ROBERTO DEIXA ESSA

24.10.10 Foi Hoje! 4 Comentarios


Dedicado a Sr. Zé


Vindo da universidade com dez conto no bolso, parei no boteco de Luiz Henrique: Quero plantas bar, nome esse em virtude dele vender plantas, jarros, adubos e que aos poucos foram sendo substituídos por garrafas de cana, carnes e sardinhas em latas, cerveja e etc... Eu sempre costumo dizer a ele que o nome do bar deveria ser mudado para: bar-bicha, pelo fato dele usar cavanhaque ou bar da erva.

Ao chegar ao balcão improvisado com umas madeiras sobrepostas com um tecido preto forrado sob jarros remanescentes, garrafas de caldinho, cinzeiros e mini-copos de água ardente, reparei que Pholhas estava tocando no som, e que tinha um coroa conversando com ele do lado de dentro do balcão, estranhei esse fato, paguei os três conto que tava devendo a ele de um fiado, uma cerveja e meia no prego. Vi que o coroa continuava em sua posição totêmica, o seu rosto tinha uma placidez invejável como a que Robert De Niro tem no final do filme – Taxi driver – a cabeleira prateada como uma lua que já pôs o sol pra dormir várias vezes, os braços cruzados sobre a barriga, um homem sem barriga é um homem sem história.

Comecei a conversa de sempre que tenho quando encontro com Henrique, principalmente, quando vou lhe pagar os meus penduras, ele me chama de burguês e eu o chamo de canalha, um papo mimético. E o coroa rindo da nossa conversa, aquela risada despretensiosa, como aquelas que temos quando damos uma buchuda no dominó ou arrastamos alguma grana no bicho. De repente eu comecei a falar dos Pholhas, e o coroa me respondeu que tem tudo deles em sua casa e Luiz dizendo que comprou o CD por dois reais no Centro, a música na era da reprodutibilidade afetiva e barata. Daí o coroa das madeixas de níquel, me falou que ouvia os caras desde sua época de circo. Será que a vida de todo homem tem uma época de circo, como os elefantes adestrados pacíficos e medíocres que apesar disso tem a tromba e seus dias de furor?

Bem, perguntei a ele o que fazia no circo e logo após perguntei-lhe o seu nome, pois é... A curiosidade antecede o formalismo. Ele foi primeiramente formal, se a curiosidade não mata o gato, o tempo tão pouco. Disse-me que se chamava: José Francisco de Oliveira, mas, que todo mundo lhe chamava de Zé, mais um José, só que esse não queria voltar para Minas, mas sim para as lonas, falou que a televisão acabou com o circo e que no passado trabalhar no picadeiro dava até pra tirar um trocado. Indaguei o que ele fazia no circo; ele me disse que fazia de tudo um pouco, já foi palhaço, tirou coelhos da cartola e que continua tirando até hoje e saltou uma risada, mas tinha duas coisas certas que fazia sobre as lonas, uma era o globo da morte e a outra era o cover de Roberto Carlos, daí me caiu os bônus sobre a permanência da cabeleira basta e bem cuidada.

Perguntei quantas motos tinha o globo da morte que ele fazia, disse que eram duas, e que abandonou essa atividade em virtude de um acidente e levantou a calça jeans e me mostrou a enorme cicatriz, creio que essas são as verdadeiras tatuagens da vida, as carpas da sobrevivência. Depois do acidente abandonou de uma vez o globo da morte, mas que continua fazendo cover do Rei até hoje, nesses circos de pequeno porte, diz que em dias de apresentação ainda fica nervoso, borrifa um tom mais escuro através de uma tinta spray temporária nos cabelos, o terno branco somado com a sua herança do acidente que veio junto com a cicatriz, desde então ele puxa a perna direita quando anda.

Por: R. Ribalta

4 comentários:

  1. Tantos Zé's encontramos pela vida,bares e botecos. Interessante que todos são cheios de boas histórias para contar... Escutar com atenção é sempre valioso.

    Boa!

    ResponderExcluir
  2. Grande Zé! Mais um Zé que faz de tudo nessa vida e no final faz a coisa mais dificil: Viver de boa!

    Abraço meu caro Ribalta!

    Castanha

    ResponderExcluir
  3. Eu sempre gostei da Sociologia de Bar.
    Jackson do Pandeiro ja dizia: "vixe! Como tem Zé!!! Zé de baixo, Zéde Riba..."
    Grande Zé Renato!

    ResponderExcluir
  4. Que texto massa! Sr. Ribalta, o senhor fala como escreve. Reconheci esse texto como teu, mesmo antes de saber que o senhor é o 'pai' da criança. Se garantiu muito!

    ResponderExcluir