UM SANTA CRUZ À MOREL

21.5.16 Foi Hoje! 0 Comentarios


Basta, não vou perder o meu tempo e o de vocês a lamentar a escalação de um juiz fraco para o jogo entre o Fluminense e o Santa Cruz. Do que adiantará reverberar o erro do segundo gol do fluminense e do segundo gol do Santinha? Do que adiantará reclamar a falta marcada contra os corais depois dos acréscimos estabelecidos? Reclamaria e esbravejaria caso esses atos fossem a personagem do jogo. Mas não são. A personagem do jogo é a invenção. Explico:

Adolfo Bioy Casares (1914-1999)
A literatura argentina é rica. Mas tudo é uma questão de gosto. Cortázar fora muito experimentalista para o meu feitio; Borges, fora o melhor e maior, embora quem tenha sido objeto da minha extensa admiração seja Bioy Casares. Sempre admirei a sua inventividade. Isso o distingue dos outros, até do Bustos Domecq(?). Dessa inventividade o Santa Cruz fez porta voz nessa noite em Volta Redonda. Explico:

A Invenção de Morel é o principal e mais significativo livro de Casares. Nessa história, em suma, a personagem principal experimenta o fruto de uma invenção: a escolha de um caminho a seguir. A possibilidade de escolha de um amor real ou imaginário. Um caminho a seguir, real ou imaginário. Acaba optando pelo caminho imaginário. E dessa imaginação fez uma nova realidade. Igualmente procedeu o Santa Cruz. Explico:

O tricolor do Arruda imaginou que qualquer pontuação fora de casa é importante. Vitória dentro, ponto fora - esta é a sua máxima. Caso não consiga pontos, jogar bem para que o próximo jogo fora do Recife origine frutos. E não é que deu certo? O Santinha inventou um resultado. Explico:

O Santinha se inventou e reinventou como time durante 90 minutos. Durante alguns momentos a vitória estava garantida; em outros o empate era certeza de vitória; ainda existiam momentos de vaticínio de uma verdade absoluta - teremos sucesso. Explico:

"Futebol" (1936), de Francisco Rebolo Gonsales
Grafitte fora decisivo. Isso que se espera de um atacante matador. Wilian Correia fora um gigante que dominou o meio campo. Cardoso garantia lá atrás. Contudo, em detrimento de atividades individuais, o coletivo sobressaia. E esse coletivo que dominou o Fluminense. Individualmente o Fluminense é melhor que o Santinha, mas não em conjunto. Poderia ter ganhado o jogo, mas assim não foi. E não foi por razões externas ao Fluminense: não tem como escapar da invenção do Santa Cruz. Tal como o imaginário que agora é real, o Santinha que imaginamos ser grande hoje é grande. Impomos e imporemos uma nova realidade. Não mais explico, exclamo:

Avante Corais!


Victor Almeida

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