Duas mãos na multidão

26.10.11 Castanha 4 Comentarios


Na entrada da Ponte de Ferro. S, parou para observar o vendedor de antenas VHF, que com uma desenvoltura de um sermão da montanha vendia o seu “peixe” através dos olhos atentos dos expectadores que viam as maravilhas proporcionadas pela melhoria da imagem oriunda da antena, que convertia os transeuntes em telespectadores encantados pelos raios catódicos mais límpidos que as águas do Capibaribe sob seus pés. S, parou para ver também a novidade, pegou uma embalagem do produto e perguntou quanto custava, ao saber, continuo seu trânsito trôpego e sôfrego através do democrático sol que fustigava as moleiras.
A Ponte de Ferro era um arco-íris de novidades fixas e ambulantes, óculos escuros, cintos, celulares e chips, controles de TV, DVD, cadeados, miçangas e etc. depois de desembocar dessa esteira de ferro e concreto, “Ponte da Amizade” de uma cidade madrasta. S, chega a Rua da Imperatriz Teresa Cristina, colorida como o seu nome nobiliárquico que gestou o buço rosado de Joaquin Nabuco.
A rua da Imperatriz era um caldeirão étnico de cartões de crédito, vendedores de guloseimas, lanchonetes, lojas, panfletos entregues de mão em mão, ofertas de crediário e etc. S, ao ver todo esse frisson, deu um sorriso discreto e continuo o seu passo até uma multidão que se encontrava aglomerada diante de um grande balaio onde os vendedores de uma loja de calçado jogava de instante em instante sapatos de todo o tipo, como se estivesse dando algum tipo de ração. S, correu abrindo caminho em meio a multidão de braços que se acotovelavam para garimpar a sua perita em forma de alpargata, cujo imperativo categórico era a placa que dizia: 50% de desconto. S, não titubeou e saiu também à procura de seu sapato, como se fosse a Cinderela da Imperatriz.
Aquela altura os odores expelidos pelas axilas dos braços açoitados pelo sol de 33º era como se fosse o mercúrio dessa Serra Pelada do consumo, mas, S. era irredutível em busca do seu sapato, uma luta braçal em meio a multidão de braços, fez com que ele encontrasse um, depois de rodar o tabuleiro achou o seu par, era um par de tênis branco, um Adidas. Uma vez só com o seu achado. S, olhou pra ele e em seguida o arremessou de volta ao tabuleiro, depois seguiu o seu itinerário pela Imperatriz.

Por: Ascensorista Godofredo

4 comentários:

  1. As multidões de Recife (Hellcife) são um problema: elas não tem rosto, mas tem personalidade: uma personalidade rinheta.

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  2. e lá se vai mais um cinderela da imperatrize.
    O próximo itinerário, provavelmente seria o "passeio" entre tabuleiros que daria por fim, no fiteiro onde ainda vende água mineral em copos. Entre a praça Maciel Pinheiro, cuja dona tod@s veem mais ninguém sabe seu nome: uma senhora toda colorida embaixo de sua casa, um guarda chuva, e o lugar onde se carregam os passes da estudantada recifense,a central de processamento e comercialização de crédito eletrônico, cuja a sigla, ironicamente, chama-se, VEM.

    Rico Santana

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  3. A Saga de S, saga tão comum aos Recifenses.

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