Eu ou Ele

8.1.15 Foi Hoje! 0 Comentarios








Você pode me chamar de egoísta. Você sabia que entre qualquer pessoa e eu, eu seria eu; eu sou eu. Eu que tenho um poder de sair de mim, fugidio, por momentos, uma sombra, uma sombra para eu mesmo.

Depois disso, o olhar murcho, o bico.

Sim, começo sempre com meus tenhos, queros e quandos. Saio, saio e volto a escrever mentalmente, a fabricar imagens inexistentes, mergulho no meu mundo, me encontro com ele e comigo. Ele que vive em mim, por trás da maior cortina, - há sempre um ele em nós.

Passos, só, sol, janelas e ônibus, centro.

Conversava com um amigo meu, que porra tem a janela de ônibus para nos fazer pensar tanto? Como se precisasse... Como se precisasse de uma janela para cair absorto em pensamentos, O que mais faço é me desligar! digo a ele.

Eles, passos, pipoca, fumaça e cigarro, margem.

Não vou voltar, voltar e ver aquele bico, aquele olho murcho, Para quê? De que adianta? Odeio bicos. Se tem bico, canta!

Até os pássaros se escondem, acho que já li isso em algum lugar...

Revelo-me. Não, não peço desculpas e nem perdão, não sou Eu que errei. Foi ele! Ele! Revelo-me, não sou como queiram, mas como eu sou; ou como ele quis.

A vida é um cair/ E até os pássaros na cidade já são agitados/ É preciso estar cheio de ar para subir.

Isso! Subo, elevador de mim, cobertura.

Tenho que voltar, aos bicos, aos olhares murchos, aos eles. É preciso invadir para ser eu.

Nem me lembro quando começou, às vezes tudo volta, fácil, parece o real. Como um jogo simples de memória. Outra hora tudo cai, como os pássaros. Isso! Mas agora tudo se mantém. Saí, dos olhares murchos e do bico. Fui ali. Não quero cair, não sou pássaro.

Um eterno querer subir, volto, faca só lâmina. Fico imaginando a lâmina perfurando minha carne, atingindo meus órgãos; estômago. A lâmina queimando rápido e lentamente, a lâmina quente. Porque uma lâmina sempre queima, sempre é quente.

Volto, o espelho que deixastes na mesa permanece. Quebro, não quero voltar a ver bicos, olhos vazios ou pássaros. Agora tudo é várias lâminas no chão.



por Rodrigo Camarote 

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