Notas de verão sobre impressões de primavera [São Paulo] III
Artes
Tenho a forte impressão
que São Paulo é aquele primo rico, ao qual, infelizmente, não tenho. Mas,
podemos ver o poder de irradiação de uma figura como esta na literatura, no
cinema e nas histórias de vida que nos são transmitidas. É, aquele primo rico
que tem tanto dinheiro que não sabe o que fazer com ele. Mora em uma casa que
mal conhece todos os cômodos. Enche a casa com obras de arte, artesanatos e, às
vezes, erra a mão comprando coisas desnecessárias, kitsch como um pinguim sobre
uma geladeira. Um parvernu ávido por
atingir um status social que muitas
vezes foge à frugalidade que exige o bom-tom na escolha dos objetos que
decorarão sua casa. Desculpem-me se abusei da comparação, mas foi esta a
sensação que tive, em grande medida, sobre os museus, galerias, mostras,
exposições e outros equipamentos culturais que pululam na Pauliceia
Desvairada.
Museu da Língua Portuguesa
Cheguei à Estação da Luz
por volta das dez da manhã do dia 11 de novembro de 2014 vindo da Consolação.
Fazia um sol camusniano, porém não tinha nenhum ímpeto de meter uma bala em um
árabe, como fizera o anti-herói do escritor franco-argelino, Alberto Camus em
uma praia de Argel, na novela O
estrangeiro. Pois, o sol de São Paulo, na ocasião, não fustigava meu corpo
e minha consciência naquelas imediações do Bom Retiro.
Era uma terça feira e para
minha grata surpresa ganhei um ticket gratuito para conferir o acervo do Museu
da Língua Portuguesa[1]. E, para não
dizer que não falei das flores, com o ingresso gratuito naquela terça feira,
descobri a razão de tantos ônibus estacionados defronte à Estação da Luz: “o
brasileiro não perde uma boquinha”. Percebi logo de início que minha visita ao
Museu seria compartilhada com uma infinidade de turistas incautos à procura de
cultura para indexar suas experiências em fotografias com o intuito de,
registrá-las em uma rede social qualquer para ampliar seus currículos
narcisistas. Antes tivesse a companhia desta fauna humana muito estranha, os
turistas. A referida companhia foi mais ensandecida. Conto-a em seguida.
Deixei minha mochila no
guarda volume do Museu, só teria acesso ao mesmo após esta medida “profilática”.
Pensei: “será que há peças que caibam nesta minha?”.
Tomei o elevador do
estabelecimento, costumo prestigiar exposições de cima para baixo, pois sou
preguiçoso e é melhor descer lances de escadas do que subi-las. O ascensorista
disse-me que o primeiro andar, o das exposições temporárias, estava sem nenhuma
atração e do terceiro andar começaria a partir das 11h30. Tive que saltar no
segundo andar e qual não foi a minha surpresa com o pavilhão todo escuro
margeado por vários telões em full hd contando
a história da língua portuguesa em suas diversas manifestações: música, religião,
danças, culinária, costumes etc. A monumentalidade do espaço e o apreço da
curadoria me deixaram, de início, estarrecido. Me senti um morador de Uganda.
Minha fruição no espaço só não foi maior por conta dos ruidosos secundaristas
que tomaram as dependências do Museu de assalto com seus smartphones de última geração
e com os hormônios e os demônios inerentes à idade.
Tenho uma paciência bovina
para certas ocasiões, e o contanto com o simbólico é uma delas, esperei os
secundaristas dispersarem e fui fluir e fruir nas diversas atrações que o Museu
dispõe, também, entre os curadores que assinaram o projeto estão Alfredo Bosi,
Arthur Nestrovski, José Miguel Wisnik e outros, ou seja, coisa boa iria surgir
apesar dos arroubos chauvinistas no terceiro pavimento – quem paga a orquestra
escolhe a música.
No terceiro andar, há uma
sala de cinema em que projeta-se um vídeo de 15 minutos narrado por Maria
Bethânia onde transcorre-se, resumidamente, a história da Língua Portuguesa.
