O VAZIO DA IMPOTÊNCIA.
Dedicado à Téo Luiz
Escreveria se quisesse grandes tratados metafísicos, equações lógicas de minhas observações objetivas sobre o mundo, enfadonhos e prolixos ensaios. Mas no amago, o que me interessa são as grandes coisas pequenas. Descobri esse forte desejo na noite que passou, entre as mesmas coisas que faço e venho fazendo, no esforço diário de distrair essa pesada existência e trazer leveza para um certa parte cinza de meu espirito.
Me apresento assim, claramente dizendo que meus futuros escritos serão uma mescla entre confusão, delírios e paixões, paixões pelas grandes coisas pequenas, aquelas que passam desapercebidas, os olhares, os cheiros, os suspiros de cansaço, a música dos ventos, o silêncio,o vazio. Desafiaria alguém a me dizer qual o tamanho do vazio! Pois ele é enorme, ao mesmo tempo em que cabe numa caixinha de fósforos.
[…]
Era noite e estávamos meu amigo e eu no bar. Ao trazer a conta, o garçom que nos antedera, tão gentil e amavelmente, despediu-se de nós com um sorriso meio amarelado. Não sabíamos, mas tinha sido demitido segundos atrás, por se recusar a lavar o banheiro do bar depois de seu expediente. Já iam duas e tantas da madrugada, quando seu colega desabafou o ocorrido: “Mas rapazes, vejam vocês! Um menino tão bom, acabou de ser demitido por se recusar a lavar o banheiro, que absurdo...”
Desviando meu olhar durante a indignada narrativa do colega do garçom, pude observar o dono do bar, sozinho, sentado em uma mesa oposta a minha, com dezenas de papeizinhos, uma calculadora e uma caneta.
Veio o vento e levou um daqueles papeizinhos pelos ares, num bailar suave e preciso, caindo por fim sobre uma poça d'água, iluminada pelo poste da rua General Coisas Pequenas. Caminhei até a poça e lá recolhi àquele papel em minhas mãos, e em seguida o devolvi ao Dono do Bar, que com um sorriso verde musgo recebeu minha gentileza sarcástica, sem perceber o que eu realmente pensava “daquilo” sob um nojento bigode.
Antes de ir pra casa fui ao banheiro do bar e e por uma espécie de vingança pelo ocorrido, urinei em todas as paredes e joguei quase um rolo inteiro de papel higiênico na latrina. Derrubei o sabão liquido pelo ralo e pra finalizar colei alguns papeis higiênicos usados, na parte de traz da porta.
Depois de tudo isso, ao chegar em casa, me tomou de assalto uma enorme sensação de vazio e impotência. Peguei um romance tentei ler e nada, liguei a TV e nada, não saiam acordes de minha imaginação, tomei um banho, me masturbei e nada … Meu telefone tocou! Era uma ex-namorada, bêbada, dizendo que ainda me amava. Nem aquela declaração preenchia o vazio que eu sentia, na verdade o que me preenchia, era o vazio. Fui ao banheiro oinduzi o vômito na esperança de expelir o vazio de dentro de mim. Vomitei durante dois minutos, vomitei todo o tira-gosto que havia consumido minutos atrás no bar, vomitei meu almoço, vomitei meu desejum... e o vazio continuava lá. Coloquei minhas mão por dentro de minha garganta e me virei pelo avesso... O que os meus olhos pudiam enxergar!?! Nada, só escuridão e silêncio. O silêncio das coisa grandiosamente pequenas!
Por isso decidi... Daqui por diante, só escreverei poesias.
Por parecerem hostis à classificações me atraem de uma maneira orgasmática, o puro desejo da liberdade.
Sei, que essa minha ideia bate de frente as estantes e arquivos que organizam ora por temas, ora por vaidades, as poesias. A poesia pra mim está no fluxo, fluxo é água, é vento, mas é também suor deslisando sobre o corpo.
Só não me tomem por filósofo, isso me entristeceria enormemente! Mas por poeta, tomem-me sim, sempre.
Mas saibam e eu também sei, que o desejo por si só, não é garantia de ser. Eu vivo a poesia, portanto, escutem de uma vez por todas: “eu não faço poesia, a poesia é que me foi feita”. Não quero dizer com isso, que a mesma me venha como que dos céus, que caia em meu colo!
O que recuso! É o permanecer inerte das estantes, não faço poesias, não devo estar nelas, a poesia não deve estar lá! Deve estar ao alcance das mãos, da língua, dos olhos, dos ouvidos.
Ninguém faz poesia, repito, ela é fluxo, ela é o “não ser”.
Escrever poesia é tornar-se poesia.
Por: Pássaro Bege
E quem há de duvidar da poesia de um pássaro?
ResponderExcluirMeu chapa!!! Muito massa!!! Em três tempo BAR/VÔMITO/APRESENTAÇÃO PESSOAL você passa, passa, passa e...
ResponderExcluirMassa mesmo.