O Inconsciente do Olhar II

13.1.13 Cabotino 0 Comentarios



És um senhor tão moderno
Quanto à cara do meu neto
Tempo, tempo, tempo, tempo

             Sim, era um aniversário com certeza, amigos, familiares, churrasco, galinha assada, cerveja gelada e a tríade do canto do cisne do império britânico – baixo, bateria e guitarra – valvulados na garagem. Dos cinco filhos, duas mulheres e três homens, estes inclinados ao rock n roll desde a terna idade e estavam ali com seus amigos, inclusive este que vos escreve, tirando um som no descanso de Deus, o domingo.
            Dos cinco netos, duas mulheres e três homens, o mais velho já era motivo de orgulho da família, desde cedo campeão de karaté, exímio nos estudos e imbatível no Wing Eleven, o que deixa os tios invocados, mas complacentes com a derrota, pois é a geração do joystick com o seu ímpeto catódico. Enfim, um bom menino, destes que outrora estampavam as capas da revista Pais e Filhos.
            De repete a música para, e os chamados vem do microfone: Cauã! Cauã! Ele chega meio desconfiado e o tio do meio diz: vamos tocar tempo perdido e tu vai cantar, seu rubor foi do tamanho dos seus 16 anos, mas se refez e começou a cantar: [...] não temos mais o tempo que passou/ mas tenho muito tempo. E o avô ouvindo a voz do neto se aproximou da garagem e com as mãos no portão ficou olhando o neto com os seus olhos marejados, não era um olhar de hereditariedade dos 7,666 cromossomos seus presentes naquele corpo em formação; não era ternura; nem tampouco carinho; era o amor casado com o tempo e quando este enlace se realiza tudo é pleno, inclusive em um domingo.

* Dedico esta crônica ao filme do M. Haneke: Amour.

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