Após a exibição, o projetor cede lugar a um fundo falso que dá acesso a uma
sala que mais parece um observatório lunar. A sala é equipada com dois telões
onde são projetados trechos de textos, poemas narrados por seus autores ou
musicados por terceiros, entre eles: Drummond, Bandeira, João Cabral, Pessoa,
Mário de Andrade, Wisnik, Guimarães Rosa, Oswald de Andrade e outros. Em meio
ao cânone da prosa e da poesia lusófona, eis que toca uma música caipira que soa
destoante das narrações anteriores de Arnaldo Antunes, Zélia Duncan entre
outros.
Saí do Museu da Língua
Portuguesa com fome, já era hora do almoço, mas saí saciado pela luz lusófona e
lembrado dos versos que Pessoa, supostamente, inspirou-se no Padre Viera:
“Minha pátria é minha língua”.
Lembrei-me que havia
algumas maçãs que peguei no café da manhã do hostel em minha mochila. Peguei-a
no guarda volume do Museu e rumei para a Pinacoteca que fica defronte à Estação
da Luz. Antes, dei uma volta no Parque da Luz [falarei dele em outra seção].
Pinacoteca
A Pinacoteca[2] de São Paulo
fica em um edifício de arquitetura barroca que contrasta com à arquitetura
inglesa do século XIX da Estação da Luz. Paguei R$ 3,00 [meia entrada] para ter
acesso ao acervo da Pinacoteca. Mais três andares de uma infinidade de obras. A
exposição especial, no momento, foi sobre os vários brasis. Logo de cara,
deparei-me com a tela, O mestiço[3]
de C. Portinari. Fui arrebatado pela obra. Os lábios grossos do motivo, junto
com compleição forte dos traços antes só conhecido em livros de arte foi, para
mim, a insurreição daquilo que Walter Benjamin chama de “áurea” na obra de arte,
que reinava no campo figurativo antes do advento da fotografia que rompeu o
último líbelo da reprodutibilidade técnica na arte pictorial.
Destacarei, entre a
profusão de obras de arte da coleção da Pinacoteca, aquelas que deixaram marcas
indeléveis em minha percepção, além da já referida obra de Portinari. Destaco: Tiradentes esquartejado[4]
de Pedro Américo, a envergadura da tela com uns 3X2 de extensão causou-me
uma forte impressão. Algumas esculturas de Rodin [já conhecia algumas por conta
de uma exposição sobre as obras do mestre francês em Recife, no início dos anos
2000]. Fui sobressaltado também por algumas telas que retratam a paisagem
brasileira no início da colonização. Mas, o que deixou-me de certa forma
intrigado, talvez o ranço sociológico da formação falou mais alto, foi a
disposição das famílias e das empresas paulistas em doarem obras para a
Pinacoteca. São Paulo, talvez seja uma das cidades do mundo em que o mecenato
privado seja mais forte.
Em um dos andares, vi
algumas incursões dos mestres brasileiros na arte do impressionismo francês na
virada do XIX para o XX, talvez uma tenha sido uma tela de Almeida Jr, não me
lembro mais. Um garoto, da rede municipal de ensino que fazia uma visita
monitorada por seu professor que o tempo inteiro registrava as imagens do seus
alunos talvez para comprovar a visita e se eximir da aula em sala. Um dos
meninos falou-me: “De longe parece uma foto”. Dei uma gargalhada para dentro por
conta da perspicácia do observador que, em sua tenra idade, revelou quase duzentos
anos de análise sobre a arte impressionista. Por fim, uma fotografia colorida de
Thomas Farkas cujo motivo era um pescador remando sua canoa, o semblante
plácido, a camisa de botão, a calça lee e um relógio de ponteiros no pulso
direito, arrebatou-me pela singela beleza, acho que o fotógrafo descendente de
húngaros nunca perdeu seu olhar “estrangeiro” sobre as coisas deste Brasil que
não conhece a si mesmo.
Sala São Paulo de Música
Saí da Pinacoteca e fui
margeando o Parque Luz até chegar à entrada do Bairro do Bom Retiro, famoso por
ter a Cracolândia em suas imediações, além de ser um bairro Judeu. Almocei uma
omelete acompanhada de feijão, arroz e salada. Acendi um cigarro e rumei para a
Sala São Paulo.
