Notas de verão sobre impressões de primavera [São Paulo] III

6.12.14 Cabotino 0 Comentarios


Artes

Tenho a forte impressão que São Paulo é aquele primo rico, ao qual, infelizmente, não tenho. Mas, podemos ver o poder de irradiação de uma figura como esta na literatura, no cinema e nas histórias de vida que nos são transmitidas. É, aquele primo rico que tem tanto dinheiro que não sabe o que fazer com ele. Mora em uma casa que mal conhece todos os cômodos. Enche a casa com obras de arte, artesanatos e, às vezes, erra a mão comprando coisas desnecessárias, kitsch como um pinguim sobre uma geladeira. Um parvernu ávido por atingir um status social que muitas vezes foge à frugalidade que exige o bom-tom na escolha dos objetos que decorarão sua casa. Desculpem-me se abusei da comparação, mas foi esta a sensação que tive, em grande medida, sobre os museus, galerias, mostras, exposições e outros equipamentos culturais que pululam na Pauliceia Desvairada.

Museu da Língua Portuguesa

Cheguei à Estação da Luz por volta das dez da manhã do dia 11 de novembro de 2014 vindo da Consolação. Fazia um sol camusniano, porém não tinha nenhum ímpeto de meter uma bala em um árabe, como fizera o anti-herói do escritor franco-argelino, Alberto Camus em uma praia de Argel, na novela O estrangeiro. Pois, o sol de São Paulo, na ocasião, não fustigava meu corpo e minha consciência naquelas imediações do Bom Retiro.

Era uma terça feira e para minha grata surpresa ganhei um ticket gratuito para conferir o acervo do Museu da Língua Portuguesa[1]. E, para não dizer que não falei das flores, com o ingresso gratuito naquela terça feira, descobri a razão de tantos ônibus estacionados defronte à Estação da Luz: “o brasileiro não perde uma boquinha”. Percebi logo de início que minha visita ao Museu seria compartilhada com uma infinidade de turistas incautos à procura de cultura para indexar suas experiências em fotografias com o intuito de, registrá-las em uma rede social qualquer para ampliar seus currículos narcisistas. Antes tivesse a companhia desta fauna humana muito estranha, os turistas. A referida companhia foi mais ensandecida. Conto-a em seguida.

Deixei minha mochila no guarda volume do Museu, só teria acesso ao mesmo após esta medida “profilática”. Pensei: “será que há peças que caibam nesta minha?”.

Tomei o elevador do estabelecimento, costumo prestigiar exposições de cima para baixo, pois sou preguiçoso e é melhor descer lances de escadas do que subi-las. O ascensorista disse-me que o primeiro andar, o das exposições temporárias, estava sem nenhuma atração e do terceiro andar começaria a partir das 11h30. Tive que saltar no segundo andar e qual não foi a minha surpresa com o pavilhão todo escuro margeado por vários telões em full hd contando a história da língua portuguesa em suas diversas manifestações: música, religião, danças, culinária, costumes etc. A monumentalidade do espaço e o apreço da curadoria me deixaram, de início, estarrecido. Me senti um morador de Uganda. Minha fruição no espaço só não foi maior por conta dos ruidosos secundaristas que tomaram as dependências do Museu de assalto com seus smartphones de última geração e com os hormônios e os demônios inerentes à idade.

Tenho uma paciência bovina para certas ocasiões, e o contanto com o simbólico é uma delas, esperei os secundaristas dispersarem e fui fluir e fruir nas diversas atrações que o Museu dispõe, também, entre os curadores que assinaram o projeto estão Alfredo Bosi, Arthur Nestrovski, José Miguel Wisnik e outros, ou seja, coisa boa iria surgir apesar dos arroubos chauvinistas no terceiro pavimento – quem paga a orquestra escolhe a música.

