Na falta do sono...

18.4.11 Castanha 1 Comentarios


Mais um cigarro pra o sono vir e ele não veio; eu já sabia que ia ser assim, mas fumei; por vício ou por insistência? Tanto faz. Mais um banho frio pra o corpo esfriar e relaxado do calor deixar o sono fluir; o sono não fluiu; não ia dar certo, mas insisti; por quê? Quem sabe. Mais um copo d’água pra esfriar as entranhas e amenizar o calor; não deu certo; eu esperava isso; mas tentar não custa nada; ou custa? É relativo.
Mais uma olhadinha pra lua: a lua é clara, tem manchas cinza no meio e ao redor dela tem uma auréola; ela fica no meio do céu, que, nessas horas, é bem escuro, cheio de pintas claras, que são as estrelas, e nuvens que às vezes são compridas e gordas, às vezes são pequenas e magras e às vezes nem estão lá; tudo junto fica grande, do tamanho do infinito... Mas se olhar pra cima da pra ver de uma vez só.
Mais um livro folheado pra distrair a cabeça e fazer as pálpebras caírem sobre os olhos; falhou; mas, a essa altura do segundo tempo, já perdi o jogo e a ausência do sono ganhou. Nada disso funcionando, resta deitar no escuro de barriga pra cima e com a nuca no travesseiro dar espaço pras lembranças: deixa vir as memórias da infância, com o barulho dos carros passando na rodovia atrás de casa e que eu gostava de escutar quando acordava de madrugada; deixa vir as lembranças dos fantasmas que eu procurava nos cantos do quarto, no meio da noite, e que me enchiam de medo. Aquele medo era mais gostoso que o medo que eu sinto hoje, que é o de não ter dinheiro pras contas; deixa vir também, e já da adolescência, as lembranças confusas, mas boas: o primeiro beijo; as primeiras angústias; as primeiras grandes amizades.
Depois de tudo isso só não vem quem eu mais queria: o sono; mas, como eu disse, parei de esperar; deixa só o tempo correndo sem contagem: nem relógios, nem TV, nem preocupações com “quanto tempo passou?” ou “quanto tempo resta?”. E no lugar disso tudo, deixa escutar o silêncio, que só dá pra escutar compasso por compasso nestes momentos, quando o sono não vem e não resta nada pra colocar no lugar. Se a chegada do sono encerra o dia, a ausência dele inicia o turno incomum: dá pra pensar e sentir o que poucas vezes ganha atenção... Dentre tantas e tantas coisas que ganham pouca atenção.

Castanha 17/04/2011

Um comentário:

  1. Olhos petrificados na ansiedade do por vir...
    Em tempos de muita luz nos olhos, tempos modernos, pós-modernos, tempos do sem tempo...
    O sono sente a falta do escuro.

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