Cheguei à Estação
Pinacoteca[5] onde, no passado,
havia sido a Estação Ferroviária Sorocabana que escoava a produção de café para
Santos e, mais recentemente, tinha sido sede do DOPS durante o Golpe
Civil-Militar de 1964. O prédio transformou-se em uma extensão da Pinacoteca. Na
ocasião em que o conheci, estava havendo uma exposição sobre os presos
políticos que penaram naquele lugar. Não cheguei a ver a exposição de
fotografias talvez por estar saturado do tema, do banzo do almoço e da enorme
quantidade de pessoas tirando fotografias e espalhando um alarido contradizente
com a digestão da omelete que acabara de comer.
Segui em frente e dobrei à
direita na Estação Júlio Prestes, antes fui surpreendido pelo mau cheiro da
região que depois descobri ser oriundo da Cracolândia [falarei dela mais
tarde]. O edifício onde fica localizado a Sala São Paulo[6] é monumental.
Infelizmente não pude ter acesso as dependências da Sala por que as visitas
monitoradas do dia já haviam sido encerradas, mas de fora, já pude ter a
sensação da exuberante obra de arquitetura e pude fazer uns cálculos
imaginários de quanto se gastou na acústica daquela sala, pois a mesma fica
próximo à uma malha ferroviária. Acho que, em grande parte, foi a construção
desta sala que fez Mário Covas ser lembrado até hoje, mesmo tendo duplicado
rodovia Bandeirantes – o que fica é a contribuição ao simbólico.
Por fim, passei pelo Museu
de Arte Sacra que fica por ali nas imediações do Bom Retiro, mas não tive
vontade de visitá-lo.
Museu do Futebol
Antes de falar do museu
paulista que mais me impressionou, não por sua estrutura e pelo seu acervo, até
acanhados em relação aos da Língua Portuguesa, Masp, Pinacoteca, falarei dos
motivos do meu arrebatamento no referido espaço. Intuo o motivo de minha emoção
no Museu do Futebol[7]
pela relação atávica que estabeleço com este austero esporte inglês, de
início; e miscigenado na ginga brasileira ulteriormente. As linguagens
artísticas marinadas na racionalidade ocidental [pintura, escultura, música]
que vi nos outros museus, foi uma conquista tardia na minha vida. Uma
contribuição mais escolar. Já o futebol não, é algo de uma formação
pré-alfabetizada para mim. Antes de pirar o cocão com as telas de Van Gogh ou
com as Variações Goldenberg de Bach, eu já gritava gol de Romário.
Primeiro, o bairro do
Pacaembú é algo que destoa da paisagem da Paulista. Descemos pela Av. Angélica
e o clima muda, o bairro fica incrustado em um vale repleto de casas e ruas
arborizadas. Entrei no Museu do Futebol [R$ 3,00 meia entrada] e fui logo
recepcionado por Pelé em um telão de alta definição. O rei recepcionava os
visitantes falando em espanhol e em português.
Em seguida, sob as
arquibancadas do Estádio do Pacaembú, outro telão em que projetavam-se imagens
das torcidas organizadas dos times brasileiros e, qual não foi minha surpresa de
ver logo de cara a arquibancada da Ilha do Retiro toda amarelinha com a torcida
Jovem cantando: “O bico do beija-flor, beija-flor, beija-flor” com aquela
desinência arrastada que já evoca saudades em mim por estar há poucos dias em
um lugar cuja sintaxe era-me estranha. Um nó atravessou minha garganta, as
imagens eram do final dos anos 1990 e eu provavelmente estava na Ilha naquele
dia em que as registraram.
Entrei na sala dos “heróis
do futebol” no primeiro piso do Museu, o turbilhão de fotografias de arquivos
que contemplavam: Pixinguinha, Noel Rosa, Arthur Friedereich, Leônidas da Silva, Adhemir da
Guia, Charles Müller e outras imagens dos primórdios do nosso futebol foi a
história convertendo-se em verbo imagético para mim. Senti-me um par naquilo
tudo.
