Daniel na moderna cova dos leões
Faço nosso o meu segredo mais sincero
E desafio o instinto dissonante.
A insegurança não me ataca quando erro
E o teu momento passa a ser o meu instante
(legião urbana: Daniel na cova dos
leões)
De intérprete de sonhos a grande profeta! Daniel, personagem bíblico do antigo
testamento, dispensa maiores apresentações sobre sua coragem, fé e ousadia política.
Contudo, da vida de Daniel da Silva, sabe-se pouca coisa. Filhos de pastor
evangélico, sua vida foi um eterna luta, e como o profeta, enfrentou a fúria dos
leões, dia após dia, por conta de sua orientação sexual diante de nossa fascista
e preconceituosa sociedade.
Começou
a travar sua luta já no interior de seu seio familiar; luta que estendeu à
escola, ao mundo do trabalho e à vida pública de uma maneira geral. Hoje, Daniel
mora com seu grande amor Dario, ironicamente, o nome do rei que indo à cova em que
Daniel o profeta havia sido jogado, surpreendeu-se ao ver que este não havia
sido devorado pelos leões; reconhecendo assim sua fé e coragem, atribuindo-lhe o
respeito devido.
O
Dario de nossa crônica se apaixonou por Daniel da Silva também por sua coragem
e fé, atribuindo-lhe não só respeito e admiração, como seu corpo e seus desejos
mais profanos. À união dos dois somaram-se duas crianças, Madalena e Lucas; quem
escolheu os nomes foi Daniel pela sua influencia cristã. Dario, mesmo sendo um
ateu convicto, abençoou, em seus termos, os nomes escolhidos: “Então
(...) Dario escreveu a todos os povos, nações e línguas que moram em toda a
terra: Paz vos seja multiplicada. (Daniel
6:25)
Desde então,
a luta intensificou-se. Primeiro vieram as dificuldades de registrar as crianças,
depois de pô-las na escola, de vaciná-las, de colocá-las como dependentes em seus
planos de saúde no trabalho... Enfim, todo um mar empecilhos a uma vida cidadã.
Daniel e Dario compensaram a ausência do estado com muita devoção, amor,
respeito e educação para com seus filhos. Ainda hoje, Madalena e Lucas não têm
os nomes de seus pais em seus registros de nascimentos, mas são adultos
vacinados contra todo tipo de preconceito e intolerância.
Madalena escolheu
lecionar física como profissão, e nesse momento, trava um luta aguerrida para o
que os livros didáticos não reproduzam mazelas que minam as conquistas que grupos
como a ABGLT (Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e
Transexuais) galgaram no debate público diante de questões sobre a
orientação sexual. (ver
aqui: http://educacao.uol.com.br/noticias/2013/03/05/associacao-lgbt-denuncia-escola-por-material-didatico-homofobico.htm).
Lucas
escolheu o caminho da política institucional, chegando à presidência da
comissão de diretos humanos da câmara dos deputados onde trilhava o compromisso
de luta em relação aos direitos dos grupos violentados pelo Estado e a sociedade.
Foi hoje, que Lucas
renunciou ao cargo da presidência diante da exclusão dos segmentos organizados
da sociedade civil durante a votação que elegeria o novo presidente da comissão
de direitos humanos na câmara. (ver aqui: http://www.youtube.com/watch?v=A13SPIgCoBA).
Foi então eleito um religioso para posto que Lucas renunciou,
um pastor evangélico, assim como seu avó.
Daniel da Silva antes de sua estúpida morte (atacado por um grupo de homens após sair de uma boate em Recife de mãos dadas com Dario) e apesar de tudo que sofreu com seu pai pastor quando era ainda criança diante de sua orientação sexual, educou Madalena e Lucas esclarecendo que a condição violenta e intolerante de seu pai e de muitos sacerdotes e pessoas de fé, não pode ser relacionada de uma maneira geral a todos os religiosos. Ensinou assim aos filhos, o respeito às várias formas de comunhão com o sagrado.
Madalena
e Lucas, combatentes e herdeiros do legado de Daniel da Silva, foram hoje visitar
e reabastecer as energias para o prosseguimento do combate com os leões, na
casa de seu pai, Dario. Passaram a tarde lendo o testamento do profeta Daniel e
lembrando da música da legião urbana que Daniel da Silva os fazia escutar
insistentemente. Quando crianças achavam por demais enigmáticas uma das
estrofes daquela canção, só hoje puderam perceber o que na verdade ela queria exprimir:
(...) Mas, tão certo quanto o erro
de ser barco
a motor e insistir em usar os
remos,
É o mal que a água faz quando se
afoga
E o salva-vidas não está lá porque
não vemos.
(legião urbana: Daniel na cova dos
leões)
Meu amigo Pássaro Bége, gostaria de ter asas, igual a você, pois, nesses dias de despaltérios onde homens que parecem não ter alma assumem a liderança das comissões de direitos humanos, eu gostaria de ter o poder de voar e não voltar nunca mais.
ResponderExcluiré isso, Sr. Castanha. Vamos voar por cima deles, e como hábeis gaviões, atacaremos de forma certeira.
ExcluirPássaro bege.