Crônica do Vale do Catimbau
A caminho da primeira trilha soubemos que nosso guia era
índio. O senso comum não sabe que boa parte dos índios são miscigenados e moram
em casas, resultado da colonização de outros séculos. Pensam, portanto, que
moram todos em malocas. Marcio, o jovem índio que nos guiou, caminha desde
garoto por aquelas terras e conhece plantas, caminhos, histórias, pessoas e
outros elementos que formam o local. Aquele enorme local. O Vale do Catimbau,
gigantesco, está entre o agreste e o sertão. A aspereza da região alinha-se com
a beleza de seus sítios. Pedras enormes, em todos os lugares: grandes e
pequenas, com nomes populares e científicos, pedras firmes e desmancháveis como
areia, pedras que estão ali há tanto tempo que são anteriores a linguagem
humana e a criação da palavra “pedra”. Pinturas nas paredes: Estão ali há quase
sete mil anos (nos disse o guia); o próprio Cristo nem pensava em nascer por
aqueles tempos. O vale inteiro existe pomposo e quem pisa naquele chão e vê
aquelas paisagens deve sempre lembrar que somos pouco, quando estamos
envolvidos por tudo aquilo. E tudo aquilo é igualmente pouco, quando é
comparado e envolvido pelo planeta e pelo universo e por tudo mais. Neste
intermédio, sendo maior que qualquer um de nós e menor que todo o resto, o Vale
do Catimbau ensina as dimensões da existência.
Castanha 06 de fevereiro de 2015
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