Os textos que eu perdi

5.1.15 Unknown 3 Comentarios


Àqueles que me atormentam antes de dormir, à noite ou já no espreguiçar do sol, e depois somem sem deixar vestígios;

Àqueles que me afligem numa viagem de ônibus, principalmente quando estou desguarnecido de papel e caneta;

Àqueles que rodeiam o pensamento durante dias, semanas, verdadeiras dores de cabeça, obsessões da pele e da alma, mas que fogem quando veem uma folha ou tela em branco;

Àqueles que se foram para uma lata de lixo junto com extratos de conta zerada, faturas não pagas e preocupações de um semestre letivo, exatamente como o texto do Madrazzo;

Àqueles postos em papel, escritos, materializados, mas que, por algum motivo que só divã poderá esclarecer, jamais se tornaram públicos;

Aqueles que a covardia, o medo ou a timidez me impediram até mesmo de corporificar;

Àqueles perdidos por alguma pane ou erro do programa de edição, e lamentados até última vírgula;

Àqueles que foram escritos em papel com esmero e em forma de carta e até hoje aguardam serem endereçados, mofando dentro de algum caderno na estante;

Àqueles outros pequeninos, bilhetes, enviados em forma de presente, colocados na bolsa ou no estojo, dentro do livro ou bolso da calça, mas que jamais foram lidos por descuido, desatenção ou relaxamento de quem os recebeu;

Àqueles que rejeitei;

Aos, enfim, textos que perdi. Às relíquias que ficaram no quase. A essas incompletudes, lacunas, suspensões, que dizem (podem dizer?) mais de mim do que aquilo que sobreviveu e ficou registrado.

3 comentários:

  1. Àquele que perdeu meu texto, não guardo máguas. Me redestes, até, dois outros textos tão nojentos quanto aquele.

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    1. Essa peleja entre Madrazzo e Joarez está rendendo mais do que notícia ruim em boca de fofoqueira. Chamem para a conversa os "lépidos" Pássaro Bege e Coruja Felixberto que, fiquei sabendo, andam perdendo texto um do outro.

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    2. Calango Albino06/01/2015, 20:19

      Tentei comentar por duas vezes o texto mais recente do Madrazzo... meu comentário vinha em forma de texto, brincando com a dualidade ausência x presença, felicitando a presença, mas não desmerecendo a ausência, posto que o ausente concreto pode ser o voyeur simbólico, fiel expectador que se faz presente sem se manifestar e não deixa de estar ali, demasiado próximo, mesmo que camuflado.
      Perdi duas vezes o comentário no limbo virtual, nos interstícios entre o botão "publicar" e o "visualizar", sabe-se lá Deus por quê. Inconsistências da condição fluída e efêmera das palavras jogadas na rede, sem antes terem sido "salvas" ou "copiadas" por segurança.
      Talvez eu precise voltar aos velhos hábitos, o papel rescunho, quem sabe, deva se fazer mais presente novamente na minha mesa.
      Camarada Joarez, sempre fui mais afeito às entrelinhas, o "não publicado" na publicação e agora acabo de descobrir com "Os Textos que Perdi" que é possível gostar mais ainda delas, bem como ficar mais curioso pelo "não publicado", pelos textos que perdemos.

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