Família Grão de Trigo

12.2.13 Calil Madrazzo 1 Comentarios



O menino via tv freneticamente, o pai alcoólatra acabara de chegar e nem um cheiro nele deixou ao não ser o de cachaça. Andava cambaleando de um lado para o outro como quem quisesse medir a área da casa em passos. A mãe chorava inconsolada e trancada em seu quarto, um choro sem remédios, sem correções.

O menino já não aguentava mais ver tv, ler livros, jogar vídeo games e consolar a mãe. O pai já não aguentava mais beber, ficar bêbado, bater na mulher e no menino e ir trabalhar. A mãe já não aguentava mais o chorar e a dor que acalentava suas noites sem sono.

A traição começava na sexta e terminava no domingo à noite, sempre regada por Baco, Dionísio e Satanás. O sofrimento começava desde a ilusão do casamento, do nascimento dos filhos e da vida conjugal. O tédio continuava na tv, nos livros e nas amizades.

Enquanto o menino fazia de conta que estava tudo bem, tudo certo, a mãe fazia de conta que tudo ia mal. Já o pai, este apenas fazia. Submissão, despreocupação, irritação.

- “Sua mãe devia tê-lo jogado fora e ficado com a cegonha!!”

O menino encenava uma cara de quem se comovia com as frases prontas que o pai lhe dizia e depois retornava a seus afazeres, refletindo com São João: “é foda, se um grão de trigo caído em solo fértil morrer, produzirá muitos frutos, mas, se caída em terra e não morrer...” 

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