Atmas e Mahatmas

6.3.13 Mademoiselle Fifi 0 Comentarios



Tenho uma cadelinha chamada: Atma (alma), companheira de toda hora, faça chuva ou sol a sua cauda sempre balança quando chego em casa, sinal de alegria, cumplicidade, carinho. Semana passada, resolvi aumentar o número da família, encontrei um gatinho na rua e trouxe-o aqui para casa e batizei-o de Mahatma – Grande Alma. Agora além de Atma tenho em casa o Mahatma, o Grande Alma “Sebosa”, isso sim é o que ele é - indiferente a tudo, exceto ao seu estômago. Quando está com fome vem logo em meu encalço, miando e roçando a sua pelugem preta em minha perna.

Comecei a delinear algumas comparações entre os homens e estas duas criaturas quadrúpedes que moram comigo, existem os homens Atmas, os cachorros. E os homens Mahatmas, os gatos.

Os Atmas são obedientes, atenciosos, carinhosos, só comem quando damos, nunca pedem, e sempre no mesmo prato, jamais se arriscam em empreitadas externas, só comem em casa.

Já os Mahatmas são misteriosos, chegam na calada da noite, não fazem barulho, enroscam-se na gente, pede comida, abrigo e depois sem agradecer vão embora assim como vieram, na surdina, em silêncio e em busca de outras refeições.

Os Atmas são casa própria, segurança, estabilidade, emprego público, latido para os forasteiros, ciumentos, coleira, controle, planejamento, pau pra toda obra – Tom Hanks de riso fácil, olhar terno e acolhedor.

Já os Mahatmas são aluguel, insegurança, instabilidade, independentes e indiferente aos forasteiros, fujões, senhores do próprio nariz, mas sensíveis, amantes felinos – Johnny Depp de riso faceiro e olhar superior.

Os Mahatmas são bons meninos, nota dez, Q.I de 158, esforçados, sujam tudo, às vezes arredios, mas se assustam com fogos de artifício e com os trovões, sem saberem que estes se vão junto com a tempestade – Raskolnikov apavorado em sua triste e fria São Petersburgo, seres extraordinários.

Já os Atmas são meninos levados, arruaceiros, avessos à disciplina e a diligência, porém asseados, higiênicos, nunca deixam vestígios, limpam tudo. São irredutíveis a caprichos alheios, a gritos e admoestações intempestivas de superioridade – Julien Sorel em busca de um Brumário qualquer, seres ordinários.

Estou aprendendo a conviver com estas duas criaturas aqui em casa, é um pega pra capar danado quando ambas se encontram, mas eu intervenho e tudo fica em paz, alimento as duas, só assim mantenho-as por perto. Sou o sol das duas, uma é a terra, a outra a lua e ambas orbitam ao meu redor, translação e rotação. No fim são duas almas “sebosas” mesmo.

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