Dureza
O cabelo ainda molhado. A pele ainda carregando o cheiro de sabão de coco. Óculos
escuros na cara. Calça jeans preta com
cinza. Cueca nova e apertada. O pau à esquerda. Camisa polo azul. Tênis running nos pés. Meias soquete. Mochila
nas costas. A papelada do escritório dentro. Smartphone no bolso direito da
calça. Fone nos ouvidos. “... Samba direitinho / pra cima e pra baixo virando
os olhinhos...”. Direto nos tímpanos.
Ônibus
lotado.
Uma
senhora educada pede para segurar minha mochila, que de pronto lhe entrego e
sinto o alívio imediato por deixar o meu trabalho momentaneamente no seu colo.
Seguro
nas hastes do coletivo que traçam uma reta perpendicular entre as duas
poltronas do corredor onde se encontra a diligente senhora.
O
conforto propiciado por ter tirado a mochila das costas é interrompido por um
cabuloso filete de suor que começa a deslizar pela calha de minha coluna
vertebral.
Uma
chuvinha fora de hora começa a cair sobre o coletivo e ato contínuo as janelas
são fechadas, pois os passageiros não admitem a ideia da chuva embotar seus
perfumes.
De
chofre.
Uma “felina”
entra no coletivo com um vestidinho de tigresa e as pernas trigueiras, cheia de
adjetivos.
Suas
ancas eram tão anchas que ela rodou a catraca de lado e por um árdil seu vestido
foi levemente suspenso, o que fez surgir da perna direita a tatoo de uma ascendente roseira.
Súbito.
Um
volume começou a latejar do lado esquerdo de minha cueca.
A
vida brota em ocasiões inimagináveis e o volume queria alcançar o ápice daquela
roseira, só que ao invés do livre despertar encontrou uma resistente teia
“espinhosa” de tecido.
O
que fazer quando o seu pau é de esquerda?
Canhoto
e sem jeito, como coração que lhe bombeia sangue para todas formas belas e para
todas as flores ávidas por um toque para desabrocharem umidamente.
Que
dureza.
0 comentários: