O Inconsciente do Olhar III

14.1.13 Cabotino 0 Comentarios



O futebol é a carta de Caminha de nossa geografia.

            A ponte Joaquim Cardozo, arquitetura poética que leva em sua margem o elo entre o ferro e o roedor, o Coque e os Coelhos, arqueia sobre o Rio Capibaribe embotado de hospitais e palafitas. As margens deste e na cabeceira daquela no sentido subúrbio/centro se encontra um campo de futebol improvisado em meio ao mangue, ou seria um mangue improvisado em meio a um campo de futebol? Em suma, neste dia a segunda opção foi a que prevaleceu.
            No ônibus, pangeia de ilhas a deriva em busca de uma janela, no sentido subúrbio/centro, ou seria da lama ao caos? Enfim, neste dia todo o itinerário, a lama, o caos, o subúrbio, o centro, o caranguejo, o gabiru resolveram fazer uma pequena pausa em deferência a plasticidade do lance.
            O motor a combustão queimando óleo diesel na segunda marcha acelerava o coletivo e eu que estava em uma janela na ala direita do ônibus, em uma posição mais privilegiada do que a de um outro cara que se encontrava duas poltronas na minha frente, e que a esta altura já estava com o pescoço todo retorcido para não perder o desfecho do lance: o moleque matou a bola no peito, defronte a mim, e tal qual o Diamante Negro armou o seu corpo como se fosse um chié andando devagar e o goleiro como um aratu pra lá e pra cá prevendo a bicicletada que iria receber.
            Aquele pescoço antes retorcido se converteu em uma cabeça do lado de fora do coletivo com os olhos crispados a gritar: que gol do carai!



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