Causos 34: O abraço

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Eu era bem pequeno, criancinha mesmo, quando via Salviano abraçar Carmelita. Salviano era caminhoneiro passava uns tantos dias viajando e uns outros poucos em casa.  Salviano era pra lá de bem humorado, ainda é mesmo hoje, vinte e poucos anos depois, mas naquele momento, do abraço, não sobrava espaço pro humor. Quando ele voltava das viagens trazia para o lar a alegria de quem desmancha as distâncias. Esta, a sensação de alegria, era imediatamente seguida pela lembrança de que a presença tem data marcada para acabar e que isto será quando em poucos dias chegar a data da próxima viagem. Finalmente chegava a próxima partida trazendo a tristeza. Eles, Salviano e Carmelita, sabiam que aquilo, a distância, não ia durar para sempre, mas essa certeza não tornava a tristeza menos triste. Nos dias que tinham, aproveitavam: Se amavam se beijavam se olhavam, sorriam um para o outro, pois não há nada mais ansioso que a consciência que avisa que a alegria tem data para acabar. Tudo isso, essa energia toda, era passada naquele abraço de despedida: Longo, silencioso, carinhoso, apertada, soltando um feitiço que tocava tudo ao redor. Um abraço como aquele não pôde passar despercebido... Não passou despercebido.     

Castanha 05/05/2013

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