Ode à punheta
A punheta é a única companheira inseparável do homem. Ela está sempre ali ao
alcance de sua mão.
Quantas
vezes ela não salvou-me numa noite de sábado: solitário, sem dinheiro e triste.
Ficava no meu quarto pensando, com o pau na mão, se valia ou não tocar uma
bronha. Tudo vale a pena se a tara não é pequena. Masturbava-me. Bebia um copo
d’água e ia dormir com uma placidez bovina.
Quem
bate punheta não toma tarja preta.
O
tempo que já gastei punhetando-me daria, com certeza, para escrever dois Guerra e Paz. No duro. Não me arrependo
do tempo que gastei masturbando-me, até por que essa atividade lúdica é infensa
à lógica capitalista do utilitarismo.
Quem
bate punheta não gosta de bater ponto.
O
punheteiro é o inverso do ascetismo intramundano.
Ele
é o Papai Noel que não fica de saco cheio, nunca.
Acredito
que o cara que não se masturba é um forte candidato a cometer um crime sexual.
A punheta tem uma função pedagógica, além de uma certa beatitude franciscana da
humildade. Se levei um fora; punheta. Se não deu para rolar hoje; punheta. Se o
dia foi uma merda; punheta. E assim, de mão em mão, a humanidade foi
construindo este edifício social altamente responsável pelas civilizações: o
onanismo.
Sem
a masturbação, certamente a vida social seria uma quimera.
Existem
vários tipos de punheta: tem a punk rock, aquela que não passa de três acordes,
dura entre um minuto e meio e dois minutos. Sem floreio, vai direito ao assunto
num ritmo frenético e feérico.
Tem
a tipo Bossa Nova, o pau meia-bomba por conta da concentração dissonante do
modelo visual que inspirará o esporro. Até localizarmos a nossa “Garota de
Ipanema”, ficamos em estranhas escalas no “braço do violão”.
Tem
a punheta hamletiana, que nos deixa cheios de dúvidas: bater ou não bater, eis
a questão.
Tem
a punheta Fernando Pessoa, aquela que vive mudando de personalidade, ora indo
num ritmo moderno-acelerado (Álvaro de Campos); ora num bucolismo (Alberto
Caeiro); ora classicista greco-romano (Ricardo Reis) ou finalmente na acedia
(Bernardo Soares) em que, misteriosamente, nos vestimos e desistimos, alegando
que não vale a pena, nada tem sentido, os astros nos são indiferentes...
O
onanismo é o melhor amigo do homem, é o cachorro na palma da mão.
O
onanista é o solitário solidário. Pois sabe que nada é pessoal, tanto que a
masturbação é uma suposta solidão imersa em uma coletividade. Nunca estamos
sozinho, e a punheta é a alteridade encarnada no vai e vem da mão.
Em
tempos de “cálculos frios e egoístas”, a punheta nos ensina a partilhar o
sensível. Sem ela, muito provavelmente, estaríamos destinados a um descarado
interesse pragmático em nossas relações sociais.
A
punheta é doce herança romântica em tempos burgueses.
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No vídeo, o curta-metragem: Zézero (1974) escrito dirigido pelo lírico da Boca do Lixo, Ozualdo Candeias. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=mUHaSCfy4R4> Acesso em: 2 de nov. 2015.
KKKKKKKKk gênio incompreendido 4000QI
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