Ode à punheta

2.11.15 Cabotino 1 Comentarios


A punheta é a única companheira inseparável do homem. Ela está sempre ali ao alcance de sua mão. 

Quantas vezes ela não salvou-me numa noite de sábado: solitário, sem dinheiro e triste. Ficava no meu quarto pensando, com o pau na mão, se valia ou não tocar uma bronha. Tudo vale a pena se a tara não é pequena. Masturbava-me. Bebia um copo d’água e ia dormir com uma placidez bovina.

Quem bate punheta não toma tarja preta.

O tempo que já gastei punhetando-me daria, com certeza, para escrever dois Guerra e Paz. No duro. Não me arrependo do tempo que gastei masturbando-me, até por que essa atividade lúdica é infensa à lógica capitalista do utilitarismo. 

Quem bate punheta não gosta de bater ponto. 

O punheteiro é o inverso do ascetismo intramundano. 

Ele é o Papai Noel que não fica de saco cheio, nunca.

Acredito que o cara que não se masturba é um forte candidato a cometer um crime sexual. A punheta tem uma função pedagógica, além de uma certa beatitude franciscana da humildade. Se levei um fora; punheta. Se não deu para rolar hoje; punheta. Se o dia foi uma merda; punheta. E assim, de mão em mão, a humanidade foi construindo este edifício social altamente responsável pelas civilizações: o onanismo.

Sem a masturbação, certamente a vida social seria uma quimera.

Existem vários tipos de punheta: tem a punk rock, aquela que não passa de três acordes, dura entre um minuto e meio e dois minutos. Sem floreio, vai direito ao assunto num ritmo frenético e feérico. 

Tem a tipo Bossa Nova, o pau meia-bomba por conta da concentração dissonante do modelo visual que inspirará o esporro. Até localizarmos a nossa “Garota de Ipanema”, ficamos em estranhas escalas no “braço do violão”. 

Tem a punheta hamletiana, que nos deixa cheios de dúvidas: bater ou não bater, eis a questão.

Tem a punheta Fernando Pessoa, aquela que vive mudando de personalidade, ora indo num ritmo moderno-acelerado (Álvaro de Campos); ora num bucolismo (Alberto Caeiro); ora classicista greco-romano (Ricardo Reis) ou finalmente na acedia (Bernardo Soares) em que, misteriosamente, nos vestimos e desistimos, alegando que não vale a pena, nada tem sentido, os astros nos são indiferentes...

O onanismo é o melhor amigo do homem, é o cachorro na palma da mão.

O onanista é o solitário solidário. Pois sabe que nada é pessoal, tanto que a masturbação é uma suposta solidão imersa em uma coletividade. Nunca estamos sozinho, e a punheta é a alteridade encarnada no vai e vem da mão.

Em tempos de “cálculos frios e egoístas”, a punheta nos ensina a partilhar o sensível. Sem ela, muito provavelmente, estaríamos destinados a um descarado interesse pragmático em nossas relações sociais.

A punheta é doce herança romântica em tempos burgueses.

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No vídeo, o curta-metragem: Zézero (1974) escrito dirigido pelo lírico da Boca do Lixo, Ozualdo Candeias. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=mUHaSCfy4R4> Acesso em: 2 de nov. 2015.

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