Notas de verão sobre impressões de primavera [São Paulo] IV

12.12.14 Cabotino 0 Comentarios


ESPAÇOS

O precesso de ocupação dos espaços na capital paulista se deu a partir de uma longa série de guetificação das populações que migraram ou imigraram para lá. Diferente das cidades litorâneas, há uma “Serra do mar” n’alma de cada paulista. E, isso está presente na formação dos guetos em cada bairro. Uma “barreira” quase intransponível que se reflete nas escolhas dos lugares para se viver. Estes guetos são acentuados por conta da ausência de praia, acredito. Como não há praia; não há mistura. Como não há carnaval; não há diluição da economia libidinal que se manifesta, especialmente, na música. Parece mecânico, mas vejam o exemplo de cidades como Rio de Janeiro, Salvador e Recife onde a praia é um catalisador de experiências coletivas que, muitas vezes, são espelhadas nas manifestações culturais destas cidades: o samba, o funk, o axé, o arrocha, o frevo, o coco, respectivamente, só para ficarmos no campo da música, são manifestações eminentemente metropolitanas que se diluem ora na praia ou na região do cais do porto. E antes de tudo, no carnaval – o carnaval é o "mar em pura ressaca" do banzo de além Atlântico de uma “senzala” que não reconhece a “casa grande”, porque o carnaval e o mar são infensos às demarcações arbitrárias do espaço. 

Antes de começar a falar sobre os espaços que atraíram minha atenção na Pauliceia. Destacarei os lugares que fiquei afim de falar. Da lista, faltaram vários locais que frequentei mas que não tive vontade de mencioná-los nesta seção, por exemplo: A rua 25 de março, o Mercado Municipal, a Faria Lima, o bairro do Pacaembú, a Vila Madalena e outros mais.

CRACOLÂNDIA
No dia 18 de novembro, início de tarde, visite à região da Cracolândia [em São Paulo até o consumo de drogas é guetificado], pois acredito que esta área deveria entrar nos mapas da cidade como atração turística, não por ser mais um fetiche turístico pela desgraça alheia, mas para mostrar como uma cidade produz e reproduz uma lógica megalomaníaca que reflete-se em tudo, inclusive nas drogas. Uma visita sem os estandartes das empresas turísticas que comumente alardeiam as grandes obras, a arquitetura, a gastronomia etc. Sem moralismo, ver a questão do crack como um problema de saúde pública e ir lá “desarmado” dos ideais burguês do “bem sucedido”. Aconselho a quem for a São Paulo ir na Cracolândia, será uma experiência desmistificadora.

Cruzei a Sala São Paulo de Música, rumo à Praça Júlio Prestes, e na esquina já senti o cheiro da Cracolândia. Um cheiro ocre que mistura um odor de coisa mofada com algo velho. A região tem uma presença significativa do Estado. Falo aqui não só do braço armado, a polícia. Há um micro-ônibus da polícia funcionando 24h por dia equipado com um gerador de energia elétrica, vários garrafões de água mineral que são viabilizados para os noias [como são conhecidos os usuários de crack], além de uma faixa escrita “crack, você pode vencer”. Pude observar também uma série de residentes médicos que prestam serviço na região. O trânsito de noiados para lá e para cá é frenético, eles [os noias] chamam esta modalidade nômade de “fluxo”. Topei com dezenas de noiados e nenhum esboçou uma reação para cima de mim, talvez por não ter o ethos tradicional do turista – não sou caucasiano, não uso tênis Nike, não ando com câmera fotográfica etc – sou mais um rosto brasileiro na multidão. A Cracolândia fica no Bairro do Bom Retiro, uma região com bastante comércio e com uma forte imigração coreana, judia e mais recentemente boliviana.

