Um ponto antes do fim

16.2.16 Unknown 0 Comentarios



Queria ter a capacidade de viver sem fazer projetos, planos, sem criar expectativas, sem me incidir sobre o futuro. Queria sinceramente viver ao sabor das circunstâncias sem ser profundamente afetado por elas. Isso, porque, a impossibilidade de controlar minimante a vida em alguns momentos frusta, fatiga, cansa. É claro que essa é a pré-condição para que a vida, vez ou outra, surpreenda - tanto para o mal ou quanto para bem. Mas eu sou uma pessoa de feitio pacato, sereno, tranquilo e corrente a maior parte do tempo, no encardido do cotidiano. Naquelas horas em que viver é um contínuo inglório, fosco, de roupa de dormir, mãos molhadas e barriga na borda da pia, barba mal feita e dinheiro contado para o pão do dia. Nessas horas o necessário é estar onde se quer estar, o máximo de silêncio possível e uma carteira de cigarro ao alcance. Sobressaltos existenciais, em excesso, desmapeiam qualquer sujeito. Sempre há aqueles mais permeáveis ao imprevisto e ao precipitado - talvez aqueles que, de tão distantes da vulnerabilidade, já estejam entediados. Mas eu é que não gosto de caminhar desse jeito, com a vida sempre pondo um ponto antes do fim.

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