O amor vai nos separar novamente ou há uma luz que nunca se apaga?

15.2.14 Mademoiselle Fifi 0 Comentarios




Se oriente, rapaz
Pela constelação do Cruzeiro do Sul [...]
Determine, rapaz
Onde vai ser seu curso de pós-graduação

Sempre me perguntei se é melhor amar ou ser amada? Em toda minha vida optei pela segunda opção. Acredito que foi uma escolha inconsciente ou talvez fruto de minha personalidade pusilânime, falta-me coragem para agarrar aquilo que desejo e que talvez por isso venha daí a minha melancolia. Esquivar-se dos desejos é dar vazão à melancolia.

Porque venho preocupando-me com estas fumaças? Acho que sei. Há pouco conversei em uma noite pelo chat do Facebook com uma paixão que tive na adolescência e fiquei bastante tocada em saber que ele acabou um relacionamento de dez anos. A conversa começou despretensiosa. Como vai. Estudos. Trabalho. Estas coisas. Nestes anos a nossa amizade foi como em um filme do E. Rohmer – sempre na iminência do suor dos corpos, mas deixar pra lá, cansa menos.

Mas, toda à noite antes de seu armageddon, o sono; esconde o seu apocalipse, a revelação. Na madrugada os selos são revelados.

E foi na vigília onde a revelação aconteceu.

Lá pelas tantas da madrugada eu me revelei para ele. Talvez instigada pelas conveniências e salvo-condutos da comunicação indireta.

Às vezes à madrugada instiga-me coisas que as hesitações do dia ofuscam, às luzes do dia cegam mais do que iluminam, porém às da noite...

A madrugada não permite hesitações.

Falei que na época eu nutria por ele um sentimento muito especial e ainda hoje lembro com carinho às noites em que sentávamos em frente à minha casa tocando violão. Lembro-me das luzes de mercúrio irradiando no bojo do violão. Talvez o instrumento síntese de nossa relação, sensual, mas que só permite beleza após o toque.

E ele disse-me que voltava pra casa só, todas às noites após conversar comigo. E que ele era o amor encarnado naquela época, mas faltou-lhe coragem, também, para se declarar. Falou das nossas veleidades e que somos sujeitos voltados para água – “dispersos e que morre todos os dias em busca de formas e de recipientes para nos moldarmos”. O papo foi indo do exotérico para o esotérico.

Falou-me também que quando me deixava na porta de casa, nas noites de regresso solitário para a sua casa, guiado pelo lindo Cruzeiro do Sul do nosso bairro, dentro da noite azulada, sentia um sentimento que misturava à exultação da paixão e a apatia que já previa que nossos destinos e corpos jamais se tornariam íntimos.

Pude sentir do outro lado da fibra ótica a apreensão dele ao dizer que, “talvez ainda hoje, de todas às mulheres que ele se relacionou, foi o meu sorriso arquetípico que o seduziu primeiro”. Fiquei assustada e ao mesmo tempo lisonjeada, que cantada. Ele sempre foi um bom sedutor sem o saber, acho que sua baixo autoestima e seu espírito melancólico não lhe permite ver o quanto é sedutor e charmoso.

Após as revelações compartilhadas e das trocas de seda, ele me disse que sempre daríamos certos como amigos por que nunca nos “relacionamos”. Cheguei a sentir a sua dor ao sentenciar aquilo e pude deduzir alguma coisa do que ele estava sentido no momento, o luto após uma década de relacionamento e sua subsequente melancolia.

Às revelações cansam assim como a comunicação intermediada por uma técnica, a internet. E resolvemos nos despedir. Ele me enviou um link do Youtube[1] com a canção imortal do Joy Division e, eu para não ficar por menos, enviei outro link do Youtube[2] com a canção símbolo do outro lado do pós-punk de Manchester. E assim nossa conversa se foi embalada por – “o amor vai nos separar novamente” ou “há uma luz que nunca se apaga?”.


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