BRÁS
A região do Brás é sui generis, não vi nada parecido em toda São Paulo que conheci, até a 25 de março não se compara, esta é a “Oscar Freire” comparada àquela. Assim que cheguei à Estação do Brás, comprei dez pães de queixo e fui comendo-os. Era uma tarde de sábado ensolarada, um sol que iluminava mas não esquentava. O termômetro do Largo da Concórdia, no Brás, registrava 20°, entretanto batia um vento frio que, aquela altura, já fazia das crianças bolivianas/brasileiras que brincavam no Largo, miniaturas agasalhadas que mais pareciam esquimós morenos. Fiquei olhando-as de longe, sem imaginar o que o futuro lhes guardava e fumando meu cigarro calmamente. Fui contaminado pela alegria daquele casal infantil que brincava em meio aos bancos quebrados, os jardins mal cuidados e os papelões espalhados no chão do Largo, a cama de muitos moradores noturnos da região. 

Nunca fui em La Paz ou Santa Cruz de La Sierra, mas o Brás é uma sinédoque [figura de linguagem que toma uma parte pelo todo] da Bolívia. É uma região de comércio popular eminentemente textil. Há uma infinidade de bolivianos vendendo outra infinidade de roupas de todas as cores, tamanhos, modelos, marcas [piratas] etc. Vi também brasileiros nesta atividade informal, mas os conterrâneos de Evo Morales eram em maior número. Vi vários casais de bolivianos andando juntos, as mulheres com alguns trajes que remetiam à cultura andina, já os homens em sua maioria, estavam paramentados com os símbolos sociais de uma cultura [ou de um gênero] que quer ser inserido na grande ordem capitalista da cidade: camisas da Tommy Hillfiger, Ralph Lauren, cordões de prata, bonés de cantores de Rap, tênis Nike, Puma ou Adidas. Saí do Brás após comprar algumas cuecas e meias em uma loja, estava precisando com certa urgência destes artigos.

LIBERDADE
Tomei o metrô do Brás para a Liberdade e fiquei impressionado com o tamanho da Estação do Brás, não havia prestado atenção antes. Há doze plataformas de embarque e desembarque que lhe leva a uma variedade de destinos. Tomei o trem [os paulistas chamam de trem tudo que vai pela superfície, e de metrô tudo que vai subterraneamente] com destino Estação da Luz. Do Brás para Luz vi a paisagem aproximando-se e distanciando-se pela janela do trem. Na Luz peguei o metrô para Liberdade. 

Há uma compressão do tempo e do espaço nas viagens de metrô na cidade de São Paulo, por isso, meu estranhamento foi gritante quando cheguei na Liberdade. Não vi a paisagem mudar como a tinha visto no trem. O trem é avesso a apatia embotadora do metrô, haja vista, naquele a noção de tempo e espaço é mais lenta, gradual e sensitiva. No metrô, o movimento é anônimo, silencioso, sem cores e sem nomes inerentes à profusão célere das imagens que passam como um filme pela janela do trem. O trem é a imagem dos forasteiros, o espaço de atração ou repulsão dos que vem de fora, topos  tão caro à literatura e ao cinema.

O bairro da Liberdade é a antítese do Brás.

No sábado, fim de tarde, estava acontecendo uma feira de comidas típicas do Japão na Praça da Liberdade logo que você saí da Estação pela escada rolante. Estavam desarmando as barracas e em seguida lavando o chão onde antes estavam os quiosques, em plena crise hídrica da cidade, uma prova de que a cultura não responde imediatamente as circunstâncias sociais. As ruas são limpas, praticamente não há comércio ambulante, não há barraquinhas de comidas rápidas, os semáforos são sinalizados com caracteres nipônicos. Sério, me senti em um filme de Ozu na fase em cores. Na rua Galvão Bueno, tomei um susto, um jardim oriental incrustado no meio da rua. Japoneses ou descendentes saindo dos supermercados com uma série de sacolas repletas de produtos da culinária nipônica. Na mesma rua, totalmente decorada com iluminarias japonesas, há o Hospital Bandeirantes com sua arquitetura art déco cuja fachada é adornada com os traços da arquitetura japonesa, uma mistura kitsch que traduz todo o bairro. Em seguida, voltei para a Praça da Liberdade, bebi uma cerveja [estupidamente gelada] e fiquei olhando a paisagem do bairro enquanto tomava algumas notas. Na mesa ao lado da minha, uma turma estava querendo fumar um “baseado”, daí um dos presentes falou: “aqui na Liberdade nem tudo é permitido” e sorriu em seguida.

