Deu num Coqueiro

9.9.11 Joarez 2 Comentarios


Quando eu tinha 13 ou 14 anos, época de minha primeira desilusão amorosa, um amor não correspondido, deu-me na cabeça escrever um livro. A grande obra conteria poemas, contos, crônicas e toda sorte de escritos que me desse na telha. Levei o assunto, muito sério, até minha mãe, que fez pilhéria. Ela me disse que uma pessoa na minha idade ainda não tem nada a dizer. Abatido, fui falar com minha irmã, que num primeiro momento me animou. Renata me falou que eu teria sim algo dizer, afinal, as experiências de vida são singulares. Sorri. Mas ela completou: - só duvido muito que você tenha algo de importante para dizer. A pancada doeu no peito. Mas fui forte e voltei para conversar com minha mãe. Desta vez, só usando a primeira metade do argumento de Renata, sobre experiências únicas e peculiares. Dei azar. Minha progenitora agora não gracejou, foi taxativa: - literatura nunca deu futuro a ninguém. Nem futuro, nem dinheiro. Não encontrando alento para meus sonhos no leito familiar, fui ter com um amigo da escola, Moacir, que me pareceu muito esperto e prudente para sua idade me alertando sobre os custos de impressão e divulgação de um livro, o disputado mercado editorial, a dificuldade de um autor novo conseguir seu espaço e muitas outras coisas. Concluiu seu argumento dizendo que não eu me chateasse, mas essa coisa de lançar livro é para quem gera na alta, o que, estava claro, não era o meu caso. Não encontrando em parte alguma quem me animasse em minha empreitada, decidi abandonar o projeto. Rasguei do caderno todas as folhas que continham os escritos do meu ex-futuro livro, fui no beco da casa de Seu Chico, antigo monopólio de doces e guloseimas de Tejipió, e enterrei tudo. Foi um momento difícil. Mas eu superei. Conto toda essa história para dizer que, semana passada, voltando ao local do sepultamento de minha primeira obra literária, vi que em cima de sua cova nasceu um lindo pé de coco. E eu estou aqui satisfeito, vaidoso, imponente, altaneiro, para dizer a todos aqueles que afirmavam que meu livro não ia dar em nada: - deu sim, deu num coqueiro.

2 comentários:

  1. rsrsrsrrsrs poderia dar uma floresta inteira, meu caro Juarez.

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  2. O bom é beber essa água de coco! Agora sei quem botou essa água lá dentro ;)

    Rico Santana

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