O futebol em sua metafísica diz: vai com calma favoritismo

2.2.16 Foi Hoje! 0 Comentarios


por ROSANO FREIRE

À moda antiga, à moda de Nelson Rodrigues, mestre da crônica esportiva, inicio este pequeno texto indicando, de antemão, quem ou quê eu considero ser o personagem principal dos últimos eventos futebolísticos.

E na semana de estreia do "Trio de Ferro" pernambucano no torneio local de futebol, outro não poderia ser senão o tão debatido "favoritismo". Ele é o nosso Hamlet - nossa indecisão e nossa tragédia.

Começo pelo Santa Cruz Futebol Clube. Este, por ser o atual campeão e por ter mantido a base que consagrou uma campanha vitoriosa no campeonato brasileiro da série B, era apontado como o favorito para as primeiras rodadas do estadual. Mas o Terror do Nordeste tem uma dificuldade tremenda em lidar com esse elemento distintivo. Não sabe pô-lo a seu próprio serviço. Embaralham-se junto ao favoritismo, os discursos da "humildade" e do "respeito ao adversário". Uma peculiar confusão que resulta na perda do mais necessário e primordial espírito competitivo. Nesse cenário, a decepção é uma iminência. Foi o que aconteceu no jogo contra o Náutico, que soube vencer o Santa Cruz explorando sua maior vulnerabilidade: a exposição aos contra-ataques. Como faca, a vitória alvirrubra fez cair por terra qualquer favoritismo, qualquer antecipação. De agora em diante - espera-se - mais atenção e mais foco.


O outro caso é o do Sport Clube do Recife. O Leão, nesse quesito, é o avesso da Cobra Coral. Não sabe jogar, pelo menos as competições regionais, sem a "grife" do favorito. Faz parte da dinâmica rubro-negra: usa o discurso da superioridade para mexer com o brio dos adversários. As vezes dá certo; às vezes, ao contrário, dá aos rivais material para provocações inversas. Falível e traiçoeira, como qualquer lógica referente às artes do ludopédio. No caso específico dos acontecimentos anteriores à estreia no campeonato estadual: existiu uma preocupação latente de parte do elenco do Sport em afirmar-se como favorito - refiro-me às declarações de Renê e Maicon. Tudo isso porque, diferentemente do ano passado, a imprensa e a crítica dita especializada não apontavam a equipe rubro-negra como favorita. Como se isso fosse o mesmo que dizer "não é uma equipe forte", "não vai brigar pelo título", e coisas de mesmo gênero. O resultado é que, patinando no seu discurso e à procura de sua identidade, o Leão acabou batido pelos sertanejos no Cornélio de Barros. Pragmático, o Salgueiro jogou o necessário para ganhar.

Como se fosse parte de um script, nos dois casos - Salgueiro e Náutico -, o discurso imediatamente posterior à vitória era quase idêntico: "futebol é onze contra onze" e "se ganha dentro de campo". Um retorno à velha máxima, impávida e incansável: favoritismo não ganha jogo. Ou conforme Victor Almeida, que sentenciou de maneira mais elegante no Facebook: subjetividade não enche barriga.

Larga na frente quem aprender a lição.


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Crédito das fotografias: Google Imagens

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