LARGO DE SÃO FRANCISCO
Início de noite no mesmo sábado, saí da Liberdade e fui andando até a Sé, contornei à Catedral e rumei para o Largo de São Francisco [onde há uma das primeiras Faculdades de Direito do Brasil]. O Centro de São Paulo é uma página à parte. Como todo o Centro das grandes cidades do Brasil, está marginalizado – o Centro marginalizado é uma tragédia tipicamente brasileira.

No Largo, encontrei uma concentração de pessoas que chamou-me atenção. Como adoro a rua e adoro aglomeração, resolvi chegar-me próximo dela. Descobri que tratava-se de uma “festa” organizada por um Coletivo chamado Santo Forte que galvaniza as noites paulistas geralmente em lugares privados com ingressos em torno de R$ 50. Porém, na ocasião, eles juntaram-se com outros coletivos e ganharam às ruas do Centro com um carro de som e um DJ tocando um repertório que ia de Clara Nunes, Gil, Caetano, Otto, Jorge Ben etc., a “festa” fazia uma homenagem à cultura afro-descendente. Pensei: “tocando Clara Nunes?” depois relativizei por conta da histórica ausência de uma matriz afro-descendente nos domínios culturais de maneira geral. Há sim uma matriz afro-descendente, porém ela ficou marginalizada nas periferias [desculpem-me o pleonasmo] e tem sua manifestação mais gritante no Rap. 

Entre as iniciativas da “festa”, era além de galvanizar o público para frequentar mais o Centro, era sensibilizar este público [cuja maioria era proveniente da classe média paulista] para a causa dos trabalhadores sem teto que, no momento, estavam ocupandos vários prédios ociosos na região. Algumas palavras nesta direção foram proferidas do alto do carro de som.

De repente, tocou o frevo Banho de cheiro na voz de Elba Ramalho e qual não foi meu estarrecimento quando vi uma porção de gente dançando o ritmo freneticametne. Havia uma mulher fantasiada de índia fazendo algumas evoluções do frevo: tesoura, chutes, locomotiva etc. Senti-me um colonizador cultural. Saí da “festa” por volta das três da manhã, perambulei com mais uma turma que conheci na ocasião, um grupo de jovens cineastas paulistas que me acolheram muito bem, fomos comer aquela altura na Lanchonete Estadão. 

Em seguida, peguei a Consolação até a Praça Roosevelt e subi à Augusta nos embalos do sábado à noite.

RUA AUGUSTA – Bela Vista e Jardins

A rua Augusta em seu arco de concreto e piche traduz uma cidade movida a movimento. Nos dias que passei em São Paulo, atravessei-a inúmeras vezes. Não frequentei nenhuma boate, discoteca casa noturna ou coisa que o valha, sou avesso a pagar ingressos para entrar em um estabelecimento, primeiro porque geralmente não tenho grana para este fim e, segundo, amo a rua e faço de tudo para não sair dela. 

A especulação imobiliária está tomando conta da Rua Augusta, pela sua proximidade com a Paulista e suas instituições financeiras, pela proximidade do Hospital Sírio Libanês e outros empreendimentos que minam a boemia e suas atividades correlatas. Desconfio que daqui a alguns anos a rua famosa por sua boemia sonâmbula, não será a sombra do que fora. Antes deste diagnóstico apocalíptico, vale muito a pena ficar subindo e descendo a sua leve inclinação topológica, porém pesada em seu desejo de desejar o próprio desejo.

Subi à Augusta pela Bela Vista, atravessei-a pela Paulista e desemboquei nos Jardins. Em seguida, dobrei à direita pela Oscar Freire. E, súbito, parecia que estava em um cenário de Beverly Hills ou Miami. Uma alameda de lojas de griffes vigiada por um batalhão de seguranças privados vestidos de ternos escuros, como se fossem agentes funerários em pleno coração do consumo conspícuo da Pauliceia Desvairada. Madames com Iphones de um lado para outro, cafés que retinavam xicaras, anedotas e cartões de crédito prime. Vi alguns preços das mercadorias e é melhor não mencioná-los.


Voltei para à Augusta assim que pude. Subi-a em direção a Bela Vista que, aí sim, foi um colírio para minhas fatigadas retinas de vitrines, perfumes, xales e todo ethos de perua montada na Daslú.

