EXPERIMENTOS CRONÍSTICOS [PARTE 3]. O PERSONAGEM.

6.1.12 Foi Hoje! 1 Comentarios


As personagens têm algo de misterioso, um lugar só delas no enredo, onde nenhuma razão toma conta, são os personagens que têm toda a razão.
(PássaroBege)




“Bora menino! Ligeiro, ligeiro como quem rouba!”. Assim ordenou Seu Manoel, pessoa importante da cidade de Canindé, ao seu serviçal mirim, Douglas Silva, para uma tarefa misteriosa e espetacular.
Todos ao fim foram reunidos, o Padeiro, o Dono da Mercearia, Pirrita e seu cachorro Clóvis, Paulo Sérgio e o Escrivão. Mas o Padeiro e o Dono da Mercearia se foram rapadinho, porque demorava a começar a reunião, e não podia ficar Canindé sem bolacha e pão.

Como somos impacientes com as novidades que furam feito bala, a rotina da gente! Exigimos de imediato, explicações, razões para o que está ocorrendo naquele exato instante. Deve de ser a malvada da curiosidade. Prossigamos.

Pirrita, de gênio inquieto e astuto, na primeira oportunidade em que seu Manoel se ausentou do recinto - um tanto úmido e mal cheiroso - abriu a caixa que havia sido colocada em cima da mesa de mármore. Clóvis ao ver a atitude de sua dona murchou suas orelhas, e Pirrita pôs a tampa de volta na caixa. Paulo Sérgio sorriu.
Seu Manoel, então, voltou à tão esperada reunião. Reunião que havia há muito planejado, e que só agora conseguia ver desabrochar diante de seus olhos. Dirigiu-se ao centro daquela roda viva e bradou:
“Hoje, enfim, consegui o maior dos meus desejos, reuní nessa sala alguns daqueles que durante anos se fizeram por notar nessa cidade, a cidade dos artesãos. Um lugar, onde tudo acontece, mas nada e nem ninguém precisa explicar-se. Guardem seus medos e anseios, não acontecerá nada de novo, aqui, nesta noite. Não tentem entender a criação de um personagem, pelos olhos do criador, essa cena, por exemplo, senhores, não fui eu quem a montei, não fui eu quem a montei, não fui eu quem a montei!!!”.

[...] [trecho suprimido dooriginal]

“Douglassilva! Douglas silva! tire todos esses vermes da sala, todos eles! E ordene ao mais cruel de todos, o Senhor Escrivão, que desapareça, que suma! Proíba-o de divulgar qualquer linha deste rascunho que ele mesmo produziu, por minha ordem, e queime esta caixa junto com seu podre conteúdo”.

Douglas Silva ficou calado e obedeceu as ordens de Seu Manoel.
Douglas Silva proibiu que o Escrivão levasse as anotações que havia feito das conversas e de suas observações de todo aquele ritual inusitado, ocorrido em três de junho de 1996, na casa de Seu Manoel, na pequena cidade de Canindé.
Em seguida, ateou fogo na caixa.


Por: Pássaro Bege


Um comentário:

  1. "Não tentem entender a criação de um personagem, pelos olhos do criador"... nem confundam criador com criatura. O louco na história era o dr. Victor Frankenstein, não o monstro, esse era vítima.

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