O chefe

22.11.08 Foi Hoje! 1 Comentarios


Gostei do sujeito no primeiro momento. Inteligente, simpático, divertido, era o carisma em pessoa.
- Nem parece que é o chefe, pensei, que bom trabalhar com um sujeito assim.
Fez um comentário muito interessante. Disse que esse negócio de trabalhar todo dia estava errado:
- Como é que nós, seres humanos, que estamos no topo da cadeia alimentar, trabalhamos todo dia? Nós temos que fazer o contrário, trabalhar dois dias e folgar cinco.
Pensei que tinha um fundo de razão. Se o gato aqui de casa, que segundo a ciência pertence a uma categoria menos desenvolvida que a nossa, pode passar a vida inteira farreando à noite fora de casa, dormindo de dia para recuperar as energias e não tendo nenhum trabalho para se alimentar a não ser incomodar seus donos com um miado impertinente, porque nós que estamos no topo, e sonhamos com a vida mansa dos gatos, não conseguimos fazer igual?
Sai da reunião muito empolgado com o novo chefe. Dias depois precisei falar com o chefe numa sexta feira de manhã. Liguei para a sede e me disseram que o chefe não trabalhava nas sextas feiras. Pensei que estava certo chefe é chefe! E logo ele um chefe tão carismático tinha direito de uma folga a mais. Passados mais alguns dias liguei para a sede numa segunda feira de manhã e me disseram que o chefe só chegava lá todos os dias a partir das dez horas. Pensei que estaria resolvendo assuntos externos. Na reunião seguinte ele falou que chegava tarde para evitar o transito e cuidar do jardim de sua casa. Tudo bem chefe é chefe! Dias depois liguei para a sede numa quarta feira a tarde e me disseram que o chefe largava do trabalho todos os dias às treze horas e trinta minutos. Achei-lo um pouco folgado.
No quarto ou quinto mês de trabalho estávamos super-atrasados em relação às necessidades do projeto por culpa do chefe e de sua filosofia do exercício superior da preguiça. Ainda por cima empurrou a responsabilidade para minha equipe.
Acabado o trabalho levei cinco meses para receber os atrasados. Minhas contas atrasaram, me irritei ao máximo e perdi credito na praça. Durante esses meses não o encontrava na cede em dia nenhum em horário nenhum e ninguém sabia dele. Tinha vontade de esganá-lo. Quando finalmente consegui encontra-lo para receber o cheque que restava ele me olhou com um sorriso animado e disse:
- Andei um tanto ocupado, entende?
Franzi o coro da testa olhei para ele e pensei: Chefe! Chefe!...

Castanha, 24/10/2008.

Um comentário:

  1. Elton, meu amigo, você está muito bem. Muito bom esse texto!!

    abração

    Victor

    ResponderExcluir