Dias cristalinos, Parte 2/3: A moça.
“Eu
levantei essa manhã, você não estava aqui
Eu levantei
essa manhã, você não estava aqui
Eu nunca
soube o que eu tinha
Agora sei o
que perdi
Por favor,
me dê uma chance, não me deixe aqui sozinho
Por favor,
me dê uma chance, não me deixe aqui sozinho
Já acabei
com todo o whisky e
Não
encontro o meu caminho
Já rezei
pedi a Deus, pra ver se ele me acalma
Já rezei
pedi a Deus, pra ver se ele me acalma
Pois você
deixou o meu corpo
Mas levou a
minha alma"
(“Me dá uma
chance”, por: Camisa de Venus)
O falador, o
escrevinhador assume toda a responsabilidade pela incoerência que venha a ser percebida
nesse trabalho árduo de leitura do ilegível que é escrever sobre os fatos que
se dão, assim, no meio do cotidiano, se é que flui claro. Como o mais sincero
dos demônios seguirei nessa crônica falaciosa. Foi assim que pensei, mas não
foi isso exatamente o que fiz, desculpem!
Quando me vi jogado
na parede, encurralado pela cabeça, tronco e membros nervosos daquela moça
poupei as explicações (como as chatas explicações que um autor faz de seu texto
ficcional), e, como me ensinou Lula Côrtes: “eu fiz pior, sujei de sangue minha
melhor camisa!”. Era necessário escrever sobre a beleza e a iniquidade daquela
moça.
Sua boca
realmente não parava de tremer. Intoxicou-se de raiva, sumiu, mas me acertou com
uma última punhalada antes de partir, deixou-me de saco cheio, literalmente. Falou
absurdos aos meus ouvidos; coisas de um teor extremamente sensual, mas corou a
noite com as mesmas atitudes ignóbeis de outrora, resumindo, me deixou outra vez
na mão.
Antes de me
fazer o que fez, teve a pecha de dizer e hierarquizar as artes, as
manifestações artísticas, e disse quase em um tom sagrado que o verso era
melhor que a música. Maldita coitada, não sabe conviver com belezas.
Perguntei se ela
era especialista em versos e quando ela respondeu que sim, sorri e pedi um café
bem quente. Minha intenção era queimá-la, deixá-la marcada para sempre. Queria
mesmo era abrir sua boca com força e jogar o café fervendo dentro. Quem sabe
assim eu queimaria sua língua, e ela, sem a capacidade da oralidade, prestaria
mais atenção então na música; nos sons das respirações de excitação, e enfim...
sem meias palavras.
Fui avisado
por amigos que ela pegaria um voo para sua cidade de origem nas próximas horas.
Ela é muito doce, eu pensei. Foda-se! Mas havia outras moças, outras e
outras... É isso! Tive logo a certeza de tudo um pouco depois: - “acho que ela
nunca escutou a “maça” do Raul Seixas”.
O dia estava
quente em Áridas Terras. O pensamento borbulhava no juízo. O ódio que sentia
daquela mulher crescia; como os acordes que cresciam no abrir e no fechar do fole da
sanfona da velha dona da pensão, a irmã Zuleica.
Antes da ida daquela
moça, suspirei fundo, e venci aquele ódio inicial, cumprimentando-a antes da triste
partida: - “Meu Deus, meu Deus”! Fiquei ali parado, sentado no sofá em frente
ao show de sanfona da dona da pensão; não pensava em mais nada. “Meu Deus, meu
Deus”!
O segundo dia
é sempre mais pesado que o primeiro, e os sonhos insistem em imitar a realidade
no quarto número 01.
(Continua...)
ver a primeira parte: http://foihoje.blogspot.com.br/2012/10/dias-cristalinos-parte-13-velha.html#comment-form
Por: Pássaro bege
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