Pensamentos infantis de um homem sem infância

14.1.15 Foi Hoje! 0 Comentarios


Provavelmente vivemos umas das piores épocas para se educar um filho, principalmente porque vivenciamos uma fase evolutiva completamente digital, onde é muito difícil mostrar para o seu filho o quão prazeroso é jogar bola em chão batido, rodar pião, bola de gude, empinar pipa, etc. Os poucos campos ou quadras de futebol deram lugar a especulação imobiliária, bloqueando o sonho de muitos garotos pobres de serem jogadores de futebol. Pião e bola de gude nem rola mais, não dá para brincar disso no asfalto ou no chão cimentado dos quintais de nossas casas que foram “induzidas ao progresso” visual, dando um aspecto mais sofisticado a nossa moradia.

Hoje existe uma infinidade de fios nas ruas, fios da modernidade: internet, telefone, o escambau! Até o varal de roupas sucumbiu à globalização aderindo aos cabos de redes não usados para nos conectarmos ao mundo. Isso inviabiliza muitas vezes o prazer de empinar uma pipa feita com as palhas de um coqueiro, se bem que até as palhas estão difíceis de achar como outrora. Lembro com saudades dos bons tempos onde crianças corriam nas ruas e sabiam subir em uma árvore, tenho saudades daquela “ignorância” onde os pedidos de presente ao papai Noel eram uma bicicleta ou uma pipa nova com as cores do santinha.

Como era bom subir em árvores frutíferas e saborear uma suculenta manga espada, por vezes lembrando o que minha vó dizia sempre sobre a mistura letal da manga com leite, nunca entendi essa lógica, mas respeitava a sabedoria dos mais velhos. Lembro como era extremamente importante esconder os ferimentos de um dia mais arriscado, pois, álcool e vinagre tinham funções educacionais.

Ainda mais difícil é educar um ser humano gerado por você e tentar inserir esse conceito de infância feliz quando o educador não viveu tudo isso. Porém, tenho a consciência de que houve um tempo onde o fato de não saber como usar um dispositivo touch screen não tinha a menor importância, porque a alegria estava em correr, pular e interagir como as outras crianças, mesmo que as vezes essa interação viesse por meios violentos, como quando alguns mais “espertos” queriam nos enganar no “palmo e teco”, em um tempo onde passávamos de fase no jogo da vida e da socialização sem medo do game over.



Texto de Kleyton Rezende

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