Eu e você naquela suite em G maior de Bach
Empoleirei-me
no cangote dela. Fiquei ali roçando minha barba na parte direita do seu leitoso
pescoço. Com a leve fricção do meu pelo em sua pele, esta ganhou contornos
levemente avermelhados.
Em seguida,
ofeguei meu hálito na parte posterior de sua orelha direita e com leves toques
da ponta de minha língua, inicie umas singelas lambidinhas nas interseções da
orelha com a nuca – aliviando a suave vermelhidão daquela superfície.
Seus poros
dilatavam à medida em que continuava esse meu exercício musical. Seus pelos
eriçavam em contato com o hálito de minha úmida língua naquela região onde o
sol não bate, e o cabelo sonega a paisagem aos olhos ávidos por formas belas.
Neste
instante, sentados, alinhei suas costas ao meu tronco. Fiquei ereto e enquanto
minha cabeça projetava-se sobre o seu ombro direito, o seu cabelo caía
placidamente sobre o meu ombro esquerdo. Daquele emaranhado castanho de fios,
brotavam odores de sândalo e canela que ungiram minha pele, irrompendo numa
inevitável ereção.
Sentindo um
volume crescer na parte superior do seu cóccix, ela abriu as pernas,
paulatinamente, como se ambas fossem as duas alças de um torneado compasso em
busca dos noventa graus. Com o movimento, seu vestido subiu e com ele as pernas
sobressaíram à mostra – branquíssimas em uma composição brilhante e arredondada
como a estrutura de uma bolha de sabão.
Lá de cima,
pude ver que seus pés delgados levantaram da ponta dos dedos até o calcanhar
como se estivesse calçando um par de saltos imaginário.
Súbito.
Saquei
minha mão direita, como se fosse um arco, e comecei a subir pela parte interna
da coxa direita até chegar na calcinha. O tecido de algodão molhado. Deslizei
minha mão, delicadamente, por fora para sentir toda a vibração. Após, sorrateiramente,
adentrei a fenda rugosa e pude sentir todo o seu corpo estalar e meu queixo que
estava sobre seu ombro direito subia e descia na melodia de sua ofegante
respiração. Por dentro da calcinha, meu arco fazia leves movimentos circulares
um pouco abaixo da junção entre seus grandes lábios.
Indo no
compasso do seu corpo e de sua respiração, aprumei as pontinhas dos meus dedos
e segui no arranjo da harmonia que vinha executando com o meu arco. Em
movimentos concêntricos, no mesmo ritmo da harmonia, fiz sua música virar
perfume e espalhar-se por todo o recinto.
É isso, se
a música é um perfume; os corpos são os melômanos destiladores.
------------------------
Fotografia_ Le Violon d'Ingres (Ingres's
Violin)_Man Ray_Paris, 1924.
Aconselho a
leitura deste texto ouvindo Mischa Misky tocando J. S. Bach.
Disponível
em: <https://www.youtube.com/watch?v=mGQLXRTl3Z0&spfreload=1>
Acesso em:
03 de maio de 2015.
0 comentários: