Um caso de sorte

16.10.14 Unknown 0 Comentarios


Queridos e escassos leitores (a maioria os próprios companheiros de blog, por supuesto), eis que o Prosador está de volta depois uns tempinhos, conforme prometido, e com o tom mal humorado de seus escritos aplacado, como ficou acordado também. Retornei sem motivo claro, sem impulsão aparente, assemelhando-me àquela pessoa que volta ao ponto anterior, um lugar onde estava, para refrescar a memória, reaprumar a direção, achar algo muito importante que se perdeu, muito embora não se saiba o quê exatamente.
Tenho reparado as redes sociais nas últimas semanas, partidários da estrela já nem tão brilhosa, partidários da ave de rapina, o quentíssimo e acalorado tema eleição, que sempre resvala naquilo que em tempos de programa eleitoral parece ser o mal original, a corrupissaum, discursos moralistas, etc, ai meu deus, que canseira! 
Mas não vamos dar panos para a manga, caso contrário em dois tempos alguém invade nosso estimado espaço e me acusa de estar fazendo campanha para tal candidato, começa a jogar aquelas restégues cabulosas, e a amizade, inevitavelmente, enfraquece.
Relatei semana passada um caso ímpar e raro da mais autêntica sorte. Na lotérica recém-inaugurada, dois amigos tripudiavam da aposta de um terceiro. Todos os dois versados em estatística e probabilidade, anos de jogo e bênçãos de mães de santo:
 Ei, mago — falaram comigo , tu já viu alguém apostar na dezena 01? Quantas vezes tu já viu ela saindo? Apostando nisso, o cabra não ganha nem um picolé, é ou não é?! E jogar cinco dezenas ímpares, qual a chance de sair cinco dezenas ímpares, uma atrás da outra, na sequência? Na moral, bicho...
Ao relatar as cada vez menores chances do colega, os experts riam e chacoalhavam em frente à lotérica, dividindo deliciosamente uma carteira de Derby Prata. O alvo das piadas se contentava em dizer apenas "se eu ganhar alguma coisa, não dou nada a seu ninguém".
Há quem diga e sustente que o cara é estudado e deu uma doido, não quis discutir pra não dar trela. Há também quem fale à boca miúda que aconteceu só de pirraça, só na fuleiragem, pra queimar a língua dos dois palhaços, mas o fato inescapável é que o nosso amigo tripudiado arrastou um prêmio da loteria federal. Coisa pouca, é verdade, coisa de uns cento e poucos reais, tudo aquilo que o terno da quina dá direito. Mas, ora, ele bateu!
E não fez cara de espanto, nem se fez de rogado. Levou a companheira à pizzaria recém-inaugurada, duas pizzas napolitanas como é o gosto dela. Voltou de tê-xis pra casa. Parou no boteco, desceu uma garrafa de Professor, bebeu e se lambuzou, riu e parodiou a noite toda. No dia seguinte curtia uma ressaca mansa, enquanto baforava uma carteira de Hollywood, conseguida ainda com umas patacas que lhe restaram do prêmio. Por volta das três da tarde, horário já conhecido dos apostadores das redondezas, os dois amigos passam em frente a sua residência e lhe convidam para ir fazer uma "fezinha". Hoje não, ele disse. Vou dar um tempinho, a gente tem que saber fazer, tem que levar as coisas na maciota... e, sobretudo, não pode abusar da sorte - finalizou.
Esbarrando em tamanha fortuna e virtuosidade, haverá quem se atreva desdizê-lo?

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