Conjugando verbos e vidas

12.8.16 Foi Hoje! 0 Comentarios


Em acorde aumentado, assim como as relações que em nada se reduzem.

Se tenho certeza de alguma coisa, essa coisa são os constantes acréscimos.

Em conversa informal com uma amiga demos atenção aos verbos que estruturavam nossas relações. 

Em meio a risadas, confissões, suor, vinho seco, chocolate meio amargo... músicas. Eu nem preciso dizer no que acabou essa história.

Jogo de contradições. Conceptismos. Barroco. Cientificismos. Água dura e pedra mole, tanto fura até que bate.

“Eu que não fumo queria um cigarro eu que amo você / envelheci 10 anos ou mais nesse último mês” ... apenas acréscimos. Pouco importa o quanto envelheceu, importa que envelheceu.

Mas nossa relação – a minha com a Flor – não é estruturada por contradições, até que elas existem. O mais importante são os acréscimos, que às vezes aparecem nos decréscimos. Na fleuma que aparece nos verbos. Nos verbos contraditórios de nossa relação estão os acréscimos ... tais como:

Sair, verbo intransitivo. 

Não precisa de complemento. Expressa vontade e movimento. Quem sai, quem fica. E tu, tens vontade de mudar? Quem te convida a sair é complemento de teu verbo intransitivo.

Quem te convida – por hora indeterminado – é que tem vontade de ser completado pelos teus movimentos. 

Quem é o sujeito indeterminado, que, vez por outra te acompanha ocultamente?

Implicitamente e indeterminadamente. No infinitivo pessoal ... vamos sair?

O convite foi aceito. “Foi bonita a festa pa, fiquei contente”... O riso frouxo escorregava entre os lábios. 

O 01 foi o ponto alto do dia 01/07. 

Trinta e poucos dias se passaram e outro verbo passou a estruturar nossas vidas:

Ater-se.

Aquela festa era tua... Aquele jeito era seu... A risada era da tua piada... Aquele beijo era seu... Hoje consigo transformar o desdito em sorriso, em saudade, em querer bem... Só o que consome é a vontade de te ter do lado, ao lado do teu bem... O que corrói é ver teu querer guardado...

No teu olhar, naufrágio. No teu sorrir, aguado. E no corpo ferrugem. Estancar, despontar, não querer, esquecer, mudar de endereço! Mas como a natureza tem horror a vácuo e tudo preenche com alguma coisa, eis que mais um verbo passou a equalizar a relação... verbo no gerúndio... que o leitor conjuga como bem apraz...

Verbo é sinônimo de Vida. Só entendemos quando se acaba.

E a música de fundo tem verbo no passado e vem no tom menor...
I put a spell on you, because you’re mine” [eu enfeiticei você, porque você é minha].


Eugène Atget: Avenue des Gobelins, Paris, 1925.

por João Berimbau 

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