No terceiro andar, há uma sala de cinema em que projeta-se um vídeo de 15 minutos narrado por Maria Bethânia onde transcorre-se, resumidamente, a história da Língua Portuguesa. Após a exibição, o projetor cede lugar a um fundo falso que dá acesso a uma sala que mais parece um observatório lunar. A sala é equipada com dois telões onde são projetados trechos de textos, poemas narrados por seus autores ou musicados por terceiros, entre eles: Drummond, Bandeira, João Cabral, Pessoa, Mário de Andrade, Wisnik, Guimarães Rosa, Oswald de Andrade e outros. Em meio ao cânone da prosa e da poesia lusófona, eis que toca uma música caipira que soa destoante das narrações anteriores de Arnaldo Antunes, Zélia Duncan entre outros.

Saí do Museu da Língua Portuguesa com fome, já era hora do almoço, mas saí saciado pela luz lusófona e lembrado dos versos que Pessoa, supostamente, inspirou-se no Padre Viera: “Minha pátria é minha língua”.

Lembrei-me que havia algumas maçãs que peguei no café da manhã do hostel em minha mochila. Peguei-a no guarda volume do Museu e rumei para a Pinacoteca que fica defronte à Estação da Luz. Antes, dei uma volta no Parque da Luz [falarei dele em outra seção].

Pinacoteca

A Pinacoteca[2] de São Paulo fica em um edifício de arquitetura barroca que contrasta com à arquitetura inglesa do século XIX da Estação da Luz. Paguei R$ 3,00 [meia entrada] para ter acesso ao acervo da Pinacoteca. Mais três andares de uma infinidade de obras. A exposição especial, no momento, foi sobre os vários brasis. Logo de cara, deparei-me com a tela, O mestiço[3] de C. Portinari. Fui arrebatado pela obra. Os lábios grossos do motivo, junto com compleição forte dos traços antes só conhecido em livros de arte foi, para mim, a insurreição daquilo que Walter Benjamin chama de “áurea” na obra de arte, que reinava no campo figurativo antes do advento da fotografia que rompeu o último líbelo da reprodutibilidade técnica na arte pictorial.

Destacarei, entre a profusão de obras de arte da coleção da Pinacoteca, aquelas que deixaram marcas indeléveis em minha percepção, além da já referida obra de Portinari. Destaco: Tiradentes esquartejado[4] de Pedro Américo, a envergadura da tela com uns 3X2 de extensão causou-me uma forte impressão. Algumas esculturas de Rodin [já conhecia algumas por conta de uma exposição sobre as obras do mestre francês em Recife, no início dos anos 2000]. Fui sobressaltado também por algumas telas que retratam a paisagem brasileira no início da colonização. Mas, o que deixou-me de certa forma intrigado, talvez o ranço sociológico da formação falou mais alto, foi a disposição das famílias e das empresas paulistas em doarem obras para a Pinacoteca. São Paulo, talvez seja uma das cidades do mundo em que o mecenato privado seja mais forte.

Em um dos andares, vi algumas incursões dos mestres brasileiros na arte do impressionismo francês na virada do XIX para o XX, talvez uma tenha sido uma tela de Almeida Jr, não me lembro mais. Um garoto, da rede municipal de ensino que fazia uma visita monitorada por seu professor que o tempo inteiro registrava as imagens do seus alunos talvez para comprovar a visita e se eximir da aula em sala. Um dos meninos falou-me: “De longe parece uma foto”. Dei uma gargalhada para dentro por conta da perspicácia do observador que, em sua tenra idade, revelou quase duzentos anos de análise sobre a arte impressionista. Por fim, uma fotografia colorida de Thomas Farkas cujo motivo era um pescador remando sua canoa, o semblante plácido, a camisa de botão, a calça lee e um relógio de ponteiros no pulso direito, arrebatou-me pela singela beleza, acho que o fotógrafo descendente de húngaros nunca perdeu seu olhar “estrangeiro” sobre as coisas deste Brasil que não conhece a si mesmo.

Sala São Paulo de Música

Saí da Pinacoteca e fui margeando o Parque Luz até chegar à entrada do Bairro do Bom Retiro, famoso por ter a Cracolândia em suas imediações, além de ser um bairro Judeu. Almocei uma omelete acompanhada de feijão, arroz e salada. Acendi um cigarro e rumei para a Sala São Paulo.