Subsequentemente, visitei
a sala do Canal 100 [o maior acervo cinematográfico do futebol brasileiro] com
um telão em que projetavam-se imagens de arquivo com o Maracanã lotado, os
dribles de Garrincha, os gols de Pelé etc, tudo isso em cinemascope em alta
definição na narração de J. Kfouri. Passei também pela sala que narra a
história das Copas do Mundo relacionando o momento histórico do Brasil em cada
mundial.
Cheguei em um sala onde há
uma série de cabines que você pode sintonizar a locução de rádio dos jogos da
seleção brasileira na história das Copas. Defronte a ela, há uma séries de
tokens em que você pode escolher o gol que marcou sua vida a partir da opinião
de vários artistas, intelectuais, jornalistas etc. Os comentários são
impagáveis, e o momento do gol é algo inenarrável. Lembro que vi os comentários
de Ruy Castro, Luis Fernando Veríssimo e Daniel Piza.
No segundo andar, há uma
sala de recreação e fazia anos que não jogava totó e fiquei lá jogando com uma
turma praticamente uns dois quartos de hora. Joguei tanto que sai com a coluna
doendo. A última vez que joguei totó não tinha essa envergadura, acho que não
tinha nem coluna ainda. Após essa regressão lúdica neste objeto que, não fazia
ideia, tinha me proporcionado tanta alegria, fui bater um pênalti e
impressionei-me com a potência do meu chute, 93 km/h e corri para o abraço! O
goleiro nem saiu na foto.
Ganhei à Praça Charles
Müller onde fica o Museu do Futebol sorrindo, nem percebi que minha visita
tinha acabado.
Parque do Ibirapuera – Pavilhão da Bienal e MAM
O Parque do Ibirapuera
parece mais as obras daquele artística plástico australiano, Ron Mueck cujas
obras são conhecidas pelos seus tamanhos hiperbólicos. O Parque é gigante e
tive que andar bastante sob uma canícula atípica na cidade nesta época do ano –
um sol de rachar esculturas. Sobre esculturas, há inúmeras delas espalhadas
pelos parques da cidade. No Parque Luz, no Campus da USP e no Ibirapuera vi
várias delas. Esculturas eminentemente modernas, do tipo do escultor suíço Max
Bill que foi o artista premiado na primeira Bienal do São Paulo, em 1951. Antes
de chegar ao Pavilhão da Bienal, passei pela Oca do Ibirapuera [onde há os
famosos espetáculos ao ar livre] e fiquei estatelado com a quantidade de
concreto para formar àquela obra. Além dela, o vão livre e insinuoso que nos
leva ao MAM e ao Pavilhão é gigante e sob ele, as pessoas andam de bike, skate
e a pé para livrarem-se do sol inclemente daquele dia.
O tema da 31ª Bienal[8] de São Paulo, Como escrever sobre coisas que não existe soou
muito abstrato para mim. Confesso, fiquei mais impressionado com o Pavilhão da
Bienal em si, que para mim já é uma obra de arte. Ele foi mais importante do
que os motivos que contemplei lá dentro. As curvas sinuosas nos vãos de rampas,
a disposição espacial, as instalações... Enfim, tudo. Para não ser chato,
chamou-me atenção a obra de um artista cearense em que ele justapunha duas
fotografias suas na varada de sua casa, a primeira, quando era criança tinha
como fundo um horizonte azul cristalino; a segunda, já homem feito, um
horizonte em concreto repleto de prédios horrorosos com suas varadas vazias e
cafonas à la Miami. Outra, foi um videoclipe de um grupo
de Rap de Istambul em que os jovens matavam um policial, e só.
Já o MAM[9] [Museu de Arte
Moderna] do Ibirapuera chamou-me mais atenção no que se refere às obras de arte
expostas. A primeira, logo na entrada, obra de uma artista em que retratava
a imigração paulista em placas com os nomes e endereços dos tais em contraste
com o nome das ruas, bairros, cidades etc, em Tupi Guarani, achei a ideia
sensacional em uma composição que tomou uma parede inteira. Outra obra que
mereceu minha pausa, na verdade, duas: uma instalação que representava uma obra
com seus ruídos oriundos de pequenas caixas de som e com objetos incompletos
dispostos pela sala. A outra, um vídeo animando mostrando um menino correndo,
só que nos o víamos sobre uma esteira de parkets de madeira, uma sensação de insegurança
tomava-nos sobre nossos pés a partir da instabilidade do próprio solo. Achei
massa a ideia. E ah! Tanto a Bienal quanto o MAM tem entradas gratuitas.
