Inveja das latitudes alheia

27.9.11 Cabotino 3 Comentarios




“Eu vou me mandar de trenó
Pra Rua do Sol, Maceió”
Curioso como nós felizes tupiniquins, vivendo nesses tristes trópicos, sem pudor de mostrar as nossas vergonhas como diria lá o Sr Caminha, invejamos o frio e a neve dos países de climas temperados e glaciais. Será que esse nosso anseio climático está no horizonte de uma possível conquista civilizatória através da conquista de um habitus que calce luvas, use pulôver e que coma fundir acompanhado de vinho tinto?
Os meses de junho, julho e agosto são bem significativos para nós brasileiros no que se refere à mudança de papéis sazonais, uma espécie de micareta climática que usa cachecol e botas. São os meses que fazemos a desforra dos hemisférios, são neles que nós descontamos as promissórias do nosso sol gestante de 270 dias ao ano com uma taxa de juros na media de 30º Celsius dia, e o enviamos para o outro lado do hemisfério.
Neste período basta assistir qualquer noticiário para constatar como a nossa auto-estima se modifica, não temos mais as nossas vergonhas à mostra, estão sobre os nossos nobres tecidos da coleção outono inverno da grife Civilização. A chamada do noticiário aponta logo a novidade: nevou na serra catarinense, geada no Rio Grande do Sul e São Paulo vai ter a noite mais fria do ano. Daí surge o comentarista da metereologia, uma espécie de arauto do reino da felicidade glacial, apontando quais áreas serão contempladas com o IDH da neve, como se esta não passasse de água suja caída do céu e aquele um índice abstrato que não mede coisa nenhuma.
Descemos tão baixo não só nos termômetros como também em nosso senso de ridículo, estamos iguais aquelas garotas de 16 anos cuja pele já rosada é ressaltada pelo ruge, o exemplo disso foi uma cidade do sul do país que construiu ou importou (o mau gosto não tem made in) uma máquina de produção de neve artificial, para acalentar os anseios ávidos de frio dos turistas frustrados que se esqueceram de combinar seus cartões de crédito e suas máquinas fotográficas com a teimosa neve que resolva ficar encerrada no céu.
A falta que a neve nos faz chega às raias do absurdo quando se refere aos Festivais de Inverno das cidades do interior nordestino, sentir frio por esses rincões seria uma espécie de vingança agasalhada de nossa condição tropical e tétrica. Existe até uma cidade apelidada de Suíça pernambucana, acho que o mais próximo que chegamos do país onde poucas coisas começam, mas, onde muitas se desfazem é no chocolate dos restaurantes e nos relógios dos turistas.
Neste período do ano de temperaturas um pouco mais agudas damos o Bye, Bye, Brasil! E como no filme homônimo do Cacá Diegues, tentamos nos modernizar com os projetos, o clima, os cacoetes alheios e ficamos tal qual o Lorde Cigano (José Wilker) tentando fazer nevar no Sertão de nossa condição.

Por: Ascensorista Godofredo

3 comentários:

  1. Porra , licença para um ducaralho!!
    Que texto massa pow rsrsrsrs

    Uma síntese de um projeto invejoso tupiniquim
    Nos paraísos ficais e artificias dos relógios suiços

    rerere

    Rico Santana

    ResponderExcluir
  2. É o nosso "complexo de vira-latas climático". O brasileiro é um cão vadio, não tem mesmo jeito.

    ResponderExcluir
  3. Pois é meu amigo Godofredo, nós temos de tudo para amenizar nosso complexo de vira lata: Suíça pernambucana, Veneza brasileira, colônias de europeus bem lá no sul e por aí vai... Triste Brasil, querendo ser os outros e esquecendo de si mesmo.

    ResponderExcluir