Quietação

30.3.15 Unknown 0 Comentarios


Can we work it out?
We scream and shout 'till we work it out

Esta semana abri o guarda-roupa e nele encontrei, muito por acaso, uma peça de roupa antiga. Não era velha, nem nova - era apenas antiga. Não que não coubesse mais em mim - há muito meu corpo fatigado não muda - ela apenas soava antiquada. Era uma peça deslocada, nem cafona nem chique, nem demodé nem certeiramente na moda. Deslocado, através desse objeto quase mágico, na realidade, fui eu: distanciei-me para longe e imergi num daqueles momentos em que os pés pareciam estar firmes e sólidos no chão. Estranha sensação essa, a de estar deslocado, dissociado, desconexo. Olhar para os passos atuais em perspectiva e não exergar coerência e sentido. É como escorregar e cair em queda livre por um lugar onde há muita luz, mas, por isso mesmo, pouco se pode enxergar. Não há fundo, apenas queda, descenso. A angústia é o constante processo, a ausência de fim. Não teria eu direito a um termo nas minhas próprias divagações? As interrogações pululam no ar e a queda, incessante, sem oferecer apoio onde eu possa me agarrar, agrava a angústia. Que vira desespero e desemboca em grito. Um grito mudo, ou, por assim dizer, inaudível. Um frenezi silencioso que entra em combustão e, estranhamente, alcança algo que podemos chamar, talvez, de calmaria. Ou dormência.

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