Cheguei à Estação Pinacoteca[5] onde, no passado, havia sido a Estação Ferroviária Sorocabana que escoava a produção de café para Santos e, mais recentemente, tinha sido sede do DOPS durante o Golpe Civil-Militar de 1964. O prédio transformou-se em uma extensão da Pinacoteca. Na ocasião em que o conheci, estava havendo uma exposição sobre os presos políticos que penaram naquele lugar. Não cheguei a ver a exposição de fotografias talvez por estar saturado do tema, do banzo do almoço e da enorme quantidade de pessoas tirando fotografias e espalhando um alarido contradizente com a digestão da omelete que acabara de comer.

Segui em frente e dobrei à direita na Estação Júlio Prestes, antes fui surpreendido pelo mau cheiro da região que depois descobri ser oriundo da Cracolândia [falarei dela mais tarde]. O edifício onde fica localizado a Sala São Paulo[6] é monumental. Infelizmente não pude ter acesso as dependências da Sala por que as visitas monitoradas do dia já haviam sido encerradas, mas de fora, já pude ter a sensação da exuberante obra de arquitetura e pude fazer uns cálculos imaginários de quanto se gastou na acústica daquela sala, pois a mesma fica próximo à uma malha ferroviária. Acho que, em grande parte, foi a construção desta sala que fez Mário Covas ser lembrado até hoje, mesmo tendo duplicado rodovia Bandeirantes – o que fica é a contribuição ao simbólico.

Por fim, passei pelo Museu de Arte Sacra que fica por ali nas imediações do Bom Retiro, mas não tive vontade de visitá-lo.

Museu do Futebol

Antes de falar do museu paulista que mais me impressionou, não por sua estrutura e pelo seu acervo, até acanhados em relação aos da Língua Portuguesa, Masp, Pinacoteca, falarei dos motivos do meu arrebatamento no referido espaço. Intuo o motivo de minha emoção no Museu do Futebol[7] pela relação atávica que estabeleço com este austero esporte inglês, de início; e miscigenado na ginga brasileira ulteriormente. As linguagens artísticas marinadas na racionalidade ocidental [pintura, escultura, música] que vi nos outros museus, foi uma conquista tardia na minha vida. Uma contribuição mais escolar. Já o futebol não, é algo de uma formação pré-alfabetizada para mim. Antes de pirar o cocão com as telas de Van Gogh ou com as Variações Goldenberg de Bach, eu já gritava gol de Romário.

Primeiro, o bairro do Pacaembú é algo que destoa da paisagem da Paulista. Descemos pela Av. Angélica e o clima muda, o bairro fica incrustado em um vale repleto de casas e ruas arborizadas. Entrei no Museu do Futebol [R$ 3,00 meia entrada] e fui logo recepcionado por Pelé em um telão de alta definição. O rei recepcionava os visitantes falando em espanhol e em português.

Em seguida, sob as arquibancadas do Estádio do Pacaembú, outro telão em que projetavam-se imagens das torcidas organizadas dos times brasileiros e, qual não foi minha surpresa de ver logo de cara a arquibancada da Ilha do Retiro toda amarelinha com a torcida Jovem cantando: “O bico do beija-flor, beija-flor, beija-flor” com aquela desinência arrastada que já evoca saudades em mim por estar há poucos dias em um lugar cuja sintaxe era-me estranha. Um nó atravessou minha garganta, as imagens eram do final dos anos 1990 e eu provavelmente estava na Ilha naquele dia em que as registraram.

Entrei na sala dos “heróis do futebol” no primeiro piso do Museu, o turbilhão de fotografias de arquivos que contemplavam: Pixinguinha, Noel Rosa, Arthur Friedereich, Leônidas da Silva, Adhemir da Guia, Charles Müller e outras imagens dos primórdios do nosso futebol foi a história convertendo-se em verbo imagético para mim. Senti-me um par naquilo tudo.

Subsequentemente, visitei a sala do Canal 100 [o maior acervo cinematográfico do futebol brasileiro] com um telão em que projetavam-se imagens de arquivo com o Maracanã lotado, os dribles de Garrincha, os gols de Pelé etc, tudo isso em cinemascope em alta definição na narração de J. Kfouri. Passei também pela sala que narra a história das Copas do Mundo relacionando o momento histórico do Brasil em cada mundial.

Cheguei em um sala onde há uma série de cabines que você pode sintonizar a locução de rádio dos jogos da seleção brasileira na história das Copas. Defronte a ela, há uma séries de tokens em que você pode escolher o gol que marcou sua vida a partir da opinião de vários artistas, intelectuais, jornalistas etc. Os comentários são impagáveis, e o momento do gol é algo inenarrável. Lembro que vi os comentários de Ruy Castro, Luis Fernando Veríssimo e Daniel Piza.

No segundo andar, há uma sala de recreação e fazia anos que não jogava totó e fiquei lá jogando com uma turma praticamente uns dois quartos de hora. Joguei tanto que sai com a coluna doendo. A última vez que joguei totó não tinha essa envergadura, acho que não tinha nem coluna ainda. Após essa regressão lúdica neste objeto que, não fazia ideia, tinha me proporcionado tanta alegria, fui bater um pênalti e impressionei-me com a potência do meu chute, 93 km/h e corri para o abraço! O goleiro nem saiu na foto.

Ganhei à Praça Charles Müller onde fica o Museu do Futebol sorrindo, nem percebi que minha visita tinha acabado.

Parque do Ibirapuera – Pavilhão da Bienal e MAM

O Parque do Ibirapuera parece mais as obras daquele artística plástico australiano, Ron Mueck cujas obras são conhecidas pelos seus tamanhos hiperbólicos. O Parque é gigante e tive que andar bastante sob uma canícula atípica na cidade nesta época do ano – um sol de rachar esculturas. Sobre esculturas, há inúmeras delas espalhadas pelos parques da cidade. No Parque Luz, no Campus da USP e no Ibirapuera vi várias delas. Esculturas eminentemente modernas, do tipo do escultor suíço Max Bill que foi o artista premiado na primeira Bienal do São Paulo, em 1951. Antes de chegar ao Pavilhão da Bienal, passei pela Oca do Ibirapuera [onde há os famosos espetáculos ao ar livre] e fiquei estatelado com a quantidade de concreto para formar àquela obra. Além dela, o vão livre e insinuoso que nos leva ao MAM e ao Pavilhão é gigante e sob ele, as pessoas andam de bike, skate e a pé para livrarem-se do sol inclemente daquele dia.

O tema da 31ª Bienal[8] de São Paulo, Como escrever sobre coisas que não existe soou muito abstrato para mim. Confesso, fiquei mais impressionado com o Pavilhão da Bienal em si, que para mim já é uma obra de arte. Ele foi mais importante do que os motivos que contemplei lá dentro. As curvas sinuosas nos vãos de rampas, a disposição espacial, as instalações... Enfim, tudo. Para não ser chato, chamou-me atenção a obra de um artista cearense em que ele justapunha duas fotografias suas na varada de sua casa, a primeira, quando era criança tinha como fundo um horizonte azul cristalino; a segunda, já homem feito, um horizonte em concreto repleto de prédios horrorosos com suas varadas vazias e cafonas à la  Miami. Outra, foi um videoclipe de um grupo de Rap de Istambul em que os jovens matavam um policial, e só.

Já o MAM[9] [Museu de Arte Moderna] do Ibirapuera chamou-me mais atenção no que se refere às obras de arte expostas. A primeira, logo na entrada, obra de uma artista em que retratava a imigração paulista em placas com os nomes e endereços dos tais em contraste com o nome das ruas, bairros, cidades etc, em Tupi Guarani, achei a ideia sensacional em uma composição que tomou uma parede inteira. Outra obra que mereceu minha pausa, na verdade, duas: uma instalação que representava uma obra com seus ruídos oriundos de pequenas caixas de som e com objetos incompletos dispostos pela sala. A outra, um vídeo animando mostrando um menino correndo, só que nos o víamos sobre uma esteira de parkets de madeira, uma sensação de insegurança tomava-nos sobre nossos pés a partir da instabilidade do próprio solo. Achei massa a ideia. E ah! Tanto a Bienal quanto o MAM tem entradas gratuitas.