Não deu para conhecer o
MAC do Ibirapuera [tinha ido ao da USP, mas estava fechado na ocasião] já era
fim de tarde e estava exausto. Resolvi pegar um ônibus e subir a Brigadeiro
rumo à Paulista. Antes dei um rolé pelo Ibirapuera e fui tomado por uma beleza
primaveril que brotava do parque e suas mil e uma cores que entravam por minhas
retinas e arrobavam minha pele com seus odores.
Masp
Falei um pouco sobre minha
ida ao Masp[10]
em outra seção, mas não pormenorizei minha visita ao acervo do Museu de Arte de
São Paulo. Deixei minha mochila na recepção como é de praxes nos Museus
estaduais paulistas e subi os andares pelo elevador. No terceiro pavimento [é
melhor subir logo e ir descendo depois] há o acervo permanente do Museu, uma
variedade de obras de arte moderna tanto do Brasil quanto de fora. Entre os pintores:
Portinari, Anita Malfati, Cícero Dias, Van Gogh, Picasso, Monet, Renoir e outros.
Geralmente, não costumo esboçar admiração publicamente, tenho um sentimento de
reserva que talvez seja uma herança pré-colombiana ou de meus ancestrais
antropofágicos da tribo Caetés, ou, quem sabe, uma frugalidade de quem cresceu
nos becos do terceiro mundo. Porém, o acervo do Masp fez-me balbuciar um puta que o pariu.
Do primeiro Van Gogh
ninguém nunca esquece, fui tomado por um sentimento de comoção por uma tela em
que o mestre holandês retratara o pátio interno do hospital em que estava
internado, a tela chama-se: Banco de
Pedra no Asilo de Saint-Remy [O Banco de Pedra][11].
Compartilhei o sentimento de A. Artaud quando ele descreve as obras do “açougueiro
vermelho”, parece que o holandês consegue ser mais eloquente do que a própria
Natureza, tudo em Van Gogh é ebulição. Porém, a obra que mais atravessou-me foi
A canoa sobre o Epte de Claude Monet[12], eu sentei defronte à tela e fiquei olhando-a. Súbito, as águas começaram a revolverem-se
e foi como se tivesse levado um soco na cara de minha percepção. Foi algo assustador
mas ao mesmo tempo lindo – a experiência estética fazendo-se carne.
O vício sociológico fez-me
prestar atenção as doações daquelas telas para o acervo permanente do Masp,
como na Pinacoteca, havia uma sequência armorial dos sobrenomes mais pomposos
do estado paulista. Entre as inscrições: “doação dos Diários Associados”, tinha
também “doação da família Penteado”; “Matarazzo” e algumas empresas que
contribuíram com o mecenato privado na aquisição do acervo permanente do Museu
idealizado por “Chatô”. Sérgio Miceli falou um pouco sobre esta relação das
famílias nobres paulistas e seu mecenato com os artistas, em especial,
Portinari [o artista oficial tanto do Estado Varguista quanto dos Comunistas e
das famílias “quatrocentonas” paulista] que vivia a retratar os insígnes do
café no livro, Imagens negociadas [Companhia
das Letras].
Apesar dos gritos de “Fora
PT!” e “Impeachment, já!” [falei deles no texto anterior] vindos lá de fora, fiz um esforço para concentrar-me
na fruição. Desci para o primeiro andar para ver uma exposição de fotografias
sobre as cidades, chamada: “As cidades invisíveis”[13] uma referência
ao livro homônimo do escritor italiano, Ítalo Calvino. E a referência não ficou
apenas por aí, entre uma seção de fotografia e outra, havia uma citação do
escritor italiano. Com várias fotografias em que retravavam o urbano em suas
diversas facetas, da industrialização à brincadeiras de crianças. Entre os fotógrafos: Walter Carvalho, Luis Carlos Barreto, Paulo Vainer, Egberto Nogueira e outros.
