A Fábula dos Três Jegues

2.11.11 Joarez 2 Comentarios


Eram três jegues, moravam numa pequena fazenda, de uma pacata cidade do interior do Maranhão. O que se sabe é que em um belo dia eles fugiram. Seu Dono pôs-sê a procurá-los por toda a cidadezinha e a melhor informação que obteve foi a de que os distintos bichanos tinham conseguido uma carona num caminhão que seguiria pelo litoral, passando por algumas capitais nordestinas.

Iniciou-se a busca e o primeiro burrico não tardou a ser achado. Ele foi encontrado trabalhando numa MC Donald's em Fortaleza. Tudo corria muito bem até que o coitado descobriu a matança descarada que honroso estabelecimento gastronômico infligia aos animais quadrúpedes. Tomando as dores de seus pares, e para se vingar, começou a matar humanos e a deles fazer hambúrguer. Foi capturado e mandado de volta a sua terra natal.

O segundo jumentinho virou motorista de ônibus, em Salvador, e também não passou muito tempo foragido. Ele foi descoberto porque todos, digo todos, motoristas, cobradores, passageiros e pedestres, estranharam o modo extramamente correto com o que nosso maranhense dirigia, sem a menor infração ao código de trânsito. Uma investigação da Polícia Federal trouxe sua verdadeira identidade à tona. Segundo testemunhas, não ofereceu resistência na hora da prisão. Voltou para casa, por conta própria, mais triste e menos enfurecido.

O caso mais emblemático foi o do terceiro mulo. Os jornais noticiaram, veja bem, depois de seis anos apreensão de um jegue, assim e assado, na cidade do Recife. O bicho já estava, pode-se dizer, incorporado ao ethos da cidade. Assim que pôs os pés na capital pernambucana, o nosso herói arrumou logo uma vaga para tocar alfaia num grupo de maracatu. Daí para virar figura fácil no circuito cultural da cidade, foi pouco tempo. Era fácil vê-lo, da Rua da Moeda à Rua do Lima, do Abril pro Rock ao Coquetel Molotov. Formou uma banda para tocar nos festivais da cidade, ganhou dinheiro, tinha muitas fãs, vivia bem e tranquilo.

Você deve estar se perguntando que horrenda catástrofe rompeu tão bela calmaria. Pois é. O nosso burrico deu uma entrevista numa rádio local e, nela, afirmou que o "Los Hermanos é uma banda ordinária". Ordinária, explica ele: comum, trivial. Mas assim não entenderam os ouvintes da rádio. O fantástico jegue foi perseguido durante mais de trinta dias por uma massa de popcults. Eles ofereceram até recompensa, um fio de cabelo de Rodrigo Amarante, por uma informação que levasse à sua captura.

Foi no período dessa caça desumana (perdoe a infeliz piada) que descobriram que o famoso músico da cena pós-mangue era um simples jegue. É exatamente aí que o problema deixa de ser apenas dos popcults e passa a ser também da polícia, da sociedade, ávida por notícas, e de seu dono lá do Maranhão, que sonhava em ganhar dinheiro com um jegue famoso.

E foi isso que aconteceu. Tendo o jegue sido capturado e mandado de volta, seu dono começou a explorar a sua imagem e a cobrar quantias absurdas por entrevistas em rádios, programas de TV, jornais e revistas.

Numa delas, sendo ele indagado sobre as supostas vantagens de uma vida humana, o burrico disparou: "A vantagem de ser mulo é que ao encontrar China eu não preciso ser hipócrita e dizer a ele que seu som é bacana".


2 comentários:

  1. http://www.youtube.com/watch?v=8npsAbbE-2M

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  2. Muito boa Juarez, rir horrores com o seu texto, que de fabuloso não tem só a temática textual, mas, também o teor aplicado ao tema.
    Em suma, essa nova cena musical pernambucana é de um mau gosto hediondo, e só sendo um jegue pra entrar nela e além disso ouvindo os looser hermanos, essa galera é mais sem graça que uma punheta de pau duro em um sábado a noite às vésperas de um copo dágua antes do sono.

    Ascensorista Godofredo

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