Não deu para conhecer o MAC do Ibirapuera [tinha ido ao da USP, mas estava fechado na ocasião] já era fim de tarde e estava exausto. Resolvi pegar um ônibus e subir a Brigadeiro rumo à Paulista. Antes dei um rolé pelo Ibirapuera e fui tomado por uma beleza primaveril que brotava do parque e suas mil e uma cores que entravam por minhas retinas e arrobavam minha pele com seus odores.

Masp

Falei um pouco sobre minha ida ao Masp[10] em outra seção, mas não pormenorizei minha visita ao acervo do Museu de Arte de São Paulo. Deixei minha mochila na recepção como é de praxes nos Museus estaduais paulistas e subi os andares pelo elevador. No terceiro pavimento [é melhor subir logo e ir descendo depois] há o acervo permanente do Museu, uma variedade de obras de arte moderna tanto do Brasil quanto de fora. Entre os pintores: Portinari, Anita Malfati, Cícero Dias, Van Gogh, Picasso, Monet, Renoir e outros. Geralmente, não costumo esboçar admiração publicamente, tenho um sentimento de reserva que talvez seja uma herança pré-colombiana ou de meus ancestrais antropofágicos da tribo Caetés, ou, quem sabe, uma frugalidade de quem cresceu nos becos do terceiro mundo. Porém, o acervo do Masp fez-me balbuciar um puta que o pariu.

Do primeiro Van Gogh ninguém nunca esquece, fui tomado por um sentimento de comoção por uma tela em que o mestre holandês retratara o pátio interno do hospital em que estava internado, a tela chama-se: Banco de Pedra no Asilo de Saint-Remy [O Banco de Pedra][11]. Compartilhei o sentimento de A. Artaud quando ele descreve as obras do “açougueiro vermelho”, parece que o holandês consegue ser mais eloquente do que a própria Natureza, tudo em Van Gogh é ebulição. Porém, a obra que mais atravessou-me foi A canoa sobre o Epte de Claude Monet[12], eu sentei defronte à tela e fiquei olhando-a. Súbito, as águas começaram a revolverem-se e foi como se tivesse levado um soco na cara de minha percepção. Foi algo assustador mas ao mesmo tempo lindo – a experiência estética fazendo-se carne.

O vício sociológico fez-me prestar atenção as doações daquelas telas para o acervo permanente do Masp, como na Pinacoteca, havia uma sequência armorial dos sobrenomes mais pomposos do estado paulista. Entre as inscrições: “doação dos Diários Associados”, tinha também “doação da família Penteado”; “Matarazzo” e algumas empresas que contribuíram com o mecenato privado na aquisição do acervo permanente do Museu idealizado por “Chatô”. Sérgio Miceli falou um pouco sobre esta relação das famílias nobres paulistas e seu mecenato com os artistas, em especial, Portinari [o artista oficial tanto do Estado Varguista quanto dos Comunistas e das famílias “quatrocentonas” paulista] que vivia a retratar os insígnes do café no livro, Imagens negociadas [Companhia das Letras].

Apesar dos gritos de “Fora PT!” e “Impeachment, já!” [falei deles no texto anterior] vindos lá de fora, fiz um esforço para concentrar-me na fruição. Desci para o primeiro andar para ver uma exposição de fotografias sobre as cidades, chamada: “As cidades invisíveis”[13] uma referência ao livro homônimo do escritor italiano, Ítalo Calvino. E a referência não ficou apenas por aí, entre uma seção de fotografia e outra, havia uma citação do escritor italiano. Com várias fotografias em que retravavam o urbano em suas diversas facetas, da industrialização à brincadeiras de crianças. Entre os fotógrafos: Walter Carvalho, Luis Carlos Barreto, Paulo Vainer, Egberto Nogueira e outros.

