Mais um café Cirol Royal, por favor
Uma
placa com a fotografia de um rottwailer e com os dizeres: “cuidado, cão feroz”
alertava os visitantes indesejados. O cão estava protegendo uma edificação há
muito deteriorada. Um edifício vermelho, sem ornamentos, tipicamente erigido no
ideal estético do “estilo internacional” cuja a forma é a função. Em contraste
com o formato funcional da arquitetura do edifício, não havia mais nenhuma
função para a antiga fábrica do Café Cirol Royal, localizado no bairro de
Areias, Zona Oeste do Recife.
Passei
pela edificação inúmeras vezes desde sua franca capitulação. Dizem que o
proprietário morreu, deixando a fábrica para os filhos que não deram
continuidade ao negócio. Mas, só hoje percebi o quanto este café fez parte de
minha vida. Parece que as ruínas da antiga fábrica adentraram os odores da
memória e o paladar do passado. Desculpe-me, mas sou um saudosista
incorrigível.
O
café Cirol Royal é parte constituinte de minha infância, aliás, não só minha
quanto de toda minha família. A prova da recepção deste café no seio familiar é
que meu tio, quando vinha de férias todos os anos, oriundo do Rio de Janeiro, e
ao regressar, levava consigo um fardo do café Cirol Royal para a minha tia que
vive com ele na capital fluminense. Detalhe, ele viajava de ônibus na época.
Falo aqui não de décadas atrás, mas de no máximo quinze anos. Parece que
naquela época, tudo era impregnado de longevidade e, o café Cirol Royal fazia
parte deste expediente com o seu cheiro que empestou os recônditos dos espaços
afetivos de minha memória.
Às
vezes fico pensando como alguns itens de consumo fizeram e fazem parte da
biografia das pessoas e elas não se dão conta disso. Eles estão lá nas
fotografias de outrora, como as garrafas de refrigerante Bhrama e Coca-Cola
presentes nos almoços dominicais e nas festas de aniversário; os inúmeros
rótulos da cerveja Antarctica; os maços em box dos cigarros Hollywood; Free e
Charme (quem se lembra?).
Lembrar
do café Royal (a partir de agora só Royal porque ele é de casa) é lembrar de um
estilo de vida mais pausado, menos histérico, com menos bytes e menos polícia.
É lembrar do cuscuz com margarina Paladar ou Doriana, o pão com Cremutcho
(Mutcho, mutcho bom, quem lembra?), a cream cracker Pilar ou o pacote de
biscoito da Confiança, onde a preferência pelo de champanhe geravam grandes
entreveros nas famílias.
Aqui
em casa, o Royal era preparado no modo “soldado”: após ferver a água,
adicionava o pó e esperava o mesmo assentar. Depois servia. Lembro-me que aqui
em casa não tinha garrafa térmica, por conta disso, o Royal ficava no bule.
Mainha, se lembra daquele bule? Por onde anda aquele bule...? Era amaçado no
meio e seu bico parecia a embalagem do Pato, um produto de limpeza da época.
Nesta
apreciação, o café Royal foi sim visitante assíduo de minha casa, tal qual
aqueles amigos que nos visitavam e contavam as boas novas (o evangelho como diz
os cristãos) do bairro, de sua vida: o casamento, filhos, mortes, quem foi
preso, quem está doente, só que de repente, este amigo some do nosso convívio.
Às vezes porque apenas se mudou ou anda muito atarefado, outras vezes por conta
da “indesejada das Senhoras”, a morte. Hoje percebo que foi assim, de chofre,
que o café Royal saiu de nossas vidas – alguém que foi embora sem se despedir,
mas sua presença continua latente e pode ser resgatada como um objeto que está
ali na fotografia da memória, com sua embalagem rubro-negra e seus caracteres
desenhados sobre uma coroa, assim era a embalagem do café Royal.
O Café Royal era ponto de referência das kombis-lotação que vinham de Boa Viagem, o cobrador gritava nas paradas:"Aeroporto, Av. Recife, Jardim S. Paulo até o Café Royal". Isso foi lá pelos idos de 99-2000, eu tinha uma namorada japonesa que achava isso o máximo e ficava repetindo com seu sotaque nipônico. Ela, também, adorava o Café Royal, tomávamos umas canecas grandes de café, tinha que ser Royal, quando ela voltou pro Japão, durante algum tempo enviei alguns pacotes de Café Royal, até acabar o nosso romance e o Café Roayal, não lembro qual acabou primeiro. É isso, as coisas boas se acabam, ficam as memórias...
