O caso do ônibus ou Onde prevaricam os virtuosos

30.10.14 Unknown 0 Comentarios


Qual a distância que separa a solidariedade do asco? Qual a ponte que liga a caridade à indiferença? Como conseguem andar juntas essas duas pontas aparentemente inconciliáveis? Em que se assenta esta junção perversa?  Para quem se dirige a ajuda: para quem, de fato, precisa, ou para quem necessita despojar sua própria consciência de uma sobrecarga moral? Onde está a impureza de quem se humilha visando resguardar um pouco de dignidade e brio? Qual a mortalha que recobre o que é traiçoeiro, desonesto, ferino e indecente e só deixa à mostra o que é probo, correto e íntegro? Onde foi que a virtude esqueceu a si mesma e se transformou no seu oposto? Se conseguirmos responder a uma destas perguntas, talvez estejamos na pista para explicar a atitude de quem concede um "auxílio" ou uma "esmola" a uma pessoa no ônibus e não é capaz de dividir com ela o mesmo espaço, de pôr-se tranquilamente na cadeira do corredor enquanto ela contempla a paisagem da janela andante. Talvez, também, estejamos no caminho para entender este ato tão cioso de benevolência e compaixão mas que, em verdade, discrimina, isola, e no fim, desumaniza.

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