A primeira crônica

4.4.09 Foi Hoje! 2 Comentarios


Olá camarada, já faz alguns dias que não conversamos; ou a algumas contagens de 24 horas. Existem mil formas de contar e perceber o tempo. Em nosso ultimo encontro decidimos escrever crônicas. Pensei no que você me falou “quando estiver sentindo escreva”. Pois bem, escrevo.
Arrumei meu quarto, quase por ultimo revirei umas fotos velhas. Tive vontade de rasgá-las. Rasguei. Senti-me bem e mal por isso. Estava rasgando algo que servia para me lembrar de bons momentos.
As fotos que rasguei congelavam rostos e situações de forma que eu considero esteticamente ruim (não gostaria de escrever aqui: feias ou ridículas). As pessoas fotografadas não eram fotogênicas, isso fazia as memórias palpáveis parecerem ruins apesar de em minha cabeça saber que eram memórias boas. Rasguei por não mostrarem o que eu queria ver; confesso, sou mais fútil do que me deixo mostrar. Por isso me senti mal, por apagar memórias palpáveis de momentos tão divertidos. E por quê? Pura futilidade.
Por outro lado senti-me bem, porque estas fotos traziam, também, lembranças de momentos que senti confusos. Não o momento em si, mas, o todo: as semanas, dias e horas que envolveram o instante fotografado.
O que são as lembranças, camarada? Talvez eu esteja errado, mas acho que as lembranças ajudam-nos entre outras coisas a contar o tempo. Exemplo? Consultar as memórias de tudo que vivemos e nos tornamos desde o primário até a mesa do bar, nos da uma idéia de como o tempo passou. Desta forma camarada, o tempo não está só nos relógios, mas, principalmente, nas lembranças e na sensibilidade com que as consultamos. As memórias servem de elo entre o que fomos e como nos transformamos e sermos agora. Eis outro motivo que me levou a rasgá-las e joga-las no lixo: as “fotos / memórias” serviam de portal entre o “hoje” e um “recorte passado” da minha vida que eu não quero ver repetir. Quero continuar quebrando as portas que me levam para o passado que não me agradou, mesmo sabendo que esta porta vai volta à tona num ou noutro momento.
Gostaria de dizer que este desabafo me tornou menos fútil, mas isto não aconteceu. E se eu lhe disser que me sinto totalmente ruim por não melhorar, estarei mentindo. Também não me tornei menos antipático em relação às memórias palpáveis que não gosto e em relação as “portas” que levam para o passado. 
Parou! Não vou mais explorar minhas lembranças, pois elas podem me fazer pensar demais em mim, no que eu era e no que eu sou, e eu não sei se quero me conhecer tanto. Tentar conhecer-se perfeitamente pode gerar um sentimento pretensioso e falso de que sabemos tudo sobre nós. Prefiro deixar a vida saciar aos poucos minha curiosidade de conhecer a alma, até porque não há como conhecê-la totalmente, esta só cessa de se transformar quando cessamos de respirar. No final acho que gosto das incertezas. Mas já está bom! Não digo mais nada, nem que sim nem que não. Não que fique o dito pelo não dito, e sim porque eu simplesmente não quero dizer.
Abraço camarada.

Castanha 04 / 09 / 2007


2 comentários:

  1. felixberto carvalho05/04/2009, 15:20

    Ainda guardo no braço as fotos que rasguei, também acho que me torno menos fútil, recriando lembranças, e contruindo novas emoções.

    Felixberto Carvalho.

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  2. tempo rei, transformai as velhas formas do viver

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