Em seguida, desci para o subsolo pelo elevador, sem querer, e pensei: "não deve haver nada aqui". Aproveitei para ir ao banheiro e como brinde ao suposto equívoco, encontrei um achado. Uma mostra de esculturas africanas chamada: Do coração da África – Arte Iorubá[14]. Esculturas Iorubás de várias épocas, tamanhos e formas. Todas protegidas por um vidro hermeticamente fechado. Pensei: "a África sempre ficará nos subterrâneos como um id antropológico, principalmente no coração financeiro da maior cidade do hemisfério sul, São Paulo".

Luciana Brito Galeria

Por fim, fui visitar na segunda feira dia 17 de novembro à Luciana Brito Galeria[15] que fica no bairro da Vila Olímpia [falarei dele mais detidamente em outra seção]. Para meu azar, a Galeria encontrava-se fechada. Mas, como havia saído da Bela Vista, não queria perder a viagem e interfonei. Aproveitei para acentuar o sotaque arrastado e disse: "Boa tarde, gostaria de visitar à exposição sobre Thomas Farkas". Do outro lado ouvi: "A galeria está fechada, abrimos de terça a domingo". Daí insiste e dando ênfase na desinência: "É que eu vim de tão longe”. Em seguida, a responsável pela exposição abriu o portão e eu tive acesso à ela. A exposição chama-se, Thomas Farkas: Memórias e Descobertas. Cuja curadoria é Sergio Burgi [Instituto Moreira Salles] e João Farkas [filho do fotógrafo].

Fiquei emocionado com o acervo do fotógrafo descendente de húngaros. de Suas fotos sobre Brasília [algumas inéditas até então]; sobre a modernização do Rio de Janeiro a partir da década de 1930; suas séries na Amazônia e os vídeos da Caravana Farkas. Fiquei conversando com uma das monitoras da exposição, uma mulher muito simpática que acompanhou-em em toda a exposição mesmo sendo off o dia da Galeria. Falou-me que para ficar à vontade e depois extrapolamos os limites da relação público x pessoal de apoio [na terminação do sociólogo americano H. Becker] e fomos falando sobre nossas respectivas formações etc., saí de lá com uma boa impressão e ganhei de presentes dois catálogos, um sobre Farkas e outro sobre a cidade de São Paulo. Ganhei à Rua Gomes de Carvalho de volta à Estação da Vila Olímpia com uma sensação ótima, daquelas que só os amantes do simbólico compartilham quando enxergam no outro uma afinidade filial pela estética.

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por Renato K. Silva - Pós-graduando em Ciências Sociais pela UFRN


[1] Disponível em: http://www.museudalinguaportuguesa.org.br/index.php 
Acesso em 04 de dez. 2014
[2] Disponível em: http://www.pinacoteca.org.br/pinacoteca-pt/ 
Acesso em 04 de dez. 2014.
[6] Disponível em: http://www.salasaopaulo.art.br/home.aspx 
Acesso em 04 de dez. 2014.
[7] Disponível em: http://museudofutebol.org.br/ 
Acesso em 04 de dez. 2014.
[8] Disponível em: http://www.31bienal.org.br/ 
Acesso em 04 de dez. 2014.
[9] Disponível em: http://mam.org.br/ 
Acesso em 04 de dez. 2014.
[10] Disponível em: http://masp.art.br/masp2010/ 
Acesso em 04 de dez. 2014.
[11] Disponível em: http://masp.art.br/masp2010/acervo_detalheobra.php?id=281 
Acesso em 04 de dez. 2014.
[12] Disponível em: http://masp.art.br/masp2010/acervo_detalheobra.php?id=259 
Acesso em 04 de dez. 2014.
[15] Disponível em: http://www.lucianabritogaleria.com.br/ 
Acesso em 04 de dez. 2014.

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