Dias cristalinos, Parte 2/3: A moça.

25.1.13 Pássaro Bege 0 Comentarios



Eu levantei essa manhã, você não estava aqui

Eu levantei essa manhã, você não estava aqui

Eu nunca soube o que eu tinha

Agora sei o que perdi

 

Por favor, me dê uma chance, não me deixe aqui sozinho

Por favor, me dê uma chance, não me deixe aqui sozinho

Já acabei com todo o whisky e

Não encontro o meu caminho

 

Já rezei pedi a Deus, pra ver se ele me acalma

Já rezei pedi a Deus, pra ver se ele me acalma

Pois você deixou o meu corpo

Mas levou a minha alma"

 

(“Me dá uma chance”, por: Camisa de Venus)

 

O falador, o escrevinhador assume toda a responsabilidade pela incoerência que venha a ser percebida nesse trabalho árduo de leitura do ilegível que é escrever sobre os fatos que se dão, assim, no meio do cotidiano, se é que flui claro. Como o mais sincero dos demônios seguirei nessa crônica falaciosa. Foi assim que pensei, mas não foi isso exatamente o que fiz, desculpem!  
Quando me vi jogado na parede, encurralado pela cabeça, tronco e membros nervosos daquela moça poupei as explicações (como as chatas explicações que um autor faz de seu texto ficcional), e, como me ensinou Lula Côrtes: “eu fiz pior, sujei de sangue minha melhor camisa!”. Era necessário escrever sobre a beleza e a iniquidade daquela moça.
          Sua boca realmente não parava de tremer. Intoxicou-se de raiva, sumiu, mas me acertou com uma última punhalada antes de partir, deixou-me de saco cheio, literalmente. Falou absurdos aos meus ouvidos; coisas de um teor extremamente sensual, mas corou a noite com as mesmas atitudes ignóbeis de outrora, resumindo, me deixou outra vez na mão.   

Antes de me fazer o que fez, teve a pecha de dizer e hierarquizar as artes, as manifestações artísticas, e disse quase em um tom sagrado que o verso era melhor que a música. Maldita coitada, não sabe conviver com belezas.
           Perguntei se ela era especialista em versos e quando ela respondeu que sim, sorri e pedi um café bem quente. Minha intenção era queimá-la, deixá-la marcada para sempre. Queria mesmo era abrir sua boca com força e jogar o café fervendo dentro. Quem sabe assim eu queimaria sua língua, e ela, sem a capacidade da oralidade, prestaria mais atenção então na música; nos sons das respirações de excitação, e enfim... sem meias palavras.   

Fui avisado por amigos que ela pegaria um voo para sua cidade de origem nas próximas horas. Ela é muito doce, eu pensei. Foda-se! Mas havia outras moças, outras e outras... É isso! Tive logo a certeza de tudo um pouco depois: - “acho que ela nunca escutou a “maça” do Raul Seixas”.
           O dia estava quente em Áridas Terras. O pensamento borbulhava no juízo. O ódio que sentia daquela mulher crescia; como os acordes que cresciam no abrir e no fechar do fole da sanfona da velha dona da pensão, a irmã Zuleica.

Antes da ida daquela moça, suspirei fundo, e venci aquele ódio inicial, cumprimentando-a antes da triste partida: - “Meu Deus, meu Deus”! Fiquei ali parado, sentado no sofá em frente ao show de sanfona da dona da pensão; não pensava em mais nada. “Meu Deus, meu Deus”!
           O segundo dia é sempre mais pesado que o primeiro, e os sonhos insistem em imitar a realidade no quarto número 01.

 (Continua...)   

Por: Pássaro bege

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