O amor vai nos separar novamente ou há uma luz que nunca se apaga?
Se oriente, rapaz
Pela constelação do Cruzeiro do Sul [...]
Determine, rapaz
Onde vai ser seu curso de pós-graduação
Sempre
me perguntei se é melhor amar ou ser amada? Em toda minha vida optei pela
segunda opção. Acredito que foi uma escolha inconsciente ou talvez fruto de
minha personalidade pusilânime, falta-me coragem para agarrar aquilo que desejo
e que talvez por isso venha daí a minha melancolia. Esquivar-se dos desejos é
dar vazão à melancolia.
Porque
venho preocupando-me com estas fumaças? Acho que sei. Há pouco conversei em uma
noite pelo chat do Facebook com uma paixão que tive na adolescência e fiquei
bastante tocada em saber que ele acabou um relacionamento de dez anos. A conversa
começou despretensiosa. Como vai. Estudos. Trabalho. Estas coisas. Nestes anos a
nossa amizade foi como em um filme do E. Rohmer – sempre na iminência do suor
dos corpos, mas deixar pra lá, cansa menos.
Mas,
toda à noite antes de seu armageddon, o sono; esconde o seu apocalipse, a revelação.
Na madrugada os selos são revelados.
E
foi na vigília onde a revelação aconteceu.
Lá
pelas tantas da madrugada eu me revelei para ele. Talvez instigada pelas
conveniências e salvo-condutos da comunicação indireta.
Às
vezes à madrugada instiga-me coisas que as hesitações do dia ofuscam, às luzes
do dia cegam mais do que iluminam, porém às da noite...
A
madrugada não permite hesitações.
Falei
que na época eu nutria por ele um sentimento muito especial e ainda hoje lembro
com carinho às noites em que sentávamos em frente à minha casa tocando violão.
Lembro-me das luzes de mercúrio irradiando no bojo do violão. Talvez o
instrumento síntese de nossa relação, sensual, mas que só permite beleza após o
toque.
E
ele disse-me que voltava pra casa só, todas às noites após conversar comigo. E
que ele era o amor encarnado naquela época, mas faltou-lhe coragem, também,
para se declarar. Falou das nossas veleidades e que somos sujeitos voltados
para água – “dispersos e que morre todos os dias em busca de formas e de
recipientes para nos moldarmos”. O papo foi indo do exotérico para o esotérico.
Falou-me
também que quando me deixava na porta de casa, nas noites de regresso solitário
para a sua casa, guiado pelo lindo Cruzeiro do Sul do nosso bairro, dentro da
noite azulada, sentia um sentimento que misturava à exultação da paixão e a
apatia que já previa que nossos destinos e corpos jamais se tornariam íntimos.
Pude
sentir do outro lado da fibra ótica a apreensão dele ao dizer que, “talvez
ainda hoje, de todas às mulheres que ele se relacionou, foi o meu sorriso
arquetípico que o seduziu primeiro”. Fiquei assustada e ao mesmo tempo
lisonjeada, que cantada. Ele sempre foi um bom sedutor sem o saber, acho que
sua baixo autoestima e seu espírito melancólico não lhe permite ver o quanto é
sedutor e charmoso.
Após
as revelações compartilhadas e das trocas de seda, ele me disse que sempre
daríamos certos como amigos por que nunca nos “relacionamos”. Cheguei a sentir
a sua dor ao sentenciar aquilo e pude deduzir alguma coisa do que ele estava
sentido no momento, o luto após uma década de relacionamento e sua subsequente
melancolia.
Às
revelações cansam assim como a comunicação intermediada por uma técnica, a
internet. E resolvemos nos despedir. Ele me enviou um link do Youtube[1]
com a canção imortal do Joy Division e, eu para não ficar por menos, enviei outro link do
Youtube[2]
com a canção símbolo do outro lado do pós-punk de Manchester. E assim nossa
conversa se foi embalada por – “o amor vai nos separar novamente” ou “há uma
luz que nunca se apaga?”.
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