Sob fôlego

4.11.14 Unknown 0 Comentarios


Dessa vez eu não vou conter o meu ímpeto de escrever sob fôlego, uma crônica de fôlego curto. Essa coisa ainda me mata, o cigarro. De certo não é o ofício que me traz essa prosa asmática. Mas como quem pensa demais não casa, faço assim: primeiro coloco minha bunda na cadeira e escrevo, penso nas vírgulas só depois da frase pronta. Tenho poucos revisores para essas horas, poucos e impecáveis, diga-se de passagem; talvez o Pássaro ande ocupado demais com essa coisa de querer ser “Pacheco”, e não esteja percebendo que eu já dei tchau ao “Plunct Plact Zum” faz é tempo.  

Cavuco, cavuco e cavuco, e não consigo achar coerência nesse jogo de gato e rato, mas daí, quando quero findar o processo, surgem-me as coisas das quais eu não consigo me livrar: Canetas, lápis, cacos de telha, pedaço de gente morta, pincéis, dedos, dedos e mais dedos. Quero parar de pensar pelo dedo! Quero querer que me guiem a parcimônia e a sobriedade das mãos, mas me vejo de novo envolto em jogos e peripécias que adiam a chegada daquilo que nem mesmo chegou chegando direito.   

Pronto, dei uma pausa. Passaram-se cinco minutos de relógio de ponteiro largo até esse momento. Coloquei o cigarro no cinzeiro, cinzeiro que é a expressão física do que estou querendo lhes transmitir. Reli tudo o que havia escrito até aqui, sem pausa, e é só quando começo a desenhar o desfecho dessa coisa estranha que percebo, do nada, começarem a brotar pés nos meus dedos indicadores. Diante dessa lombra pesada, recuei 50 centavos. Além do mais, amanhã é dia de tromba, e eu não posso me deixar levar por questões oceânicas, que não possuo prancha para surfar. O que a mim não compete agora é fingir que, na verdade, toda essa epístola asmática foi feita só para dizer que entre os arrudeios há sempre o cruzamento de pontos equidistantes, que jamais se viram na vida. Procurem aí, por favor, os tais pontos, se quiserem, que eu já estou com preguiça de ler tudo isso de novo. Avisei no começo, estou sob fôlego.


Créditos da imagem: Andreas Franke: The Sinking World. 
Disponível em: http://www.thedesignstorytellers.com/andreas-franke-the-sinking-world/

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