Conjugando verbos e vidas
Em
acorde aumentado, assim como as relações que em nada se reduzem.
Se
tenho certeza de alguma coisa, essa coisa são os constantes acréscimos.
Em
conversa informal com uma amiga demos atenção aos verbos que estruturavam
nossas relações.
Em
meio a risadas, confissões, suor, vinho seco, chocolate meio amargo... músicas.
Eu nem preciso dizer no que acabou essa história.
Jogo
de contradições. Conceptismos. Barroco. Cientificismos. Água dura e pedra mole,
tanto fura até que bate.
“Eu que não fumo queria um cigarro eu
que amo você / envelheci 10 anos ou mais nesse último mês” ...
apenas acréscimos. Pouco importa o quanto envelheceu, importa que envelheceu.
Mas
nossa relação – a minha com a Flor – não é estruturada por contradições, até
que elas existem. O mais importante são os acréscimos, que às vezes aparecem
nos decréscimos. Na fleuma que aparece nos verbos. Nos verbos contraditórios de
nossa relação estão os acréscimos ... tais como:
Sair, verbo intransitivo.
Não
precisa de complemento. Expressa vontade e movimento. Quem
sai, quem fica. E tu, tens vontade de mudar? Quem
te convida a sair é complemento de teu verbo intransitivo.
Quem
te convida – por hora indeterminado – é que tem vontade de ser completado pelos
teus movimentos.
Quem
é o sujeito indeterminado, que, vez por outra te acompanha ocultamente?
Implicitamente
e indeterminadamente. No infinitivo pessoal ... vamos sair?
O
convite foi aceito. “Foi bonita a festa
pa, fiquei contente”... O riso frouxo escorregava entre os lábios.
O 01
foi o ponto alto do dia 01/07.
Trinta
e poucos dias se passaram e outro verbo passou a estruturar nossas vidas:
Ater-se.
Aquela
festa era tua... Aquele jeito era seu... A
risada era da tua piada... Aquele
beijo era seu... Hoje
consigo transformar o desdito em sorriso, em saudade, em querer bem... Só o que
consome é a vontade de te ter do lado, ao lado do teu bem... O
que corrói é ver teu querer guardado...
No
teu olhar, naufrágio. No teu sorrir, aguado. E no corpo ferrugem. Estancar,
despontar, não querer, esquecer, mudar de endereço! Mas
como a natureza tem horror a vácuo e tudo preenche com alguma coisa, eis que
mais um verbo passou a equalizar a relação... verbo no gerúndio... que o leitor
conjuga como bem apraz...
Verbo
é sinônimo de Vida. Só
entendemos quando se acaba.
E a
música de fundo tem verbo no passado e vem no tom menor...
“I put a spell on you, because you’re mine”
[eu enfeiticei você, porque você é minha].
Eugène Atget: Avenue des Gobelins, Paris, 1925. |
por João Berimbau
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