A FEIRA DA BELA VISTA
Às sextas há uma feira de alimentos entre as ruas Barão de Itararé e Frei Caneca, [dois personagens ímpares de nossa história, o padre republicano degolado e o humorista comunista preso pela ditadura Varguista]. Na feira, vi pela primeira vez os guetos serem diluídos [a comida congrega] no vai e vem das barracas. Havia muçulmanos, chineses, japoneses, judeus e até brasileiros. Uma profusão de cores e cheiros emanavam do lugar. Esbocei um leve sorriso e segui o fluxo entre pescados, legumes, carnes, frutas, verduras e rostos cosmopolitas. No hostel, falei sobre a Feira a um dos atendentes e ele me disse que a Feira “salva o Hostel” por conta dos gêneros alimentícios do estabelecimento que são comprados na própria. A Feira livre é o carnaval e a praia de São Paulo.

REPÚBLICAEdifício Itália
Na Av. Ipiranga, numa quarta feira típica da capital paulista, garoa e solidão, cheguei no Edifício Itália – segundo maior da cidade e do Brasil com seus 46 andares – para conhecer o famoso terraço. Um dos seguranças falou-me que o acesso ao terraço estava interditado por conta de uma festa particular que iria acontecer por lá. Não estava sozinho na vontade de conhecer o espaço, havia comigo dois jovens e uma jovem, acho que eram argentinos querendo conhecer também o espaço. Falaram para o segurança que tratava-se de um trabalho da faculdade – a educação tem suas prerrogativas. O segurança resolve conceder-nos acesso a um dos andares lá de cima, não era o terraço, mas para não perder a viagem, resolvi seguir os grigos e fui ver a cidade lá de cima. O elevador subiu de uma só vez direto para o 38º andar. Lá em cima, vi a cidade sob meus pés. Tenho vertigem e entre J. Stewart em Vertigo e a imensidão da cidade, fiquei com o silêncio das coisas minúsculas.

LARGO DO AROUCHE
Na Estação República há um Museu da Diversidade, daí perguntei-me por que este Museu encontrava-se ali e andando pelo Bairro da República respondi sozinho a minha indagação. Acredito que a maior comunidade LGBT habite a regição da República. Inclusive, há um depósito ao ar livre em que se destribui gratuitamente camisinhas, próximo ao Edifício Copan, com os dizeres: “São Paulo contra a Aids”. Outra coisa que chamou minha atenção é que as propagadas nos metrôs são direcionadas ao público que frequenta cada Estação, por exemplo: na Estação Consolação vi uma propaganda da Editora Saraiva sobre o seu mais recente lançamento, o livro O Capital no Século XXI do francês Thomas Piketty. No Largo, vi uma quantidade significativa de homosessuais tanto no perimetro quanto próximo ao Copan, já na Av. São João.

AVENIDA SÃO JOÃO
Encontrei uma grande quantidade de imigrantes nigerianos na região da República – Centro de São Paulo. Diferente dos bolivianos, os nigerianos comercializam em sua grande maioria, mercadorias relacionadas à tecnologia: celulares, capas, carregadores, relógios e coisas do gênero. Também percebi que eles comercializam esculturas iorubás muito comum na região de onde são provenientes. As peças são espalhadas no chão e dão um tom destoante do vai e vem blasé do Centro – a diáspora é composta não só por pessoas, mas também com toda a herança simbólica que elas trazem. 

A Av. São João foi um dos lugares que mais gostei na capital. Além do preço acessível da cerveja [1 litro de Budweiser custou-me R$ 8,00] e da comida, a avenida é iluminada é repleta de gente o tempo inteiro. Lembro que li um conto de J. Antônio [Malagueta, Perús e Bacanaço] ambientado na São João e me vi dentro do conto pela descrição do autor. Uma vez na avenida, me senti dentro do conto. Coisas que só a literatura nos proporciona – a magia de trascender o tempo e o espaço, de transcender à própria experiência sensível para além do tangível. Ah, vale a pena pedir uma cerveja e ficar observando, em pleno dia da semana, os transeuntes que sobem e descem o Vale do Anhangabú.

