A dureza nossa de cada dia
Meses! Sete, oito, talvez nove meses, meses de dívidas que
não me deixam sair do vermelho no orçamento doméstico. Aperta aqui e ali
também, e logo mais outro aperto, e então tudo começa de novo, igual ou pior
que antes. Tenho pensado muito nisso tudo: Pra que diabos eu trabalho? Eu odeio
trabalho! Eu odeio ter obrigações, sempre odiei! Quando eu era bem criancinha,
com oito ou nove aninhos, eu já detestava as obrigações que as professoras me
passavam na escolinha: fazer exercícios neste ou naquele livro, e tudo mais.
Trabalhar é uma obrigação necessária para manter outras obrigações: aluguel,
plano de saúde, carro, cartão de crédito (que é dinheiro eletrônico)... O ciclo
está sempre fechando e lhe engolindo e você precisa ganhar mais dinheiro e logo
em seguida um pouco mais e depois ainda mais. É preciso fazer coisas prazerosas
para manter a alma viva: comer bem, beber bem, embriagar-se, fazer sexo,
viajar... Mas para isso é preciso seguir as regras do jogo, porém, seguindo as
regras do jogo não sobra fôlego (nem dinheiro) para as coisas prazerosas que
estimularam a dureza inicial. Sendo assim dia após dia o tempo vai escorrendo,
levando com ele as forças e a alegria para colocar no lugar as rugas e o
cansaço. O que sobra é a esperança de que coisas melhores venham, mas essa
expectativa muitas vezes é tão frouxa quanto nossa capacidade de reação frente
à vida indo embora, irreversível.
Castanha 01/12/2014
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