Causos 35: A vergonha alheia

4.9.11 Castanha 2 Comentarios


Na sexta série tinha duas Joices. Duas delícias, apesar de serem tão novinhas. Uma era grandona com peitão, bundão, pernão e tudo o mais; a outra era baixinha e não tinha peitão, mas nem por isso era menos gostosa. Eram os sonhos de consumo de muitos meninos da escola. Depois que eu cresci mudei um pouco o gosto; hoje gosto mais de peitinho, daquele que cabe na palma da mão, e vejo mais graça nos quadris das mulheres do que nos bundões, mas na sexta série, quando eu tinha doze anos e estava no início da puberdade, elas eram um sonho. Por essa época eu descobri a punheta e muitas vezes me diverti sozinho pensando em Joice e Joice. Elas nunca souberam.
Acho que Joice e Joice sabiam que eram cobiçadas, que alimentavam as imaginações alheias, talvez sim talvez não. Não lembro se eram amigas, inimigas ou simplesmente distantes, acho que estavam mais para esta terceira opção. Mas, tem duas coisas que eu lembro bem: A primeira memória é da feiura do namorado de Joice, a baixinha, e por isso cada um de nós pensava “Se ela fica com ele porque que ela não fica comigo?”. Pensando nisso, hoje, acho que talvez ela nunca fosse ficar com nenhum de nós porque não tínhamos a menor coragem de dar em cima dela. Mas, voltando ao namorado, o cara era um horror, parecia um Frankenstein com aquela cara amassada, mas era ele quem encontrava com Joice todo dia depois da escola e a gente ficava lá longe, olhando e babando. A outra memória é de um dia qualquer em que estávamos em aula e alguém chegou à porta procurando por Joice, aí a grandona mal levantou e já foi se alegrando com um buquê de flores que o visitante mostrara, e que até então estava meio que escondido. Joice recebeu as flores com um sorriso enorme, tão grande quanto seus peitos, e sentou-se respondendo a uma coleguinha que lhe interrogava “Não sei quem enviou, mas quero saber”. Passados alguns segundos a Joice baixinha levanta vai até a grandona, pediu licença, leu com muita atenção o bilhete que estava nas flores e falou “São pra mim”. Tomando em suas mãos aquele presente, tão cobiçado por tantas mulheres, ela volta caminhando linda e gostosa pra sua cadeira, enquanto Joice, a grandona, ficava rubra e sem graça.
Esta cena me deixou pasmo e me deixou com uma vergonha profunda pela vergonha dela.


Castanha 03/09/2011

2 comentários:

  1. Eu acho que Joice, a grandona, deve contar, até hoje, essa história para seu analista.

    ResponderExcluir
  2. É igual a responder um tchau na rua , achando que era pra você, quando na verdade era para uma pessoa atrás de você. Ótimo texto ;)

    Rico Santana

    ResponderExcluir