Auto-psicanálise
Dedicado a Renato Ribalta
Dia desses acordei de um sono profundo. E ao meu lado estavam todas as
ferramentas, tudo sobre meu ofício, com o qual, ganho meu pão diário.
Revirei aqueles papeis xerocados, juntei todas aquelas folhas e as
sacudi bem forte. Estava irritado. Nada verteu do papel.
Ao sono profundo voltei depois do caso passado, e lá pelas tantas ouvi o
canto daquele maldito pássaro, que me acompanha das raias imaginativas dessa
prosa cansada que é a vida.
Naquele tempo, entre bolas de gude e jogos de futebol imaginários,
partidas inesquecíveis com jogadores memoráveis se desenrolavam em minha mente.
O estádio lotado gritava o nome dos artilheiros das competições que criava. Não
era raro que as finais daqueles campeonatos fossem eletrizantes, e que nos
acréscimos, aquele zagueiro turrão, de cabeça, empatasse a partida e que fosse
todo o destino do duelo, para as penalidades máximas. Não houve campeões em
minha infância, protelava meses e meses os finais daquelas partidas.
Acordei mais uma vez daquele sono profundo, e lá estavam os papeis
jogados, sacudidos e espremidos no chão.
Havia também pontas de cigarros.
Meus sonhos são cada vez mais a expressão de minhas fraquezas, e ando
lendo sobre psicanálise há uns dez anos por conta disso.
Desfechos ridículos. Humilhação. Zombarias me atormentam o sono.
Em minha biografia constará o quanto fui ridículo nos meus sonhos, e
também, como minha vida foi regada a ilusões, misticismo e muito pouca
sabedoria.
O lago perto de minha casa onde insiste em cantar aquele pássaro
tornou-se vazio, como a alma daqueles que não sabem direito como se dão os
desfechos das partidas decisivas.
Como aqueles, que não sabem desde alvorada fazer a partida empatada ter
um vencedor ao pôr do sol.
por Pássaro Bege
São os bichos querendo sair do cativeiro do superego.
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