Causos 7: O vendedor de Chicletes

22.8.10 Foi Hoje! 0 Comentarios


Ele surgiu de repente espalhando sua propaganda em alto e bom som chamando atenção de todos: “Chegou o melhor produto do momento, o novo chiclete com vários sabores: tem sabor menta pura, sabor menta com pêssego, tem o sabor que arde, e a cartelinha com doze unidades custa apenas cinquenta centavos; é o melhor! Você leva pra casa e se você tiver doze filhos lhe esperando você da um chiclete pra cada um; é melhor do que dar dinheiro, pois, se você pegar esse dinheiro e dividir pra doze crianças não da nem cinco centavos pra cada uma”. O vendedor era bom de conversa e a propaganda saía dos seus lábios num tom bem humorado que chamava atenção de todos dentro do vagão do metrô. A cada instante ele olhava de um lado e do outro pra não ser pego em flagrante por um guarda – é proibido negociar dentro dos vagões.
Os passageiros iam pedindo chiclete de um lado e do outro e ele não conseguia dar conta e ao mesmo tempo conseguia e assim a mercadoria ia sendo distribuída e as pessoas iam mascando e por aí ia... Os passageiros, que a esta altura também eram consumidores, esticavam as mãos cheias de moedas contadas aqui e ali e pediam uma ou duas ou três cartelas de chiclete ao mesmo tempo em que solidarizavam-se com a vigília constante do vendedor e esticavam seus pescoços na intenção de avisar caso aparecesse um guarda metido na multidão de cabeças que entrava e saia do vagão entre uma estação e outra e tudo isso acontecendo ao mesmo tempo. De vez em quando alguém dizia com boa intenção ou em tom de pilhéria sem maldade: “cuidado com o guarda”. Mas o guarda não chegou.
Esta estripulia durou dez ou doze minutos e de repente o vendedor sumiu. Isso mesmo, amigo leitor, ele sumiu. Deve ter escapulido pelo fluxo de gente entrando e saindo do vagão; uma saída tão inesperada quanto à chegada. Levou com ele a agitação que tinha trazido deixando no lugar a normalidade monótona de antes.

Castanha 21 / 08 / 2010

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