O futebol em sua metafísica diz: vai com calma favoritismo
por ROSANO FREIRE
À moda antiga, à moda de
Nelson Rodrigues, mestre da crônica esportiva, inicio este pequeno texto indicando,
de antemão, quem ou quê eu considero ser o personagem principal dos últimos
eventos futebolísticos.
E na semana de estreia do
"Trio de Ferro" pernambucano no torneio local de futebol, outro não
poderia ser senão o tão debatido "favoritismo". Ele é o nosso Hamlet
- nossa indecisão e nossa tragédia.
Começo pelo Santa Cruz
Futebol Clube. Este, por ser o atual campeão e por ter mantido a base que
consagrou uma campanha vitoriosa no campeonato brasileiro da série B, era
apontado como o favorito para as primeiras rodadas do estadual. Mas o Terror do
Nordeste tem uma dificuldade tremenda em lidar com esse elemento distintivo.
Não sabe pô-lo a seu próprio serviço. Embaralham-se junto ao favoritismo, os
discursos da "humildade" e do "respeito ao adversário". Uma
peculiar confusão que resulta na perda do mais necessário e primordial espírito
competitivo. Nesse cenário, a decepção é uma iminência. Foi o que aconteceu no
jogo contra o Náutico, que soube vencer o Santa Cruz explorando sua maior
vulnerabilidade: a exposição aos contra-ataques. Como faca, a vitória
alvirrubra fez cair por terra qualquer favoritismo, qualquer antecipação. De
agora em diante - espera-se - mais atenção e mais foco.
O outro caso é o do Sport
Clube do Recife. O Leão, nesse quesito, é o avesso da Cobra Coral. Não sabe
jogar, pelo menos as competições regionais, sem a "grife" do
favorito. Faz parte da dinâmica rubro-negra: usa o discurso da superioridade
para mexer com o brio dos adversários. As vezes dá certo; às vezes, ao
contrário, dá aos rivais material para provocações inversas. Falível e
traiçoeira, como qualquer lógica referente às artes do ludopédio. No caso
específico dos acontecimentos anteriores à estreia no campeonato estadual:
existiu uma preocupação latente de parte do elenco do Sport em afirmar-se como
favorito - refiro-me às declarações de Renê e Maicon. Tudo isso porque, diferentemente
do ano passado, a imprensa e a crítica dita especializada não apontavam a
equipe rubro-negra como favorita. Como se isso fosse o mesmo que dizer
"não é uma equipe forte", "não vai brigar pelo título", e
coisas de mesmo gênero. O resultado é que, patinando no seu discurso e à
procura de sua identidade, o Leão acabou batido pelos sertanejos no Cornélio de
Barros. Pragmático, o Salgueiro jogou o necessário para ganhar.
Como se fosse parte de um
script, nos dois casos - Salgueiro e Náutico -, o discurso imediatamente
posterior à vitória era quase idêntico: "futebol é onze contra onze"
e "se ganha dentro de campo". Um retorno à velha máxima, impávida e
incansável: favoritismo não ganha jogo. Ou conforme Victor Almeida, que
sentenciou de maneira mais elegante no Facebook: subjetividade não enche
barriga.
Larga na frente quem
aprender a lição.
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Crédito das fotografias: Google Imagens
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