Família Grão de Trigo
O menino via tv freneticamente, o pai alcoólatra acabara de chegar e nem um cheiro nele deixou ao não ser o de cachaça. Andava cambaleando de um lado para o outro como quem quisesse medir a área da casa em passos. A mãe chorava inconsolada e trancada em seu quarto, um choro sem remédios, sem correções.
O menino já não aguentava mais ver tv, ler livros, jogar vídeo games e consolar a mãe. O pai já não aguentava mais beber, ficar bêbado, bater na mulher e no menino e ir trabalhar. A mãe já não aguentava mais o chorar e a dor que acalentava suas noites sem sono.
A traição começava na sexta e terminava no domingo à noite, sempre regada por Baco, Dionísio e Satanás. O sofrimento começava desde a ilusão do casamento, do nascimento dos filhos e da vida conjugal. O tédio continuava na tv, nos livros e nas amizades.
Enquanto o menino fazia de conta que estava tudo bem, tudo certo, a mãe fazia de conta que tudo ia mal. Já o pai, este apenas fazia. Submissão, despreocupação, irritação.
- “Sua mãe devia tê-lo jogado fora e ficado com a cegonha!!”
O menino encenava uma cara de quem se comovia com as frases prontas que o pai lhe dizia e depois retornava a seus afazeres, refletindo com São João: “é foda, se um grão de trigo caído em solo fértil morrer, produzirá muitos frutos, mas, se caída em terra e não morrer...”
Puta que pariu, velho!
ResponderExcluirMuito foda!