A inflação das confras
Todo
fim de ano repete-se o ritual: a movimentação para organizar as confraternizações.
É só novembro dar os primeiros passos e inicia-se, junto com os pisca-pisca nas
ruas, o alarido dos camelôs, a máfia glutona do Papai Noel e a música da
Simone, o clima do Natal.
Com
a aproximação do aniversário do Menino Jesus, assanha-se as repartições
públicas, os escritórios, o pessoal da sala de aula, os grupos do WhatsApp etc.,
todos em prol do reencontro do final de ano. São as confraternizações as
grandes responsáveis por manter velhos laços de solidariedade. Assim como a
expectativa do banquete pantagruélico regado à comida e bebida – as confraternizações
são pavimentadas por Engov e, no dia seguinte, Plasil.
Nestes
encontros, reúnem-se velhas amizades ao redor de muita comida e bebida. Os anos
acumulam-se, assim como os quilos na balança. A conversa transita pelos temas
de praxes: vida profissional, família, projetos futuros, filhos, e o aumento no
preço da cerveja e da carne.
Os
homens, geralmente sisudos, conversam amenidades na frente dos seus velhos
amigos: um cálculo formado nos rins no ano que passou; a mulher de pernas
adjetivas que conhecera indo ao trabalho; o rendimento do seu time no
campeonato brasileiro e o novo site pornô que descobriu há pouco.
As
mulheres, muitas vezes serelepes, conversam gravidades na frente de suas amigas:
um novo cabeleireiro que acertou no corte; a fulana que anda sumida por conta do
marido chato; umas varizes que andam incomodando e o último livro do Nietzsche
que acabou de ler.
Apesar
da grande chatice que muitas vezes envolve as confraternizações especialmente quando as conversas são direcionadas para às atividades do cotidiano, os projetos futuros e a fofoca, é bom rever
os amigos e relembrar as presepadas compartilhadas do passado.
Ter os amigos próximos da gente já é motivo de efusão, já que as contingências da vida não
permitem o constante contato físico de outrora. Abraçar um amigo, sentir que
sua barriga aumentou, os olhos já vão mais apagados, os cabelos prateando, as
rugas tomando posse do rosto e outras marcas do tempo, é saber que você fez e
faz parte dessa riqueza toda acumulada às duras penas do maçante dia a dia.
A
amizade torna a ideia da morte mais aceitável.
São
as confraternizações que atualizam o sentimento de carinho e
imprescindibilidade da presença do amigo em nossas vidas, muitas vezes de
maneira entediante e cansativa, sobretudo em anos de recessão econômica como o atual. Mas
venhamos e convenhamos, mas vale uma cerveja meia boca e não muita gelada
na presença de um amigo do que na ausência dele.
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