Crônica de despedida

4.5.13 Castanha 5 Comentarios



Chegamos aos lugares tentando nos abrir para experiências novas; partimos dos lugares aceitando que a mudança é necessária. De tudo isso nós já sabemos, de tanto ser dito virou clichê. Porém, entre ouvir falar em tudo isso e sentir esse processo em detalhes há um espaço e tanto.
Há pouco mais de três anos fui lecionar para turmas de ensino médio numa pequena cidade. Cheguei mal humorado, agressivo, intolerante; fui, como a maioria dos nossos mestres, rancoroso por causa da forma como nós professores somos tratados pela sociedade. É com o correr do tempo que sentimos os detalhes do que nos cerca. O correr do tempo é mais que o simplesmente olhar pra trás e contar os dias; é necessário sentir cada pequeno instante acontecendo, percebendo o que ele tem de bom ou ruim para nos oferecer. E com esse processo constante e incansável vamos moldando-nos, moldando os outros, moldando os ambientes e permitindo a recíproca, num processo tão detalhado quanto quase que totalmente imperceptível; o invisível que move, move, move... Aprende-se assim a amar e odiar as mesmas pessoas e situações e assim saímos dessa dicotomia para uma etapa bem além: compreender o outro; quando o outro percebe isso tenta lhe dar o mesmo em troca. Assim, olhamos mais para os olhos e menos para os estereótipos.
Saí ontem da escola em que estava. Tenho agora uma tristeza que não vai me matar, mas que incomoda um bocado. Estou triste por ter visto aqueles rostos chorando e aquelas vozes dizendo que sentirão saudades. Eu também sentirei saudades. Eu já sinto saudades. Aqui entra minha surpresa: como posso ser o mesmo que há pouco mais de três anos chegou naquele lugar? Como posso ter mudado tanto? Ou melhor, como posso ter chegado com tanta raiva se nem conhecia ninguém ou nada de lá? Viver com os outros nos faz refletir. O outro nos faz mudar. Nossa relação com o outro alimenta nossa relação conosco.      

Castanha 04/05/2013

5 comentários:

  1. Boa sorte nessa caminhada, meu chapa.abraço!

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  2. Adorei sua crônica meu velho. Profunda e realmente reflete o coração de um educador!

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  3. Sei um pouco do processo do reconhecimento consigo! Os "minino" (como dizias)fazem parte do homem de agora!

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