Os ratos roeram a roupa do "Rei de Roma"
A megalomania recifense serve apenas para alimentar nosso provincianismo. Nos
arvoramos de símbolos, produções culturais, ritmos musicais, ídolos de ontem e
de hoje, lideranças carismáticas, políticos orgânicos e inorgânicos que
nasceram, ou foram adotados por nós, para insuflar um ego telúrico que é até
bonitinho, mas que não quer dizer nada.
Moramos
em uma paróquia e nada vai nos demover do contrário. Dividimos até a mesma
arquidiocese com Olinda. Nossa elite cabe numa cozinha, ora fazendo Bolo de Rolo, ora fazendo um Souza Leão.
O
último exemplo de nossas vidas paroquiais foi o frisson, sobretudo no rádio, na
tevê e também nas redes sociais – essas menos por serem mais pulverizadas – causado pelos
trajes do treinador do Sport Clube do Recife, Paulo Roberto Falcão.

Ninguém
falou que Falcão nasceu em Santa Catarina, mas morou sempre no Rio Grande Sul,
e com passagens em lugares com clima mais auspicioso do que o nosso. Nenhuma viva’
alma teve o bom senso de relativizar os trajes do treinador em função de sua
vida pregressa. Ou um cristão qualquer, na bairrista crônica esportiva local,
para chamar atenção dos companheiros de estúdio e de emissora pra dizer: minha
gente, vamos falar de futebol!
Ano
passado, quando Falcão chegou à Ilha do Retiro, a impressa local foi a primeira
a minar o trabalho dele. Alegaram que ele não fazia o perfil do Sport. E qual é
o perfil do Sport, então? Ao cabo do Brasileirão, os números do treinador à
frente do Sport só ficaram atrás do campeão Corinthians. Daí alegaram que ele
pegou o time pronto de Eduardo Baptista, tudo bem, está correto. Agora
esqueceram de dizer que Eduardo Baptista teve apenas 8 vitórias em quase 30
rodadas, Falcão teve 7 vitórias em 11 jogos.
À
medida que as vitórias vinham no Brasileirão, Falcão questionado antes até de
começar seu trabalho, começou a ser chamado de gentleman, fidalgo e outros adjetivos que vinham à tona, sobretudo
após as coletivas de impressa.
Agora,
após a segunda rodada do Hexagonal do Título, do Campeonato Pernambucano,
depois da segunda derrota consecutiva do Sport, dessa vez frente ao América-PE, a
mesma impressa começou a questionar o trabalho de Falcão. Começaram a falar que
ele não chega à Páscoa, quem dirá a junho. Pondo em xeque o trabalho do treinador após a segunda rodada.

Nossa
impressa é provinciana, sobretudo a esportiva, e é responsável por alimentar
cada vez mais essa nossa postura paroquial frente ao diferente, ao incomum, ao
cosmopolitismo. O rádio e a tevê ao invés de incentivarem a diferença e o
pluralismo, ficam retroalimentado um bairrismo tacanho.
Parece
que a vinheta: “Pernambuco falando para o mundo” deveria ser alterada para: “Pernambuco
falando para si mesmo”. E se é para falar de si mesmo, na resenha futebolística,
que o assunto seja ao menos futebol, porque a roupa do "Rei de Roma" já está toda manjada do tanto que falam sobre ela.
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Crédito das fotos: Google Imagens
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