou naquele lugar? Como posso ter mudado tanto? Ou melhor,
como posso ter chegado com tanta raiva se nem conhecia ninguém ou nada de lá? Viver
com os outros nos faz refletir. O outro nos faz mudar. Nossa relação com o
outro alimenta nossa relação conosco.
Castanha 04/05/2013
Boa sorte nessa caminhada, meu chapa.abraço!
ResponderExcluirAdorei sua crônica meu velho. Profunda e realmente reflete o coração de um educador!
ResponderExcluirGrato, camaradas.
ResponderExcluirSei um pouco do processo do reconhecimento consigo! Os "minino" (como dizias)fazem parte do homem de agora!
ResponderExcluirLindo, Castanha, lindo!
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