ResponderExcluirSr. Anônimo, você bem que poderia escrever sua versão sobre a experiência do Café Royal em sua vida, o que achas? Escreva e se for do seu desejo, nos podemos publicá-la aqui, pois do seu comentário pude perceber que o Royal foi figura de proa em sua memória, sobretudo com esse seu amor da Terra do Sol.
ExcluirAbraços!
Cabotino
Sr.Anônimo eu sou a prova viva que consumiu o Saudoso Café Cirol Royal eu Nasci na Maternidade Bandeira Filho no Bairro do Ipiranga pertinho do Bairro de Afogados e fui Criado no Bairro da Estância pertinho da saída do ônibus de Jardim São Paulo conheci tudo ali joguei até um Futebolzinho na Quadra da Royal que Ficava por trás da Fabrica onde eu morava na rua José Gomes de Moura sentia o cheiro do café e ainda escutava a sirene da entrada e Saída dos Funcionários me Lembro Muito das Fabricas da IPAM,BOMBRIL e a Sambra que ficava ou fica na Avenida Dr. José Rufino Estudei na Colégio Cenestita Santa Luzia participei muito da Procissão de Santa Luzia hoje moro a 120Km da Capital na Cidade de Quipapá quero te Agradecer e te Parabenizar pela bela postagem e historia do saboroso Café Royal Abração DEUS te Abençoe Abração!
ExcluirTRABALHEI NA ROYAL EM 2004, E POSSO AFIRMAR O QUE LEVOU A SUA FALECIA FOI A ARROGÂNCIA, A TEIMOSIA, A PREPOTÊNCIA E PRINCIPALMENTE A CENTRALIZAÇÃO PARA SI DAS MINIMAS AÇÕES\AUTONOMIA GERENCIAIS DO SEU DONO, (EDGAR WANDERLEY)!!!
ResponderExcluirO MERCADO JÁ NÃO PERDOAVA A EMPRESA QUE POR TEIMOSIA SE DAVA O DIREITO DE RECUSAR VENDER SEUS PRODUTOS AO BOMPREÇO, ALEGANDO NÃO VENDER POR PRAZO ACIMA DE 30 DIAS...UMA EMPRESA COM MAIS DE 40 ANOS SEU RAIO DE ATUAÇÃO E VENDAS LIMITAVA-SE ATÉ O ESTADO DA PARAÍBA... ALEM DE TUDO ISSO, DEPAROU COM A FORTE CONCORRÊNCIA DA RECENTE INAUGURADA VITARELLA, ISSO FOI O FIM DA FABRICA ROYAL.
Oi,sou aluna da escola André de melo que fica na estância, nós alunos estamos fazendo uma pesquisa pelo bairro para nossa feira de ciências, e a gente foi na fábrica para saber mais sobre ela mas infelizmente os moradores nao conseguiram falar muito sobre ela , já que você trabalhou na fábrica , será que você poderia me ajudar para a feira de ciências me falar mais sobre a fábrica , entre em contato comigo se você quiser me ajudar meu zap é 081984184421 , ficarei grata se você me ajudar com isso !
ExcluirNos meus 42 anos de vida sempre fui vizinho do Café Royal sentindo o cheirinho do Café que torrava antes de amanhecer. Em todos os Natais, pessoas vinham de várias partes ver o presépio que era montado no Jardim Da Cirol Royal, com uma imensa estrela de Belém que descia do topo do prédio até o presépio... Obs: O proprietário, Seu Edgar, como é conhecido aqui na vizinhança, ainda é vivo. lindos dias!
ResponderExcluirA marca foi vendida mês passado pro grupo 3 corações. E alguns dias atrás o café cirol (sem o Royal) foi reinaugurado. O letreiro em neon vai voltar ao pina relembrando ao passado. Porém o antigo prédio sede (que não foi a leilão) continuará em ruínas no bairro da estância.
ResponderExcluirEspero que tenha o mesmo cheiro e sabor do antigo Café RoYal, Honestamente Café
ResponderExcluirNão vamos esquecer que naquela mesma fábrica da Av. Recife, se produzia e vendia o macarrão. Morei nas proximidades. Lembro também do café moído na hora nas padarias, mas ai já é outra história.
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