A Hora do Metrô
Inicio da noite na estação
central do Recife, só quem usa o metrô todos os dias sabe o que isso significa.
Pessoas correndo para chegar rápido à fila da bilheteria; gente na fila dos
caixas eletrônicos retirando seus últimos trocados antes que o banco cobre
alguma taxa extra; gente na fila da catraca para passar o seu VEM trabalhador. Depois
disso, o cidadão que vai para Camaragibe ou Jaboatão, ainda de cabeça baixa
guardando seu cartão de passagem no bolso, levanta lentamente a cabeça olhando
para a escada rolante torcendo para que ela esteja ligada, porque, depois de um
dia longo e cansativo de trabalho, você quer mesmo é algo que te carregue. No
entanto, essa não era uma noite feliz, os deuses não estavam olhando para
aquele lugar. Vendedores de todos os tipos vendendo de tudo, de pipoca a descascador
de legumes e frutas, fazendo daquele lugar o seu ganha pão; pessoas cansadas,
sentadas, aguardando o movimento de passageiros diminuir para pegar o metrô
“vazio”; acredito eu que, na verdade, eles sentam ali à espera de que a escada volte
a funcionar. Finalmente, após descer as escadas, percebo um tumulto gigante,
são as pessoas que não conseguiram acesso à plataforma de embarque; não cabe
mais ninguém lá! Pessoas com seus smartphones filmando e fotografando tudo com
um sorriso no rosto, como se aquilo fosse um cartão postal da cidade – posso
apostar que já é! Em seguida, escuto o barulho do metrô vindo, e é Camaragibe (depois
que surgiu o terminal integrado do TIP, o Camaragibe passou a ser mais lotado
que o Jaboatão). Daí, todos esperam o metrô abrir as portas para conseguirem
uma cadeira, assim que ele abre as portas, é o momento em que você contempla a
real natureza humana: mulheres, idosos, crianças, todo mundo desafiando as leis
da física para alcançar o tão sonhado lugar. Não é uma cena bonita de se ver,
eu apenas observo e entro depois, tenho a sorte de trabalhar o dia todo sentado
e não me importa viajar 30 minutos em pé até minha estação; o que mais me impressiona
é o clima de alegria daquelas pessoas, como se tivessem acabado de participar
de uma gincana em alguma colônia de férias, ao conseguirem um lugar. Aí amigo,
chega a Estação Joana Bezerra, e as leis da física são desafiadas novamente. Assim,
você percebe que sempre dá para entrar mais alguém, e aquele cara de quem você
estrategicamente se distanciou - pois exalava algo podre de sua pele - acaba
ficando exatamente na sua frente com os braços levantados segurando nas barras
de ferro. Nessa altura, o metrô já está tão lotado que nem os vendedores ambulantes
ousam entrar, mas os pregadores estão lá, no meio daquela muvuca, esbravejando
em nome do senhor, em um barulho gigantesco que tenho certeza que até Jesus põe
o protetor auricular naquele momento... É na hora do metrô que eu fico por dentro
das tendências musicais do próximo verão, e é lá dentro que percebo que não
existe esperança. Só quando chego na estação coqueiral é que me liberto daquilo
tudo, momentaneamente, porque amanhã tem mais.
por: Kleyton Rezende
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