DEIXA EM PAZ O MEU MISTÉRIO
Sabe lá o que um
mortal que dedica sua vida à educação inventou de pensar no dia 15 de outubro? Um
mistério. É isso mesmo, esse mortal pensou em mistério, aquilo que pra muita
gente é transcendental, pra outros é sagrado, pra outros ainda é fonte de
renda, afinal sob a capa misteriosa muitos pregadores angariam mais cifrões pro
seu “dizimado” salário, pra mim mistério é algo muito humano, muito próximo e
até essencial.
Fico de cá
falando em mistério porque todo mundo vai mandando mensagem de “parabéns professor...”
e frases com esse mesmo fim, mas o que faz esse devotado a Nancy pensar sobre
sua vida laboral na sala de aula é o mistério. Sempre me deixou incomodado os
descaminhos que essa palavra tomou, pra muitos o mistério é sinônimo de segredo,
oculto, velado. Na verdade mistério (MÍSTICO) é aquilo que é intimo aquilo que
é próximo e nos conecta com o outro. Fico
vidrado nisso: mistério é a capacidade de estar em intimidade com o outro. A relação de um casal é algo misterioso, a
parceria de pais, mães e filhos é misteriosa, a cama e seu tablado para dois ou
mais corpos se encontrarem é misteriosa, a cerveja que junta à galera depois da
aula ou do trabalho é mistério puro meu amigo.
Tu já deves
saber onde quero chegar, o que me liga a escola é o mistério que me coloca
inteiro nesse espaço. Há uma intimidade entre o que faço com quem faço:
professores, estudantes, suas vidas e a alegria de encontrar algumas trilhas
com a rapaziada e dar fé de que estamos num processo de formação... Contribuir
com a formação de outro humano é intimo por isso mistério.
O cansaço por nunca
retroceder no passo também é misterioso, é intimo a todos e todas, nós
professores e professoras. É o debulhar de nosso trigo.
Com efeito, olha
a gota que salta... Será que deixa em paz teu coração? Não me anima ser tratado
como caso de polícia e figurar entre as chacotas de quem sabe que a vida nunca
será tranquila pra quem tem por ofício o piloto e a lousa. Não quero nem me perder falando do Eduardo
Campos que agora acredita ter uma REDE preguiçosa pra deitar. O Presidenciável
das Princesas não sabe o que é piso nem salário. Certamente quem vive a
espezinhar trabalhadores e trabalhadoras da educação está acabando com seus
sonhos, sua saúde, sua capacidade física, intelectual e financeira de avançar
em sua formação permanente e isso já é uma desgraça, no entanto, desconfio
daqueles que vivem do martírio diário da professorinha, acredito que estes já
sabem que não roubam só as garantias trabalhistas do professor, o pior está à
frente, descaradamente começam a minar em nós o mistério-intimidade que ergue
nossa prática e aí não quero mais aceitar nada! Deixa em paz meu coração, por
favor! Já sei que essa tortura não tem nada haver com desatenção e por isso, em
defesa do meu mistério, eu decreto ESTADO DE GOTA D’ÁGUA no meu ofício e digo
logo: nem venha! Porque dentro de mim já armei explosivos e só meu mistério há
de deixar em paz meu coração.
Por: Taumaturgo de Nancy
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