Um instante bem pequeno: Começo, fim e pós...

17.10.11 Castanha 2 Comentarios


O sujeito é ateu, ateu fervoroso, herança dos tempos do partido comunista e dos livros de filosofia que lia na adolescência. Sai de casa apressado, está atrasado, e pondo o primeiro pé fora do terraço escuta “Quem você acha que governa o mundo?”; era um desses tantos evangélicos que estão por aí pregando pra todo mundo, pra Deus e pro Diabo. O sujeito tinha saído de casa meio destrambelhado, já transpirando por causa da correria e topa com aquele sujeito de terno e gravata com tom arrogante de quem conhece a verdade, porém disfarçado por uma breve e falsa humildade. O sujeito olhou para o evangélico e, curto e grosso, mandou “Meu amigo eu não acredito em Deus e estou atrasado, o senhor não me leve a mal, mas não tenho tempo nem quero conversar”. Duas evangélicas que estavam pregando pra seus vizinhos olharam pra ele; os vizinhos também olharam pra ele; todos espremidos nas pequenas portas das pequenas casas em torno do pequeno pátio. O evangélico puxou um pequeno papel do bolso, um desses que traz mensagens religiosas e ofereceu pra ele, ele não recebeu “É melhor dar pra outra pessoa, eu não vou ler e vou jogar no lixo” disse, e mais “Vou indo” e saiu. Tinha se exposto à vizinhança; não que sua opinião fosse novidade, mas é sempre chato. Tinha se exposto aos evangélicos; isso também não é problema, mas seria melhor se não tivesse topado com aquelas figuras. Tinha ouvido aquela pergunta que pra ele é sem pé nem cabeça e tem mil respostas; não era a primeira vez, mas sem tê-la ouvindo de novo estaria melhor. Saindo do pátio sente que é seguido por muitos olhares. Caminha pela estreita e comprida passagem que leva à rua e já no final escuta “Quem você acha que governa o mundo?”, outro ouvinte era interrogado e a voz do interrogador persegue nosso amigo, personagem real desta crônica, até quando ele está bem perto da rua... Depois, me contando essa história, ele mesmo se ria de tudo. O pequeno instante acaba como começou.
Castanha 17/10/2011

2 comentários:

  1. Será que aquele outro, que foi também questionado, teria a mesma reação!? Fica dúvida e a certeza de que nada é tão cansativo quanto a sinceridade, mas por vezes é preciso tê-la, ao custo de de uma gastrite ou coisa que o valha ;)

    Rico Santana

    ResponderExcluir
  2. Camarada, veja pelo lado bom: depois sua resposta, curta e grossa, dificilmente você voltará a ser alvo desse sujeito. Nem dele, nem dos outros assistiram tudo.

    ResponderExcluir