GALERIA DO ROCK E GALERIA METRÓPOLE
Um dos espaços que aglomera uma fauna significativa da Pauliceia Desvairada. Vários andares com lojas que comercializam artigos musicais: camisetas, CDs, vinis, DVDs etc., estúdios de tatuagem, lanchonetes, bares etc. Comprei uma cerveja e fiquei olhando os vãos das escadas. O espaço interno da galeria vazando com aberturas ovais em cada andar. Os edifícios não são apenas uma “máquina” para se habitar, comercializar ou simplesmente transitar, há uma dimensão estética [sensível] em sua forma rígida, e foi esta beleza que atraiu-me na Galeria, acho que inconscientemente as pessoas frequentam-na pelo mesmo motivo.


A Galeria Metrópole é outro espaço para além da funcionalidade arquitetônica. Há uma preocupação desfuncionalizada ao percorremos suas dependência que, um espírito sensível como o meu, preza muito. A arte de flanar desenvolvida através de anos a fio sente um prazer quase inenarrável quando se depara com estes espaços. Almocei na Galeria, depois tomei um café [cortesia da matriz] e fiquei observando o fluxo e o refluxo. O vai e vem das escadas rolantes, o sobe e desce, à procura incessante pelo lucro em um mundo de lojas em que tudo virou mercadoria, principalmente o tempo, deixou-me numa acedia oriunda ora pelo almoço, ora pela solidão na cidade, ora por nada.

IPIRANGA COM A SÃO JOÃO
Alguma coisa acontece... já dizia Caetano referindo-se ao cruzamento entre os dois logadouros. Comigo não aconteceu nada, talvez por estar cansado de bater pernas na região do Centro e, muito provavelmente, pelo fetiche que criou-se no cruzamento das duas avenidas a partir da música. Há um bar chamado: Bar Brahma na esquina das duas. Cada copo de chopp custou-me R$ 5,00. Bebi dois enquanto olhava as pessoas no vai e vem da cidade. Acredito que, primeiro, a inspiração de Caetano deu-se a partir do samba de Paulo Vanzolini, Ronda. Em que o sambista paulista narra as desaventuras de uma mulher em busca do seu marido na noite da Pauliceia. E que acaba em uma “cena de sangue num bar da Av. São João”. Porém, a música do autor de Alegria, alegria ganha destaque pela “iluminação” do banal que é mais um cruzamento de uma grande cidade. O estarrecimento frente à monumentalidade de uma metrópole ganhando contornos a partir de uma experiência tão corriqueira – o estranhamento de um forasteiro que acha feio o que não é espelho, ou seja, suas experiências pregressas [falarei mais desta música em outra seção].

VILA OLÍMPIA
A Vila Olímpia é um dos lugares em que você percebe muito bem a força do capital financeiro – o novo capital da cidade. Uma pluralidade de aranha-céus tomam o horizonte entre a Marginal Pinheiros seguindo pela Rua Gomes de Carvalho. Ao saltar na Estação Vila Olímpia comecei a observar os edifícios com seus helipontos incrustados em suas coberturas. A arquitetura yuppie dos edifícios cujas menores partes estão no nascente e no poente, demostram a força do capital especulativo em uma região onde antes só havia manguezais – às margens do Rio Pinheiro. Na Vila Olímpia, lama is money. A região cheira a novo-rico e a sujeitos que de tão bem sucedidos não pisam no chão, preferem seus helicópteros.

VIADUTO DO CHÁ
Uma de minhas últimas noites em São Paulo, dei uma volta na noite fria de primavera pelo Centro. Quando cruzei à Prefeitura encarei o Viaduto do Chá defronte e as luzes de mercúrio da iluminação pública e do Teatro Municipal banharam à noite, minhas retinas e todo o meu mundo naquele momento. E sem mais, sair caminhando sozinho, ouvindo as luzes de mercúrio que nos comunica o inefável de quem sabe que a noite tem mais luzes que o dia, mesmo em uma cidade que descansa sob as sombras de guetos.

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Renato K. Silva - Pós-graduando em Ciências Sociais pela UFRN

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Todas as fotografias foram extraídas do Google Imagens.





 

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