Breves considerações sobre Literatura e Redes Sociais

23.9.12 Joarez 2 Comentarios


                                                                                       "Texto de título pomposo, mas de alcance ordinário" (MESMO, Eu)

Tente agora, ou daqui a alguma tempo, olhar o seu próprio perfil no facebook, a rede social do momento. Uma tarefa tão trivial como se olhar no espelho antes de sair casa, mas que passa tão desapercebida como a mesma. Certo, depois de redobrar a atenção, sigamos. Pergunta-se: será que você é reduzido (a) àquelas informações furtivas de caráter tão superficiais?; será que toda profundidade de sua personalidade cabe numa rede social que, no máximo, quer saber no que você está pensando agora?

Certamente, não. Pode-se dizer que o facebook é um espelho, não daqueles que alemejam ser fiéis, mas daqueles outros que deformam e comunicam apenas uma caricatura. Não esqueçamos que o facebook é uma invenção de um jovem socialmente castrado segundanista de Havard. Então, tudo aquilo que o fêicebuque "pede" de você é: no que você está pensando?; com quem com você estava?; aonde estava?; tem foto?!, vamos, poste uma foto!

Eis o que quero dizer (em termos sintéticos): o fêicebuque estabelece um tipo de interação supericial, rasa, aparente, falsa, leviana. Daí que nos pegamos, muitas vezes, em situações grotescas, como, por exemplo, na ocasião de nosso próprio aniversário, quando uma pessoa poucas vezes vista, e há muito não vista, posta na sua "linha do tempo": fulano, TUDO de bom pra vc, saúde, sucesso e felicidade! ABÇ FOOORTE! Nossa, um calor e energia que nossos três encontros rápidos e desinteressantes não deixaram transparecer; ou como vemos em páginas de pessoas que já morreram: amigx, que você se de bem neste momento. fica na PAZ! Xêro! Na certa, aguarda resposta.

E a literatura, que tem a incrível capacidade de encantar, não apenas, de conectar, digo, de interagir virtualmente, acaba sendo mutilada, e virando, não mais o encadeamento pensado de palavras com a virtude de seduzir e maravilhar, mas uma postagem - uma simples atualização de status. Disso se segue que a interação com ela vai se dar no mesmo nível. Estaremos recortando Clarice Lispector para postar, compartilhar e curtir irrefletidamente. As palavras de um poema de Drummond são mais algumas na gritaria silenciosa que é a sua timeline: curtiu, clicou na barra de rolagens, opa, já era.

Na certa tu, raro(a) leitor(a), a esta altura, já estás me colocando na vala dos elitistas culturais, que acham que a literatura é uma coisa sagrada, intocada, e etc, etc... Mas, não, sinto informar que não. Muito pelo contrário: sou a favor da literatura no campo da internet por considerá-la o espaço mais fértil para crítica. Isto aqui é apenas um esforço, e um esboço, na direção de refletir sobre como as ditas novas mídias se relacionam com a literatura - e com nós mesmos, por que não?

Sendo assim, acrítica e irrefletida, caricatural e mutilada, a relação que a grande rede social da vez funda conosco, estaremos, querendo ou não, sendo vítimas de seus desdobramentos bizarros, como a história da menina que postava página de Caio Fernando Abreu no fêicebuque e não sabia que ele tinha morrido. Será essa a última instância, o ponto culminante, de nossos desejos?

Aguardemos as posteriores redes sociais, digo, os capítulos subsequentes.

2 comentários:

  1. O alcance do texto pode ser ordinário, mas, em tempos de extraordinário, onde tudo deve virar um fato histriônico, com fotos, curtidas e etc... Ser ordinário é ser literário, não basta apenas as similitudes dos dois adjetivos paroxítonos, em tempos de Raskolnikov e J. Sorrel, dois seres que se consideravam extraordinários, aquele querendo ser César e este Napoleão, um Holden ou Belmiro fazem uma falta... E você Camarada faz parte da estirpe destes dois últimos.

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