Em seguida, desci para o
subsolo pelo elevador, sem querer, e pensei: "não deve haver nada aqui". Aproveitei
para ir ao banheiro e como brinde ao suposto equívoco, encontrei um achado. Uma mostra de esculturas africanas chamada: Do coração da África – Arte Iorubá[14]. Esculturas Iorubás de várias épocas, tamanhos e formas. Todas
protegidas por um vidro hermeticamente fechado. Pensei: "a África sempre ficará
nos subterrâneos como um id antropológico,
principalmente no coração financeiro da maior cidade do hemisfério sul, São
Paulo".
Luciana Brito Galeria
Por fim, fui visitar na
segunda feira dia 17 de novembro à Luciana Brito Galeria[15] que fica no
bairro da Vila Olímpia [falarei dele mais detidamente em outra seção]. Para meu
azar, a Galeria encontrava-se fechada. Mas, como havia saído da Bela Vista, não
queria perder a viagem e interfonei. Aproveitei para acentuar o sotaque
arrastado e disse: "Boa tarde, gostaria de visitar à exposição sobre Thomas
Farkas". Do outro lado ouvi: "A galeria está fechada, abrimos de terça a domingo".
Daí insiste e dando ênfase na desinência: "É que eu vim de tão longe”. Em
seguida, a responsável pela exposição abriu o portão e eu tive acesso à ela. A exposição chama-se, Thomas
Farkas: Memórias e Descobertas. Cuja curadoria é Sergio Burgi [Instituto
Moreira Salles] e João Farkas [filho do fotógrafo].
Fiquei emocionado com o
acervo do fotógrafo descendente de húngaros. de Suas fotos sobre Brasília
[algumas inéditas até então]; sobre a modernização do Rio de Janeiro a partir
da década de 1930; suas séries na Amazônia e os vídeos da Caravana Farkas. Fiquei conversando com uma das monitoras da exposição, uma mulher muito
simpática que acompanhou-em em toda a exposição mesmo sendo off o dia da Galeria. Falou-me que para
ficar à vontade e depois extrapolamos os limites da relação público x pessoal
de apoio [na terminação do sociólogo americano H. Becker] e fomos falando sobre
nossas respectivas formações etc., saí de lá com uma boa impressão e ganhei de
presentes dois catálogos, um sobre Farkas e outro sobre a cidade de São Paulo.
Ganhei à Rua Gomes de Carvalho de volta à Estação da Vila Olímpia com uma
sensação ótima, daquelas que só os amantes do simbólico compartilham quando enxergam no outro uma afinidade filial pela estética.
_____________
_____________
por Renato K. Silva - Pós-graduando em Ciências Sociais pela UFRN
[3] Disponível em: http://www.pinacoteca.org.br/pinacoteca-pt/default.aspx?mn=545&c=acervo&letra=C&cd=2343
Acesso em 04 de dez. 2014.
Acesso em 04 de dez. 2014.
[4] Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2014/11/1544763-pinacoteca-expoe-pintura-historica-de-tiradentes-esquartejado.shtml
Acesso em 04 de dez. 2014.
Acesso em 04 de dez. 2014.
[5] Disponível em: http://www.pinacoteca.org.br/pinacoteca-pt/default.aspx?mn=570&c=1035&s=0&friendly=estacao-pinacoteca
Acesso em 04 de dez. 2014.
Acesso em 04 de dez. 2014.
[11] Disponível em: http://masp.art.br/masp2010/acervo_detalheobra.php?id=281
Acesso em 04 de dez. 2014.
Acesso em 04 de dez. 2014.
[12] Disponível em: http://masp.art.br/masp2010/acervo_detalheobra.php?id=259
Acesso em 04 de dez. 2014.
Acesso em 04 de dez. 2014.
[13] Disponível em: https://www.jornaldafotografia.com.br/noticias/cidades-invisiveis-exposicao-de-fotografias-masp/
Acesso em 05 de dez. 2014.
Acesso em 05 de dez. 2014.
[14] Disponível em: http://masp.art.br/masp2010/exposicoes_integra.php?id=173&periodo_menu=cartaz
Acesso em 04 de dez. 2014.
Acesso em 04 de dez. 2014.
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