Pensamentos infantis de um homem sem infância
Provavelmente vivemos umas das
piores épocas para se educar um filho, principalmente porque vivenciamos uma
fase evolutiva completamente digital, onde é muito difícil mostrar para o seu
filho o quão prazeroso é jogar bola em chão batido, rodar pião, bola de gude,
empinar pipa, etc. Os poucos campos ou quadras de futebol deram lugar a
especulação imobiliária, bloqueando o sonho de muitos garotos pobres de serem jogadores
de futebol. Pião e bola de gude nem rola mais, não dá para brincar disso no asfalto
ou no chão cimentado dos quintais de nossas casas que foram “induzidas ao
progresso” visual, dando um aspecto mais sofisticado a nossa moradia.
Hoje existe uma infinidade de
fios nas ruas, fios da modernidade: internet, telefone, o escambau! Até o varal
de roupas sucumbiu à globalização aderindo aos cabos de redes não usados para
nos conectarmos ao mundo. Isso inviabiliza muitas vezes o prazer de empinar uma
pipa feita com as palhas de um coqueiro, se bem que até as palhas estão difíceis
de achar como outrora. Lembro com saudades dos bons tempos onde crianças
corriam nas ruas e sabiam subir em uma árvore, tenho saudades daquela “ignorância”
onde os pedidos de presente ao papai Noel eram uma bicicleta ou uma pipa nova
com as cores do santinha.
Como era bom subir em árvores
frutíferas e saborear uma suculenta manga espada, por vezes lembrando o que minha
vó dizia sempre sobre a mistura letal da manga com leite, nunca entendi essa
lógica, mas respeitava a sabedoria dos mais velhos. Lembro como era extremamente
importante esconder os ferimentos de um dia mais arriscado, pois, álcool e
vinagre tinham funções educacionais.
Ainda mais difícil é educar um
ser humano gerado por você e tentar inserir esse conceito de infância feliz
quando o educador não viveu tudo isso. Porém, tenho a consciência de que houve
um tempo onde o fato de não saber como usar um dispositivo touch screen não tinha a menor importância, porque a alegria estava
em correr, pular e interagir como as outras crianças, mesmo que as vezes essa
interação viesse por meios violentos, como quando alguns mais “espertos” queriam
nos enganar no “palmo e teco”, em um tempo onde passávamos de fase no jogo da
vida e da socialização sem medo do game
over.
Texto de Kleyton Rezende
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